Bebês prematuros: tudo o que você precisa saber

Bebê com os olhos fechados dentro da incubadora.

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Publicado em: 10 de junho de 2021

Revisado em: 10 de junho de 2021

Crianças nascidas antes do previsto podem exigir alguns cuidados especiais, mas a maioria consegue se desenvolver normalmente.

 

Todo mundo conhece alguém que teve um bebê prematuro ou que foi um desses bebês que, por algum motivo, precisaram nascer antes da hora prevista. O nascimento prematuro é algo relativamente comum. Cerca de 15 milhões de bebês nascem prematuros todos os anos no mundo todo. No Brasil, são 340 mil nascidos antes da hora, o que representa cerca de 12% do total de nascimentos no país a cada ano.

Uma gestação completa varia entre 37 e 42 semanas. O bebê é considerado prematuro quando nasce antes da 37ª semana de gravidez. Mas existem diferentes graus de prematuridade. Veja a classificação definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS):

  • Extremamente prematuro: menos de 28 semanas de gestação;
  • Muito prematuro: 28 a 32 semanas de gestação;
  • Prematuro moderado a tardio: 32 a 37 semanas de gestação.

A prematuridade exige uma série de cuidados médicos e pode oferecer alguns riscos à saúde do recém-nascido, que normalmente precisa ficar internado por um período para que possa receber o suporte necessário e ganhar peso. Devido ao avanço da tecnologia e da assistência prestada nas Unidades de Terapia Intensiva Neonatais, a sobrevida desses bebês tem aumentado muito nas últimas décadas, conforme explica a dra. Maria Regina Bentlin, pediatra neonatologista e presidente do Departamento Científico de Neonatologia da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP).

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“Mas ainda é um desafio aumentar a sobrevida dos prematuros no limite da viabilidade, ou seja, entre 22 a 25 semanas. É importante dizer que a sobrevida vai depender das condições de pré-natal e nascimento e das complicações que eles apresentarem durante o período neonatal”, afirma a médica. 

 

Complicações que levam ao parto prematuro

 

O parto prematuro, dependendo do momento em que ocorre, pode ser uma situação de risco tanto para o bebê quanto para a gestante. “Mas em algumas situações em que a manutenção da gestação representa mais risco do que benefícios para um dos dois ou para os dois, essa se torna a opção mais segura”, explica a dra. Larissa Cassiano, ginecologista e obstetra. Segundo a médica, as principais complicações na gestação que podem levar a um parto prematuro são:

  • Infecções;
  • Insuficiência istmocervical (abertura do colo do útero);
  • Colo do útero curto;
  • Partos prematuros anteriores;
  • Rotura prematura da bolsa;
  • Tabagismo;
  • Miomas;
  • Gravidez de múltiplos;
  • Descolamento prematuro da placenta;
  • Diabetes gestacional;
  • Pré-eclâmpsia (aumento da pressão arterial na gravidez);
  • Alterações clínicas na gestante ou no feto que necessitem de interrupção antes do tempo esperado. 

A pré-eclâmpsia foi o que levou a bancária Andressa Tofaneli, de 29 anos, a dar à luz com apenas 30 semanas de gestação. Andressa conta que teve uma gestação tranquila, conseguiu seguir com suas atividades, trabalhou normalmente, praticou atividades físicas e não teve ganho significativo de peso. Tudo corria bem até a 30ª semana, quando sua pressão arterial subiu e ela começou a se sentir mal. 

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“Era dia de Natal, eu fui internada com pressão 17 por 10. De um dia para o outro, eu inchei 4 quilos. Me internaram já com o diagnóstico de pré-eclâmpsia. Nisso, foi constatado que a Maria estava em sofrimento fetal, já não estava mais se desenvolvendo fazia uma semana”, conta. Elas foram monitoradas por quatro dias, quando foi preciso fazer uma cesariana de emergência porque a vida da bebê estava em risco.

Maria nasceu no dia 29 de dezembro de 2019, após 30 semanas e 4 dias de gestação, com 1.350 kg e 39 centímetros. 

A bebê Maria, nascida de 30 semanas, na incubadora.
Maria, nascida de 30 semanas, na UTI neonatal.

 

Características do bebê prematuro

 

Normalmente, esses bebês apresentam baixo peso, menos de 2,5 kg. Os muito prematuros podem pesar bem menos do que isso. Quanto mais baixa a idade gestacional, menor será o peso do bebê.

Algumas características comuns nesses recém-nascidos são pouca gordura corporal, pele fina e lisa (de forma que pode ser possível visualizar as veias), pouco cabelo, orelhas molinhas e a planta dos pés fina e com poucos sulcos. Eles também podem ter a cabeça proporcionalmente maior que o corpo. “É importante frisar que essas características dependem do grau de prematuridade, se for extremo, moderado ou tardio terão diferenças”, explica a dra. Ana Maria Vilarinho, pediatra especialista em neonatologia pela Santa Casa de São Paulo. 

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Em relação ao comportamento, é comum que fiquem a maior parte do tempo com os olhos fechados e tenham reflexos lentificados, o que faz com que eles se mexam pouco ou de forma desorganizada. “Por isso, o posicionamento do bebê é importante, e ele deve ficar em posição confortável e segura para ajudar a manter seus bracinhos e perninhas na linha média, favorecendo a postura de flexão, semelhante a em que estavam dentro do útero, auxiliando no seu desenvolvimento”, afirma a dra. Maria Regina. 

Essas características não devem ser motivo de preocupação, pois com acompanhamento o bebê vai ganhar peso, crescer e se desenvolver ao longo das semanas. 

 

Complicações causadas pela prematuridade

 

Quanto mais prematuro for o bebê, mais imaturos serão os seus órgãos e maior será o risco de complicações. Segundo a dra. Maria Regina, especialmente aqueles nascidos antes de 34 semanas de gestação podem apresentar as seguintes condições: 

  • Dificuldade para manter a temperatura: A hipertermia (temperatura abaixo de 36,5º C) é comum nesses bebês, e a incubadora ou berço fazem o papel de aquecê-lo na UTI. Quando o bebê está estável, pode ser feito o contato pele a pele com os pais (método canguru);
  • Dificuldade para respirar: Os pulmões ainda não produzem adequadamente uma substância chamada surfactante e por isso não conseguem fazer as trocas gasosas e a oxigenação corretamente. Isso faz com que os bebês precisem de aparelhos que os ajudem a respirar. Existem medicações que ajudam a amadurecer os pulmões;
  • Dificuldade para se alimentar: Os bebês prematuros têm dificuldade para coordenar a respiração com a sucção e a deglutição, e no período de internação recebem o leite da mãe através de sonda gástrica;

Complicações que podem ocorrer principalmente em bebês que nasceram com menos de 32 semanas de gestação ou com peso inferior a 1,5 kg:

  • Hemorragia peri-intraventricular: Rompimento de vasos do cérebro, que são muito finos e causam hemorragias, mas em geral elas são pequenas e absorvidas sem deixar sequelas. No caso das mais extensas, é preciso acompanhamento especializado; 
  • Retinopatia da prematuridade: Crescimento desorganizado dos vasos sanguíneos que chegam à retina. Pode evoluir sem sequelas, mas em alguns casos é necessário tratamento e cirurgia e em quadros muito graves, pode causar cegueira.

 

Período de internação da UTI

 

Um bebê que nasce antes do tempo esperado não está totalmente formado. Por isso, a equipe da UTI neonatal fornece todo o suporte para que ele possa se desenvolver, como explica a dra. Ana Maria. “Geralmente, quem precisa de internação mais prolongada são os extremos, que necessitam de suporte para respirar por mais tempo. Além disso, eles precisam ganhar peso para poder ter alta com aproximadamente 2 kg. Não damos alta antes disso.”

Fora esses fatores, ainda existe o risco de sepse. “Na UTI neonatal, muitos bebês acabam nascendo com infecção ou adquirindo durante a internação a infecção que chamamos de sepse. Nesses casos, eles precisam de antibiótico e esses tratamentos demandam tempo”, informa a médica. 

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Com o bebê na UTI, a mãe não consegue amamentar no peito, mas é muito importante que a equipe multidisciplinar oriente-a a extrair leite todos os dias, a cada 3 horas aproximadamente, para gerar estímulo e impedir que a produção cesse enquanto o bebê está internado. O leite é fornecido através de sonda. Nos casos em que o leite da mãe não puder ser ofertado, o recém-nascido pode ser alimentado com leite humano disponibilizado pelos bancos de leite. 

Os pais de Maria acompanhando a filha recém-nascida na UTI.

O período de internação é muito difícil para a família, especialmente para as mães. No caso de Maria, foram 33 dias de UTI até que ela chegasse ao peso mínimo de 2 kg. “A experiência foi extremamente exaustiva. Como eu quis amamentá-la e eu não podia, para garantir todas as mamadas dela, eu chegava às 7 da manhã e ia embora às 10 da noite, porque eu conseguia pegar todos os horários do banco de leite para tirar leite e levar pra ela nos horários das mamadas”, conta Andressa. “Você fica o dia inteiro ali sentada. A Maria ficou imóvel a maior parte do tempo porque ela estava intubada. Então, não tinha muito movimento ali com ela. Era sentar e ficar vendo ela na incubadora mesmo.”

 

Hora de ir para casa. E agora?

 

O momento da alta do bebê é muito desejado e esperado para a família, mas também pode gerar muitas dúvidas e inseguranças. Segundo a dra. Maria Regina, o vínculo da família com os profissionais de saúde que cuidam do bebê na UTI neonatal é muito importante e facilita a programação da alta, que deve ser organizada com antecedência. “É importante que os pais já estejam sendo treinados pela equipe nos cuidados diários que continuarão ocorrendo em casa, como vestir o bebê, trocar fraldas, dar banho, amamentar. Isso os deixará mais seguros e confiantes”, afirma.

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Foi exatamente esse vínculo que preparou Andressa para a rotina com sua bebê em casa, pois ela aprendeu os principais cuidados com a equipe ainda no hospital. “Eu cheguei com a Maria em casa e já sabia fazer exatamente tudo, sabia muita coisa. Não tive nenhum problema em relação a cuidados mesmo, porque na UTI neo a gente é muito bem instruída, muito bem orientada”, conta. 

A médica da SPSP listou os principais pontos a que os pais e/ou cuidadores devem estar atentos ao levar o bebê para casa:

  • Padrão do sono e mamadas: É importante reconhecer o ritmo de cada bebê, pois eles podem ficar quietinhos demais, dando a falsa impressão que estão saciados, ou ser mais lentos para amamentação;
  • Sinais de alerta: Saiba reconhecer sinais que mostrem que eles não estão bem, como engasgos com leite, se o bebê fica roxinho ou muito pálido, febre ou hipotermia, convulsões, falta de diurese (urina), se fica muito ofegantes durante a mamada, se fica molinho ou se reage pouco a estímulos. Nesses casos, procure atendimento médico;
  • Medicações pós-alta: Organize-se para não esquecer de nenhum medicamento. Em geral, os prematuros saem do hospital recebendo ao menos vitaminas e sulfato ferroso;
  • Calendário vacinal: Mantenha a carteira de vacinação sempre atualizada. O sistema imunológico do prematuro é imaturo e as vacinas são importantes para protegê-los de infecções graves. Informe-se com o pediatra, pois eles têm direito a vacinas específicas; 
  • Lavagem das mãos: Todos que entrarem em contato com o bebê devem lavar as mãos antes. Essa medida é fundamental, especialmente para os prematuros em tempos de pandemia de covid-19;
  • Ambiente de casa: Não fume e não deixe ninguém fumar perto do bebê ou dentro de casa, evite aglomerações e não saia para lugares públicos antes que ele tenha iniciado suas vacinas. Na pandemia, a exposição deve ser ainda menor; evite contato com pessoas com sintomas gripais ou de virose
  • Acompanhamento ambulatorial: Não perca as consultas com o pediatra ou nas unidades de saúde. Informe-se sobre outras consultas necessárias no momento da alta, pois dependendo do caso, pode ser necessário acompanhamento com outros profissionais, como oftalmologista, neuropediatra e fisioterapeuta, por exemplo. 

Obviamente, esse período de adaptação não é fácil. As primeiras semanas com o bebê podem ser de muita alegria, mas também exigem muita dedicação e entrega, o que é exaustivo. “Quando eu levei ela pra casa, acho que foi a melhor sensação da minha vida. Em contrapartida, eu já estava muito cansada pela rotina da UTI, então, quando eu cheguei com ela, três dias depois eu tive que ir para o hospital com uma crise gigantesca de cefaleia (dor de cabeça), porque eu não dei conta. Acho que eu já estava sobrecarregada, e quando ela veio para casa, com essas questões de não dormir bem à noite, o negócio pegou. Mas tudo valia a pena”, relata Andressa.

 

 

Atraso no desenvolvimento e idade corrigida

 

O desenvolvimento do bebê prematuro pode ser diferente do desenvolvimento do bebê a termo (aquele que nasce no tempo adequado). “Por isso, a recomendação para avaliação do desenvolvimento é usar a chamada idade corrigida até os 2 anos de idade”, explica a dra. Maria Regina.

A idade corrigida é a idade que o bebê teria caso ele tivesse nascido de 40 semanas. Por exemplo, se o bebê nasceu com 32 semanas, ele nasceu 8 semanas antes do previsto. Subtraia 8 semanas da idade atual dele para saber a idade corrigida. Se o bebê tem hoje 12 semanas (3 meses), a idade corrigida dele é de 4 semanas (1 mês). 

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Maria nos dias de hoje, com 1 ano e meio de idade.

“A maioria dos bebês prematuros recupera essa diferença no desenvolvimento até o segundo ou terceiro ano de vida, quando deixamos de usar a idade corrigida. Entretanto, alguns prematuros poderão ter atrasos no seu desenvolvimento em função de complicações que apresentarem durante o período neonatal. Essas crianças precisarão de seguimento especializado e multiprofissional”, explica a pediatra. 

No caso de Maria, não houve nenhum problema de desenvolvimento. A única sequela que ela teve foi uma grave alergia à proteína do leite de vaca (APLV), mas que já se resolveu. Hoje com 1 ano e meio, Maria tem uma rotina normal. “Ela é muito esperta. Mesmo com a pandemia, que a fez não ter uma vida social ativa, pois a gente não sai com ela, não levou para conhecer ninguém da família – ela só conhece meus pais e minha irmã porque a gente convive –, ela ainda é uma criança que se desenvolve muito bem, aprende muito rápido”, conta Andressa. 

 

Covid-19 e prematuridade

 

A covid-19 tem se mostrado uma doença imprevisível. Enquanto algumas gestantes, quando infectadas, têm boa evolução com pouco ou nenhum sintoma, outras podem rapidamente desenvolver sintomas mais graves. “Quando a covid-19 acontece na gestação com evolução que leva a quadro de desconforto respiratório, trazendo a necessidade de internação, o protocolo se baseia em deixar a grávida com menor desconforto respiratório possível. Se necessário, ela poderá utilizar cateter ou máscara de oxigênio e, nos casos mais graves, é preciso realizar a intubação”, explica a dra. Larissa.

As grávidas com covid-19 podem apresentar insuficiência respiratória, e a falta de oxigênio pode comprometer o feto. Dessa forma, o nascimento prematuro pode ocorrer pela necessidade de tratamento da mãe e/ou pelas condições de falta de oxigênio intraútero a que o bebê está submetido. “A chamada transmissão vertical, quando a mãe passa o vírus para o feto ainda intraútero, pela placenta, pode ocorrer, mas felizmente é pouco frequente e são poucos os recém-nascidos que se contaminam pela gestação”, afirma a pediatra da SPSP.

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“Mãe e bebê podem e devem ser mantidos juntos sempre que possível, mantendo a mãe com máscara, higiene das mãos e todos os cuidados de higiene necessários para essa situação. Fazendo isso, é possível que a amamentação seja mantida com mais segurança”, orienta a ginecologista. Outras medidas que ajudam a prevenir a contaminação é deixar o quarto ventilado, com as janelas abertas, e manter o berço do bebê de 1 a 2 metros de distância da cama.

A amamentação pode ser mantida nos prematuros com mais de 34 semanas, se mãe e bebê estiverem bem. Os bebês menores serão internados na UTI neonatal para monitoramento, com os cuidados já mencionados anteriormente. “O prematuro é um ser surpreendente, que luta, que se supera, que encanta. A cada dia ele renova as suas esperanças e as nossas expectativas, e nos lembra que lutar por eles vale sempre muito a pena”, finaliza a dra. Maria Regina. 

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