Por que algumas vacinas precisam de reforço e outras não?

A duração da proteção vai depender de como a vacina é feita. O mais importante é estar sempre com as doses em dia.

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Publicado em: 17 de agosto de 2021

Revisado em: 27 de janeiro de 2022

A duração da proteção vai depender de como a vacina é feita. O mais importante é estar sempre com as doses em dia.

 

O assunto “vacinas” provavelmente nunca esteve tão em alta como agora. Única solução para dar fim à pandemia do novo coronavírus, que já dura mais de um ano e meio, as vacinas têm gerado muito interesse e também algumas dúvidas na população. Uma dessas dúvidas é: por que alguns imunizantes protegem para sempre enquanto outros precisam de doses de reforço?

De acordo com informações da Organização Mundial de Saúde (OMS), isso é necessário, às vezes, para permitir a produção de anticorpos de longa vida e o desenvolvimento de células de memória. “Dessa forma, o corpo fica treinado para combater o organismo causador da doença específica, reforçando a memória do agente patogénico, para o combater rapidamente, numa eventual exposição futura”, diz o site da organização.

O que vai definir a resposta induzida pelas diferentes vacinas – e se elas vão precisar de doses adicionais ou não – é, principalmente, o tipo de vacina. “Existem vacinas que são altamente imunogênicas, ou seja, despertam uma resposta imune muito robusta, com uma presença de uma célula de memória muito importante. São vacinas que com uma ou com duas doses a gente imuniza para o resto da vida, como é a vacina do sarampo, da rubéola, da catapora e da febre amarela, por exemplo. Geralmente, são vacinas feitas de vírus vivos atenuados, que imitam a própria infecção natural. Essas são mais imunogênicas e consequentemente geram uma resposta imune mais robusta”, explica o dr. Renato Kfouri, pediatra infectologista e diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). 

No entanto, nem todos os imunizantes podem ser produzidos da mesma maneira. “Dependendo da doença, a gente não consegue fazer vacina com essa tecnologia, a gente usa fragmentos, às vezes um pedaço do vírus ou da bactéria, e essas geralmente induzem a uma resposta de mais curta duração”, afirma. Nesses casos, se há interesse em manter uma proteção por longo período, é preciso aplicar doses de reforço de tempos em tempos.

”Eu digo interesse porque às vezes tem uma doença que acomete só crianças, então você não vai ficar vacinando os adultos o resto da vida. Você vacina enquanto tem risco. Por isso, você faz reforços somente na infância. Outras, como tétano, difteria, coqueluche, que são doenças que podem dar em qualquer idade, você precisa fazer reforços o resto da vida”, detalha o médico. 

A vacina da gripe é uma que sempre gera dúvidas. O imunizante tem dose única, mas deve ser aplicado anualmente, já que a proteção começa a cair 6 meses após a aplicação e os vírus sofrem mutações (existem vários subtipos de influenza). Por isso, tomar a vacina uma vez não confere proteção definitiva. É preciso se imunizar todos os anos. 

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Memória imunológica

A memória imunológica é a capacidade que o sistema imunológico tem de reconhecer agentes infecciosos já combatidos anteriormente e reativar a proteção necessária contra eles. Em alguns casos, a memória imunológica é tão eficiente que não permite que uma mesma pessoa tenha determinada doença mais de uma vez. É o que acontece, por exemplo, nos casos de sarampo e catapora. Só é possível ter essas doenças uma vez na vida.

Mas nem todas as infecções e vacinas geram proteção definitiva, por toda a vida, seja porque o estímulo do sistema imune não é suficiente para produzir uma excelente memória imunológica ou porque ter a memória imunológica, nesses casos, não é suficiente para manter a proteção por um longo prazo. É o caso de doenças como difteria, tétano e coqueluche. Por isso, algumas vezes é necessário tomar doses de reforço para manter a imunização. As informações são da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

“A memória imunológica é dada por células especiais chamadas de linfócitos B. São as células que guardam os registros desses anticorpos, a receita para produzi-los. Assim, cada vez que o nosso organismo é exposto àquele mesmo agente que já foi uma vez apresentado, temos células especiais chamadas de células dendríticas, que avisam para esses linfócitos B: ‘olha, isso aqui você já conhece’, e aí desencadeia a resposta daquela receita já pronta para fazer os anticorpos”, explica o dr. Kfouri. 

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E se eu não tomar a dose de reforço?

Nas vacinas que exigem doses de reforço, é fundamental completar o esquema vacinal. Caso contrário, a proteção não é a mesma. “Quando você passa do tempo de receber essas doses, você fica desprotegido. Por exemplo, era pra tomar a vacina de hepatite B, três doses, tomei duas e não tomei a terceira. Enquanto você não completa o esquema, você está desprotegido ou não adequadamente protegido”, diz o médico. 

Além disso, ele complementa que não se recomeça o esquema, mesmo que tenha passado do tempo recomendado. Ainda no exemplo da vacina contra hepatite B, se você perdeu o prazo de tomar a terceira dose, não há necessidade de iniciar tomando a primeira novamente. Basta buscar uma unidade para tomar a dose faltante. “As vacinas dadas são vacinas computadas. Isso é uma regra da vacinologia. Então, você jamais recomeça esquema. Aquele primeiro estímulo já funcionou, então não precisa recomeçar.” 

Agora, se você não sabe se tomou determinada vacina, se perdeu a carteirinha de vacinação, por exemplo, não há problema em tomar a vacina possivelmente repetida. É melhor garantir a proteção. 

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Vacina contra a covid-19

Das vacinas contra a covid-19 disponíveis no Brasil, três são aplicadas em duas doses (CoronaVac, AstraZeneca e Pfizer) e uma é aplicada em dose única (Janssen). No caso das primeiras, a imunização só é considerada completa após a segunda dose. Até o momento, não se sabe ainda se será necessária a aplicação de uma terceira dose ou mesmo uma dose anual (como acontece com a vacina da gripe). 

“A terceira dose da covid é uma pergunta para a qual a gente ainda não tem resposta. O que a gente sabe é que alguns grupos respondem pior à vacinação e têm uma duração da proteção mais curta, como idosos acima de 80 anos, pessoas com algumas doenças crônicas, transplantados, pacientes em quimioterapia, por exemplo”, diz o médico. 

Nesse contexto, é preciso avaliar quanto tempo depois da vacinação há uma perda substancial da proteção e quais vacinas são mais adequadas para essas pessoas (por exemplo, avaliar se é interessante uma terceira dose da mesma fabricante ou usar uma vacina diferente), etc. “Isso tudo está em estudos. Vários estudos estão acontecendo para buscar essas respostas: quem vacinar, com que intervalo, com que idade, quais são os grupos, quanto tempo dura cada proteção e, na hora do reforço, que vacinas a gente pode utilizar”, afirma. 

No momento, o mais importante é imunizar a maior parte da população com as duas doses. Portanto, se você já se vacinou, atente-se à data da segunda dose (se for o caso) no seu cartão de vacinação e não deixe de completar o esquema vacinal. E se você ainda não se vacinou, fique atento ao calendário na sua cidade e busque uma unidade de saúde para tomar a primeira dose assim que possível. 

Para acessar o Calendário Nacional de Vacinação disponível no SUS, clique aqui.

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