Ansiedade noturna: por que algumas pessoas se sentem mais ansiosas na hora de dormir?


Equipe do Portal Drauzio Varella postou em Psiquiatria

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Publicado em: 18 de outubro de 2023

Revisado em: 18 de outubro de 2023

Dificuldade para pegar no sono e acordar no meio da noite são características dessa condição. Saiba como lidar com a ansiedade noturna.

 

A qualidade do sono desempenha um papel crucial na nossa saúde geral e bem-estar. A privação de sono pode levar a uma série de problemas físicos e mentais, e a ansiedade noturna é um dos fatores que podem tornar a hora de dormir ainda mais desafiadora. Para entender mais sobre essa questão, conversamos com especialistas que explicam por que a ansiedade pode aparecer nesses momentos  e quais os seus impactos práticos no dia a dia. 

 

O que é ansiedade noturna?

Segundo a dra. Letícia Azevedo Soster, neurofisiologista clínica especialista em medicina do sono e coordenadora de pós-graduação em sono do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, a ansiedade noturna pode seguir a mesma definição da ansiedade geral, em um sentido amplo. “Ansiedade é a dificuldade em lidar com problemas, caracterizada pela necessidade de antecipação e necessidade de controle que leva a uma sensação muito desagradável”, diz.

Segundo ela, é importante considerar o contexto em que o sono ocorre, ou seja, um processo de entrega que vai acontecer no período da noite e que é resultado de hábitos que temos nas demais horas do dia. No entanto, para uma pessoa ansiosa, essa entrega acaba se tornando um desafio. “Quando se deita para dormir, não se tem mais esse controle, é preciso deixar a fisiologia do corpo acontecer, os hormônios relacionados ao sono serem liberados”, explica. 

Sendo assim, a maior manifestação da ansiedade noturna é a insônia, que é definida como a dificuldade de iniciar ou manter o sono ou pelo fato de ter um despertar precoce, por mais de três noites por semana e mais do que três meses, considerando que haja condições adequadas para dormir. Isso se deve a um estado hiperalerta, em que o cérebro não consegue “desligar” e permanece muitas vezes preocupado com questões do dia a dia. 

Outra característica dessa condição é a associação entre o ambiente e a dificuldade de dormir. “Pessoas com transtorno de insônia crônica podem, ao longo de sua evolução, desenvolver sintomas de ansiedade relacionados ao seu ambiente de sono”, diz o neurologista dr. Fernando Stelzer, que faz parte do departamento científico de sono da Academia Brasileira de Neurologia (ABN). A insônia crônica pode levar a sentimentos de mal-estar, medo, agitação, taquicardia e sudorese profusa no período do final da tarde, à medida que a noite se aproxima. Isso acontece porque a pessoa antecipa as sensações desagradáveis relacionadas à insônia que começarão quando ele for tentar dormir. Essa ansiedade muitas vezes está restrita ao ambiente de sono da pessoa, fazendo com que ela durma melhor fora de casa, como em hotéis.

Além disso, indivíduos ansiosos que sofrem de transtornos como ansiedade generalizada e transtorno de pânico podem experimentar episódios de despertar com sintomas importantes de ansiedade durante o sono. Nesses casos, a pessoa acorda repentinamente, assustada, com taquicardia e falta de ar, sem que haja relação com pesadelos. E essa ansiedade também pode persistir nos períodos acordados.

“Essas duas situações são condições distintas, mas é comum a associação entre transtorno de ansiedade generalizada e insônia crônica”, ressalta o dr. Fernando.

        Veja também: Por que tenho ansiedade sempre no mesmo horário?

 

Causas

Quando se trata das causas da insônia crônica, o dr. Fernando aponta para a interação complexa entre fatores predisponentes e precipitantes. “Uma das hipóteses mais defendidas para explicar a insônia crônica é que o indivíduo tenha fatores predisponentes, como histórico familiar de insônia, idade e características de personalidade”, afirma.

No entanto, a insônia crônica geralmente não se desenvolve sem um fator precipitante. Esses fatores precipitantes podem ser eventos estressantes na vida do indivíduo, como desemprego, doença na família, luto ou até mesmo situações de grande estresse global, como uma pandemia. Quando uma pessoa é exposta a esses fatores, ela pode desenvolver sintomas persistentes de insônia. E, com o tempo, esses sintomas tornam-se crônicos.

É importante observar que, à medida que a insônia persiste, os hábitos de sono inadequados e as crenças errôneas sobre o sono se instalam. As pessoas começam a adotar comportamentos que prejudicam ainda mais o sono, como assistir à televisão na cama, usar dispositivos eletrônicos antes de dormir e tomar substâncias como álcool para tentar pegar no sono. “Esses são fatores que podem agravar a ansiedade noturna e perpetuar a insônia crônica”, explica o dr. Fernando.

 

Impactos na saúde

A ansiedade noturna não é apenas um incômodo momentâneo; ela causa um impacto profundo na qualidade do sono e na saúde em geral. Indivíduos com transtornos de sono e ansiedade geralmente enfrentam um comprometimento significativo de sua saúde e qualidade de vida.

“Esses transtornos mentais estão associados a um comprometimento de funcionamento e desempenho em diversas áreas da vida, incluindo pessoal, profissional, social, acadêmica e atividades esportivas”, observa o dr. Fernando.

As consequências diurnas da ansiedade noturna e da insônia crônica são amplas e abrangem sintomas como sono não reparador, dificuldade de concentração e memória, falta de energia, tristeza, irritabilidade, predisposição a acidentes e erros, entre outros. 

Crianças também podem ser afetadas, apresentando irritabilidade e agitação psicomotora que se assemelham a sintomas de hiperatividade e déficit de atenção.

Além disso, as pessoas com transtornos de sono e ansiedade tendem a procurar mais serviços de saúde, o que resulta em um aumento do consumo de medicações. Isso pode criar um círculo vicioso, em que o tratamento medicamentoso pode levar a efeitos colaterais e dependência, tornando ainda mais difícil o processo de recuperação.

A dra. Letícia destaca também fatores de humor e problemas cardiovasculares. “Uma noite mal dormida vai afetar principalmente o humor, deixando a gente mais ranzinza. Além disso, a insônia que proporciona noites com menos de 6 horas de duração, é relacionada a questões cardiovasculares, como infartos, AVCs e tromboses.”

        Veja também: Técnicas de respiração para aliviar a ansiedade

 

Como lidar com a ansiedade noturna?

Para aqueles que sofrem de ansiedade noturna, os especialistas oferecem algumas estratégias iniciais para melhorar a qualidade do sono e reduzir a ansiedade:

  • Mantenha uma rotina de sono consistente: Ir para a cama e acordar na mesma hora todos os dias ajuda a regular o relógio biológico e promover um sono mais saudável.
  • Evite estimulantes antes de dormir: Isso inclui cafeína, telas eletrônicas e atividades físicas intensas. Tente relaxar com atividades mais tranquilas antes de dormir.
  • Crie um ambiente de sono propício: Mantenha o quarto escuro, silencioso e confortável. Evite usar o quarto para atividades que não estão relacionadas ao sono.
  • Reconheça e respeite o seu próprio ciclo: respeite a fisiologia do seu corpo e seus processos, consciente de que cada pessoa tem seu próprio ritmo. 
  • Consulte um profissional: Se a ansiedade noturna persistir, é fundamental procurar ajuda médica. Os profissionais de saúde estão preparados para fornecer orientações específicas e tratamento personalizado.

 

Sobre a autora: Tarima Nistal é jornalista e especialista em comunicação digital e marketing. Interessa-se por questões relacionadas à saúde das mulheres, alimentação saudável e meio ambiente.

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