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Psiquiatria

Conexão entre mente e corpo: como as emoções afetam a saúde?

Publicado em 29/05/2025
Revisado em 29/05/2025

Emoções podem influenciar não apenas a saúde mental, mas também a saúde física, aumentando até mesmo o risco de algumas doenças. Entenda. 

 

O corpo é um só. Não há como “ignorar” uma parte que não está bem. As emoções podem impactar significativamente o funcionamento do organismo, afetando diversos sistemas e funções físicas – conforme explica a dra. Milena Sabino Fonseca, chefe da equipe de psiquiatria da Rede D’Or São Paulo, com atuação no Hospital São Luiz Jabaquara.

“Emoções positivas, como alegria, podem aumentar a produção de hormônios como serotonina, dopamina e endorfina, que promovem bem-estar e fortalecem o sistema imunológico. Por outro lado, emoções negativas, como medo, raiva, tristeza e estresse, podem levar à liberação de hormônios como adrenalina e cortisol, que causam reações como aumento da frequência cardíaca, aumento da pressão arterial, entre outros sintomas físicos”, afirma a especialista.

        Veja também: O que é ser uma pessoa saudável?

Ilustrações: Gutierre Sousa

 

Relação entre mente e corpo 

Segundo a médica, os principais neurotransmissores e hormônios envolvidos na relação entre mente e corpo incluem dopamina, serotonina, noradrenalina, ocitocina, estrógeno, testosterona, entre outros – cada um com funções específicas na regulação emocional e fisiológica.

“O corpo não é apenas um conjunto de órgãos que funcionam de forma independente, mas sim um sistema interligado em que a mente e o corpo interagem constantemente. Em situações de estresse emocional, o sistema nervoso autônomo é ativado, preparando o corpo para [uma situação de] ‘luta ou fuga’. Isso resulta na liberação de hormônios como a adrenalina e o cortisol, que afetam diversos sistemas do organismo”, esclarece. 

A liberação desses hormônios pode levar a reações físicas como:

  • aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial;
  •  dores de cabeça, enxaquecas e tensão muscular;
  • problemas digestivos, como gastrite, náuseas e diarreia;
  • alterações no sono, como insônia;
  • problemas de pele, como alergias e dermatites.

 

Doenças psicossomáticas

As emoções podem afetar diversas áreas e órgãos, sendo que as mais comumente relacionadas incluem o sistema digestório (estômago e intestino), coração, rins, pulmões, sistema nervoso (cabeça) e músculos.

“Quando um sofrimento mental ou estresse emocional desencadeia uma doença física, damos o nome de doença psicossomática (somatização)”, destaca a psiquiatra. Alguns exemplos de doenças que podem estar associadas a fatores emocionais, segundo ela, incluem: enxaqueca, síndrome do intestino irritável, dermatite atópica, urticária, disfunção erétil, dores musculares crônicas, entre outras.

Além das emoções, os pensamentos também podem ter influência sobre a nossa saúde. “A ciência confirma que os pensamentos influenciam significativamente a saúde, tanto física qtuanto mental. Pensamentos positivos podem reduzir o estresse, melhorar a imunidade e promover o bem-estar, enquanto pensamentos negativos podem aumentar o cortisol, diminuir a imunidade e contribuir para problemas de saúde.”

        Veja também: Fatores emocionais podem contribuir para o surgimento do câncer?

Ilustrações: Gutierre Sousa

 

 

Efeitos da ansiedade no organismo 

A ansiedade, especialmente quando é intensa, pode causar diversos efeitos na saúde física e mental. “Alguns sintomas comuns são irritabilidade, insônia, mudanças no apetite, taquicardia, sudorese, alterações do hábito intestinal, náusea e dificuldades respiratórias. Em casos mais graves e crônicos, a ansiedade pode levar ao desenvolvimento de outros transtornos mentais, como a depressão, por exemplo”, esclarece a dra. Milena. 

Sabe aquela dor de barriga que aparece em um momento de grande nervosismo? Ela acontece devido à forte conexão entre o sistema nervoso e o sistema digestivo. É aí que a adrenalina e o cortisol entram em cena. 

“A ação desses hormônios direciona o fluxo sanguíneo para outros órgãos, como os músculos, diminuindo o fluxo sanguíneo para o sistema digestivo, o que prejudica a digestão. Esses hormônios também aumentam as contrações intestinais, levando à diarreia e consequentemente diminuindo a absorção de nutrientes.”

O intestino é considerado um “segundo cérebro”, devido ao grande número de terminações nervosas presentes, e está intimamente ligado ao sistema nervoso central, respondendo às emoções, como a ansiedade. 

 

Como o estresse afeta a saúde física

O estresse impacta a saúde de maneira abrangente e pode provocar uma série de problemas físicos, como dores musculares, problemas cardíacos e alterações de sono. Ele também pode causar diversas alterações na menstruação, incluindo atrasos, antecipações, ciclos irregulares e até mesmo amenorreia (ausência de menstruação). “Isso acontece porque o estresse pode interferir no eixo hipotálamo-hipófise-ovariano, que controla o ciclo menstrual, e no eixo hipotálamo-hipófise-adrenal, que regula a produção de cortisol, o hormônio do estresse”, explica a médica. 

Segundo ela, o estresse crônico ou contínuo pode levar a problemas como: 

  • aumento da inflamação sistêmica; 
  • supressão da ovulação e, consequentemente, interrupção da menstruação;
  • elevação da pressão arterial e do ritmo cardíaco, aumentando em pelo menos três vezes o risco de infarto ou AVC;
  • desenvolvimento de problemas gastrointestinais como gastrite, refluxo e síndrome do intestino irritável;
  • enfraquecimento do sistema imunológico, tornando o corpo mais vulnerável a doenças autoimunes, como lúpus e psoríase;
  • aumento ou piora de dermatites, acne e outras doenças de pele;
  • dores de cabeça ou de coluna tensionais frequentes.
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        Veja também: Como o estresse afeta o corpo e a mente?

Ilustrações: Gutierre Sousa

 

E as emoções boas?

Da mesma maneira que as emoções “negativas” podem impactar negativamente a saúde, as positivas podem ter boa influência. “Emoções positivas, como alegria e gratidão, podem ter efeitos benéficos, como fortalecer o sistema imunológico e melhorar a qualidade de vida”, pontua a dra. Milena. 

Nesse contexto, segundo a médica, podemos dizer que a felicidade faz bem para a saúde. “Estudos indicam que a felicidade tem um impacto positivo no sistema imunológico, cardiovascular e no processo de cicatrização, além de influenciar na secreção de hormônios e reduzir inflamações.”

 

Como lidar de forma saudável com as emoções?

Para aprender a lidar melhor com as emoções e evitar que elas afetem a saúde física, a especialista diz que é fundamental desenvolver autoconhecimento, reconhecer e validar as emoções, praticar a expressão saudável delas e, se necessário, buscar apoio profissional. Técnicas como meditação, respiração e exercícios físicos também podem ser ferramentas úteis para gerenciar o estresse e a ansiedade.

“Substituir pensamentos negativos por pensamentos mais otimistas e construtivos pode ajudar a mudar a perspectiva sobre as emoções. Tentar viver o momento presente e evitar preocupações excessivas com o futuro pode ajudar a reduzir a ansiedade. Passar tempo ao ar livre, especialmente em parques ou áreas verdes, pode ter um efeito positivo na saúde mental e física. Dormir bem, comer de forma equilibrada e praticar atividades físicas regularmente são hábitos importantes para manter a saúde mental e física em dia”, orienta. 

        Veja também: Para que serve a psicoterapia?

Conteúdo produzido em parceria com RD Saúde.

Ilustrações: Gutierre Sousa

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