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Saúde pública

Doenças crônicas avançam e atendimento pelo SUS cresce em São Paulo, aponta ISA-Capital

Levantamento revela aumento de hipertensão, diabetes e transtornos mentais, além de piora da mobilidade

A saúde dos paulistanos enfrenta desafios que vão além da rotina acelerada da cidade. Os resultados preliminares do Inquérito de Saúde do Município de São Paulo (ISA-Capital 2024) mostraram aumento de hipertensão, diabetes, doenças respiratórias e transtornos mentais. O estudo também trouxe informações sobre tabagismo e sedentarismo na população.

O levantamento foi desenvolvido pela Faculdade de Saúde Pública (FSP) da Universidade de São Paulo (USP) em parceria com a Prefeitura de São Paulo. Foram visitados mais de 15 mil domicílios em 659 ruas, e 5.472 moradores com 10 anos ou mais foram entrevistados.

“É um estudo de longa duração, com edições realizadas em 2003, 2008, 2015 e agora em 2024. Isso nos permite acompanhar a tendência das condições de vida e saúde da população de São Paulo e gerar evidências para embasar políticas públicas. Esta edição é ainda mais relevante por ocorrer após a pandemia, que trouxe impactos profundos na vida das pessoas”, explica Marília Cristina Prado Louvison, professora do Departamento de Política, Gestão e Saúde da FSP/USP e uma das coordenadoras do ISA.

A seguir, veja alguns dados que retratam a saúde dos paulistanos.

Panorama das doenças e hábitos de risco na capital

Segundo o levantamento, 40% dos idosos convivem com duas ou mais doenças crônicas (multimorbidade). A prevalência de hipertensão subiu de 23,2% em 2015 para 26,3% em 2024, alcançando 58,5% dos idosos. 

O diabetes também avançou, passando de 7,7% para 11% e atingindo 28,2% dessa população. Os transtornos mentais comuns, como depressão e ansiedade, apresentaram aumento de 15,9% para 17%, sendo mais frequentes entre mulheres (25,4%).

Confira outros dados:

  • Entre os adultos, 35,7% apresentaram sobrepeso e 26,9% obesidade, enquanto entre os idosos, 11,8% têm sobrepeso e 28,4% têm obesidade;
  • 14,2% relataram fumar, demonstrando queda em relação a 2003 (18,9%) e 2008 (19,3%);
  • Em relação ao consumo de álcool, considerando quem tem 12 anos ou mais, 27,5% foram classificados em risco e 4,5% em alto risco ou provável dependência, totalizando 32%;
  • Um quarto dos paulistanos (25%) relatou ter tido algum problema de saúde nas duas semanas anteriores à entrevista, número mais alto que no levantamento anterior de 2015 (18,8%);
  • A mobilidade também se deteriorou: 12% dos paulistanos relataram dificuldade permanente para caminhar ou subir degraus, proporção que aumentou em relação aos 7% de 2015;
  • Apenas 45% declararam se exercitar pelo menos uma vez por semana.

Veja também: Sedentarismo é um dos principais fatores de risco de doenças não transmissíveis

 

Rede pública concentra atendimento da população

O levantamento indica que a cobertura de planos de saúde caiu de 41,8% em 2015 para 37,8% em 2024, ampliando o número de moradores que utilizam exclusivamente a rede pública para atendimento. 

Entre os 85% dos paulistanos que fizeram consultas no último ano, 57,3% recorreram ao SUS. Entre os 8% que precisaram de internação, 56,2% foram atendidos pelo sistema público.

“Esses dados mostram um uso maior do sistema público de saúde, tanto pela ampliação da cobertura quanto pela dificuldade crescente de manter planos privados. Isso reforça a necessidade de políticas públicas que garantam o SUS como instrumento de redução das desigualdades de acesso e de ampliação e qualificação do atendimento em toda a cidade de São Paulo”, afirma Marília Prado. 

 

Realização de exames preventivos

Os resultados do ISA-Capital 2024 mostram que a realização de exames preventivos varia bastante conforme o tipo de câncer investigado. No rastreamento do câncer do colo do útero, a adesão é alta: 84% das mulheres entre 25 e 64 anos disseram ter feito o Papanicolau nos três anos anteriores à entrevista.

A cobertura da mamografia, porém, continua abaixo do ideal. Entre as mulheres de 50 a 69 anos, 69,5% realizaram o exame no período recomendado de dois anos, percentual que se mantém estável desde as edições anteriores da pesquisa e ainda não atinge a meta recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que é superior a 70%.

No caso dos homens, 63% dos entrevistados com 40 anos ou mais já realizaram o exame de PSA ao menos uma vez, mas apenas cerca de um terço completou o rastreamento do câncer de próstata, que inclui também o toque retal.

O cenário é ainda mais limitado para o câncer colorretal: apenas 47,5% das pessoas com 50 anos ou mais relataram ter feito algum exame de prevenção ao longo da vida, como pesquisa de sangue oculto nas fezes, colonoscopia ou retossigmoidoscopia.

 

Situação da vacinação em São Paulo

O ISA-Capital 2024 também revela altos índices de vacinação na capital paulista, especialmente entre os idosos. A imunização contra a covid-19 atingiu 97% da população com 10 anos ou mais, chegando a 99% entre os maiores de 60 anos.

No caso da vacinação contra a gripe (influenza) nos 12 meses anteriores à pesquisa, 61% da população recebeu a dose, com cobertura ainda maior entre os idosos (75%).

Outras vacinas também apresentaram ampla adesão: a tríplice viral, que protege contra sarampo, caxumba e rubéola, alcançou 90,4% dos moradores entre 10 e 59 anos; a dupla adulto chegou a 82,3% da população a partir dos 10 anos; a vacina contra febre amarela teve cobertura de 80,9% entre pessoas de 10 a 59 anos; e a de hepatite B alcançou 80,6% do mesmo grupo etário.

O destaque negativo fica com a vacina contra o HPV, que protege contra infecções responsáveis pela maioria dos casos de câncer do colo do útero. Entre os jovens de 10 a 24 anos, 73% afirmaram ter recebido ao menos uma dose da imunização, com cobertura maior em mulheres (83,1%) do que em homens (62,3%).

“A cobertura vacinal ainda representa um grande desafio. Os dados mostram a necessidade de alcançar parcelas ainda não imunizadas e de reverter os recuos históricos observados na vacinação no país”, finaliza a pesquisadora. 

Veja também: Quais vacinas os adultos devem tomar?

 

Doenças crônicas: São Paulo segue tendência mundial de crescimento

Os resultados do ISA-Capital 2024 refletem uma tendência global sinalizada pelo estudo Global Burden of Disease (GBD), que aponta as doenças crônicas, como hipertensão e diabetes, entre as principais causas de adoecimento e mortes no mundo.

Em São Paulo, esse aumento também é evidente, especialmente entre adultos e idosos. Entre os maiores de 60 anos, 40% convivem com duas ou mais doenças crônicas. A hipertensão chega a 58,5% e o diabetes a 28,2%.

O GBD aponta que fatores de risco como sedentarismo, alimentação inadequada, pressão alta e glicemia elevada continuam a impulsionar doenças e mortes prematuras. Na capital, apenas 45% da população pratica atividade física semanalmente, a obesidade cresce em diferentes faixas etárias e o consumo de álcool e tabaco segue significativo.

Os dados mostram que São Paulo acompanha o cenário internacional, no qual as doenças crônicas se tornam cada vez mais comuns e exigem atenção constante para prevenção e melhora da saúde.

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