Trocar o cigarro pelo tabaco não reduz os riscos à saúde


Equipe do Portal Drauzio Varella postou em Tabagismo

cigarros empilhados sobre a mesa. cigarro feito com tabaco é tão nocivo quanto o convencional

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Publicado em: 19 de julho de 2023

Revisado em: 3 de agosto de 2023

Optar pelo cigarro artesanal feito com tabaco não diminui os riscos de câncer, doenças cardiovasculares e pulmonares.

 

Por muito tempo, ser fumante foi considerado um hábito associado ao poder, elegância e status, além de ser uma forma de socialização bastante frequente na sociedade. Porém, ao mesmo tempo que a ciência comprovava os malefícios do cigarro, os fumantes percebiam que não era tão simples assim largar a nicotina

No entanto, atualmente, alguns jovens têm optado por usar o tabaco enrolado em palha ou papel de seda por acreditar ser um produto mais natural e menos prejudicial ao organismo. Conhecido popularmente como “tabaquinho”, ele continua oferecendo riscos à saúde, uma vez que pode conter substâncias como nicotina, alcatrão e compostos cancerígenos. 

“Todos os cigarros causam malefícios semelhantes. Nenhum pode ser considerado seguro. E, em alguns casos, a falta de filtro pode até agravar os danos às vias respiratórias. O uso do tabaco pode viciar tanto quanto o convencional, já que a nicotina é a substância que causa dependência química no indivíduo”, explica Elnara Negri, pneumologista do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. 

Vale destacar que o cigarro artesanal é pouco controlado pelas agências de vigilância sanitária. Portanto, nem sempre é possível saber qual é sua composição e quais riscos oferece para seus usuários. 

Outro agravante é que o cigarro de tabaco não tem pólvora e apaga com mais facilidade. Isso faz com que o indivíduo acenda novamente e se exponha mais aos compostos maléficos e gases, os quais são inalados sem filtro.

        Veja também: Pare de fumar: 21 passos para largar o cigarro 

 

Quais são os principais riscos para a saúde?

O uso de cigarros é prejudicial à saúde porque eles contêm muitas substâncias tóxicas e cancerígenas. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 8 milhões de pessoas no mundo morrem todos os anos devido a complicações relacionadas ao consumo do tabaco.

“Pode afetar quase todos os órgãos do corpo. Danifica os pulmões, coração, vasos sanguíneos, pele, dentes e olhos. Também afeta o sistema imunológico, tornando o corpo mais suscetível a infecções”, destaca Felipe Marques da Costa, pneumologista da BP – A Beneficência Portuguesa (SP). 

A seguir, veja alguns riscos do tabagismo para o organismo. 

 

Aumenta o risco do câncer

O cigarro é um dos principais fatores de risco para o surgimento de câncer. De forma geral, os componentes presentes afetam diretamente o DNA das células normais, causando mutações que provocam a doença. 

De acordo com “The American Cancer Society”, o tabagismo é responsável por 20% a 30% dos cânceres pancreáticos. E as pessoas que fumam também apresentam três vezes mais probabilidade de desenvolver câncer de bexiga e o dobro de risco de ter um câncer de estômago

Dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca) apontam que o tabagismo é responsável por cerca de 90% das mortes por câncer de pulmão. Além de estar diretamente associado com leucemia mieloide aguda, câncer de fígado, do útero, de laringe, da cavidade oral, faringe, de cólon e reto, traqueia e esôfago

 

Aumenta o risco de doenças cardiovasculares

O cigarro danifica o sistema cardiovascular, afetando o coração, as artérias e os vasos sanguíneos. Pesquisas apontam que a nicotina, por exemplo, contrai os vasos sanguíneos, restringindo o fluxo sanguíneo. Além disso, aumenta a pressão arterial. 

De forma geral, fumar está relacionado a maior risco de ataque cardíaco, aterosclerose (formação de placas de gordura nas artérias), acidente vascular cerebral, doença arterial periférica e aneurisma da aorta abdominal.

 

Reduz a fertilidade

Quem fuma também pode ser menos fértil. De acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, CDC, o cigarro pode afetar a produção de hormônios femininos e adiantar a menopausa em algumas mulheres.

Além disso, gestantes que fumam têm risco aumentado de desenvolver problemas durante a gravidez e na formação do feto e risco de morte para ela e o bebê. Já em relação aos homens, aumenta o risco de disfunções sexuais, como dificuldade de ereção. 

 

Prejudica o pulmão

Além do câncer de pulmão, os fumantes têm um risco aumentado de terem problemas pulmonares. Entre as doenças mais comuns, estão: tuberculose, enfisema pulmonar, doença obstrutiva pulmonar crônica (DPOC) e pneumonia

De acordo com o Ministério da Saúde, os fumantes inalam mais de 4,7 mil substâncias tóxicas, o que compromete o funcionamento dos pulmões, deixando-os mais suscetíveis às doenças.

 

Reduz a expectativa de vida

O tabagismo reduz a expectativa de vida em mais de 10 anos. Parar de fumar antes dos 40 anos diminui o risco de morte por doenças relacionadas ao tabagismo em cerca de 90%. Pesquisas apontam que apenas um cigarro já reduz em 11 minutos a vida do indivíduo. 

        Veja também: Combinar medicamentos e terapia aumenta a chance de parar de fumar

 

Sempre é hora de parar de fumar

Não importa se você fuma por 30 anos ou começou há poucos meses. O primeiro passo é reconhecer os malefícios do cigarro para o organismo e buscar ajuda de profissionais para parar de fumar o quanto antes.

“O tratamento de cessação de tabagismo geralmente envolve terapia de reposição de nicotina, medicamentos e terapia cognitiva comportamental. A terapia de reposição de nicotina pode incluir adesivos, goma de mascar, inaladores ou sprays nasais. Outras medicações, como o uso de antidepressivos, ajudam nesse processo”, explica o dr. Marques da Costa.  

Abaixo, conheça algumas dicas que contribuem para o indivíduo largar o cigarro. 

  • Mudar alguns hábitos que estavam associados ao ato de fumar, como tomar um café após o cigarro, podem ajudar;
  • É importante praticar atividade física durante todo o processo para diminuir a ansiedade e aumentar a sensação de bem-estar;
  • É comum que a pessoa tenha recaídas durante o processo e volte a fumar. É fundamental não se sentir culpado e retomar o objetivo o quanto antes. Na hora da fissura, é importante tentar controlar a situação e se distrair com algo até a vontade passar;
  • Encontrar prazer em outras atividades, como leituras, visitar exposições, ver filmes ou séries é uma alternativa;
  • A terapia comportamental é uma estratégia bastante eficaz para incentivar a mudança no estilo de vida e controlar as emoções. Vale a pena buscar terapia em grupo com outros ex-fumantes para dividir as dificuldades e angústias;
  • Para reduzir os sintomas de abstinência, é comum que os especialistas indiquem medicamentos que ajudam no processo de cessação do tabagismo;
  • Há ainda a opção de terapia de reposição de nicotina que conta com adesivos na pele e goma de mascar. Outros medicamentos para lidar com a ansiedade e angústia também podem ser prescritos. Vale a pena conhecer essas estratégias e definir com os especialistas quais serão as mais eficazes de forma individual. 

“Existem muitos recursos disponíveis para ajudá-lo a parar de fumar, inclusive no Sistema Único de Saúde (SUS).  O uso de cigarro eletrônico ou a substituição do cigarro por tabaco definitivamente não são alternativas seguras para quem deseja largar o vício”, afirma o dr. Marques da Costa. 

O especialista reforça que os benefícios a curto prazo de abandonar o cigarro incluem a melhora da pressão arterial e da frequência cardíaca, além da redução do risco de doenças cardíacas e AVC. A longo prazo, parar de fumar reduz as chances de surgimento de câncer e doenças crônicas.

        Veja também: Cigarro eletrônico sem nicotina faz mal?

 

Sobre a autora: Samantha Cerquetani é jornalista com foco em saúde e ciência e colabora com o Portal Drauzio Varella. Escreve sobre medicina, nutrição e bem-estar.

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