Anemia infantil: como prevenir? - Portal Drauzio Varella
Página Inicial
Pediatria

Anemia infantil: como prevenir?

Carência de ferro nos primeiros anos de vida do bebê pode resultar na anemia infantil, mas cuidados na alimentação ajudam a evitá-la. Saiba como.
Publicado em 15/11/2021
Revisado em 12/11/2021

Carência de ferro nos primeiros anos de vida do bebê pode resultar na anemia infantil, mas cuidados na alimentação ajudam a evitá-la. Saiba como.

 

A anemia ferropriva ou anemia infantil é a mais comum entre todas as anemias, e uma grande preocupação para quem tem crianças em casa. Nessa fase, o crescimento é acelerado e a demanda por ferro aumenta exponencialmente. Se o ferro estiver em baixa quantidade, a formação de hemoglobinas fica comprometida, impactando o transporte de oxigênio do pulmão para o restante do corpo. 

Geralmente, a anemia provoca palidez de pele e de mucosa, diminuição da vontade de brincar, estudar e realizar atividades que gastem energia e aumento da frequência cardíaca, o que, em situações mais graves, pode até levar à morte.

Crianças de 6 meses a 5 anos são consideradas anêmicas quando a hemoglobina está abaixo de 11g/dL de sangue. Mas a queda da disponibilidade de ferro, mesmo que ainda não caracterize anemia, já traz várias complicações para os pequenos, como dificuldade na conservação do calor do corpo e prejuízos às funções cognitivas.

No Brasil, uma a cada cinco crianças de 6 meses a 2 anos tem anemia ferropriva, de acordo com o Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani) de 2019. Por ser um grave problema nutricional no país, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda a suplementação de ferro na forma de medicamento para todas as crianças dentro dessa faixa etária.

Além disso, a hematologista Rosana Cipolotti, membro do Departamento Científico de Hematologia da SBP, detalha alguns cuidados na alimentação que podem ser tomados para proteger as crianças do problema, como ela explica abaixo.

 

Crianças de até 6 meses: atenção ao aleitamento

Durante a gestação, o feto acaba sendo prioridade dentro do útero materno, então é muito difícil que ele desenvolva anemia já nessa fase. Normalmente, ela aparece após o nascimento, especialmente se a criança nascer prematura, com baixo peso ou ambos. 

“Para esses bebês, a solução preventiva é a reposição de ferro na forma de medicamento. Do contrário, é provável que a anemia ocorra de forma precoce, em torno de 1 mês e meio ou 2 meses de vida”, afirma a dra. Rosana.

Já para as crianças que nasceram a termo e com o peso adequado, o aleitamento materno, exclusivo nos primeiros 6 meses e mantido até os 2 anos, costuma ser o suficiente para manter os níveis de hemoglobina no sangue equilibrados no primeiro semestre de vida. “O leite da mãe fornece ferro de boa qualidade e é bem aproveitado pelo bebê, suprindo as necessidades de crescimento”, pontua a hematologista.

Se, por algum motivo, o aleitamento materno não for possível, a fórmula alimentar também é uma grande aliada nesse período.

No entanto, os pais ou responsáveis devem evitar o leite integral, seja de vaca, de cabra ou de qualquer outro animal, já que este não fornece ferro útil à criança. “Esse leite serve para o bezerro, não para o bebê. É inadequado para a saúde da criança, não só em relação à anemia, mas também à taxa de proteínas no corpo, cuja deficiência pode gerar danos renais, hipertensão e doenças crônicas”, destaca.

Veja também: Principais dúvidas sobre amamentação

 

Crianças com mais de 6 meses: cada refeição importa

A partir do segundo semestre de vida, o bebê deve começar a receber alimentos além do leite, bem como a suplementação de ferro recomendada pela SBP. Nessa fase, é preciso empenho para não cair na tentação dos alimentos ultraprocessados. Muitas vezes, eles são mais práticos e até mais bem aceitos pelos pequenos, mas podem acabar se tornando o primeiro passo para uma deficiência de ferro.

Alimentos industrializados, ultraprocessados ou que recebam produtos químicos para conservação não podem fazer parte do cardápio da criança. Pelo contrário, o estímulo deve ser de tudo o que vem da natureza, como legumes, verduras, raízes, grãos e proteínas.

“Essa é a melhor época para fazer a criança aceitar alimentos variados, porque o paladar ainda está em formação. Depois de um ano, ela se acostuma com o doce e o cremoso e fica bem mais complicado”, alerta a dra. Rosana.

Segundo a especialista, o recomendado são quatro refeições por dia: um lanche de fruta no meio da manhã, o almoço, outro lanche de fruta no meio da tarde e o jantar, todas elas seguidas da oferta de leite materno ou fórmula. 

“Os alimentos de origem animal, como carne, frango e peixe, fornecem ferro de alto valor biológico. É aquele que será rápida e facilmente assimilado pelo organismo do bebê. A quantidade é o equivalente a 50g ou uma tirinha de mais ou menos 3 dedos de comprimento e 2 de largura por refeição”, afirma a hematologista. 

No caso de famílias veganas ou vegetarianas, é possível adaptar os pratos utilizando alimentos vegetais, grãos e a combinação de arroz e feijão, de acordo com as orientações do pediatra. Feijão, beterraba, espinafre e folhas verdes (principalmente as escuras) são algumas das alternativas ricas em ferro.

Veja também: Como deve ser feita a introdução alimentar do bebê

 

Como preparar a comida?

Na hora de cozinhar, a dica é intervir o menos possível. O cozimento é simples e, se quiser, com o incremento de um tempero natural, como tomate, cebola, alho, salsinha e azeite para finalizar. O sal não entra no cardápio do bebê até os 2 anos, e o açúcar é só aquele proveniente das frutas.

Provavelmente, você também já ouviu falar que preparar a refeição com panelas e outros utensílios de ferro pode ajudar a prevenir a anemia. Mas a dra. Rosana explica que isso é um mito: “Os objetos com ferro liberam íons férricos que não são absorvidos pelo organismo. Não faz mal, mas também não funciona”.

Ao montar o prato, o alimento deve ser servido de forma que a criança possa pegar os pedacinhos e colocar na boca. A porção é do tamanho de um prato pequeno.

 

E se a criança não gostar?

A introdução alimentar exige paciência. A hematologista lembra que a inclusão dos alimentos no cardápio não tem data nem sequência, mas é preciso dedicação.

“Para a gente dizer que o bebê definitivamente não gosta de uma comida, ele tem que experimentar pelo menos 10 vezes. Se hoje ele recusou a beterraba, espere alguns dias e ofereça de novo, cortando de outro jeito”, sugere.

Se, depois das 10 tentativas, a criança não aceitar, é melhor dar um tempo. Mas isso não significa que ela nunca vá gostar, porque essa escolha não costuma ser definitiva.

 

O que fazer em caso de suspeita de anemia?

Mesmo com todas essas dicas para uma nutrição saudável nos primeiros anos de vida, o Brasil ainda oferece muitos obstáculos na prevenção da anemia, como a dificuldade de acesso a alimentos ricos em ferro e até a alternativas utilizadas no lugar do aleitamento materno.

Por isso, se a criança apresentar sinais como palidez, cansaço, sonolência, falta de ar e palpitações, peça a ajuda do seu pediatra ou do médico da família na sua região. Ele provavelmente irá pedir a realização de um exame de hemograma e, uma vez diagnosticada a anemia, dará início ao tratamento mais adequado.

Veja também: Alimentação: comer bem é fundamental | Quanto Mais Cedo, Maior | Episódio 10

Compartilhe