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Psiquiatria

Como não exagerar no uso de telas durante a pandemia

Homem faz vídeochamada com mulher pelo computador. Usar telas em excesso pode causar problemas de saúde.
Publicado em 26/05/2021
Revisado em 26/05/2021

Uso praticamente ininterrupto das tecnologias pode ser prejudicial, mas especialistas mostram formas de colher os benefícios que as telas oferecem.

 

Cansaço, improdutividade, dificuldade para se concentrar, olhos irritados, dores nas costas, estresse, mudanças de humor… Durante a pandemia de covid-19, não é difícil encontrar quem tenha tido um ou todos os sintomas citados. Além do medo e da adaptação para a rotina de isolamento social, outra explicação possível é o aumento do uso das telas.

De acordo com o relatório Digital in 2020, divulgado pelo We Are Social e Hootsuite, o tempo online dos brasileiros no primeiro ano da pandemia foi de 9h17min, muito acima da média global, de 6h43min. A análise é corroborada por dados da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), que apontaram aumento de 40% a 50% do uso da internet no Brasil logo no início da quarentena.

Como consequência desse excesso, são comuns as sensações de exaustão e esgotamento. “Isso prejudica as funções executivas, como atenção, concentração e memória, com danos ao trabalho e ao estudo”, explica a psicóloga Anna Lucia King, coordenadora do Instituto Delete, laboratório de detox digital e uso consciente de tecnologias da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Segundo a especialista, os motivos que levam as pessoas a ficarem horas na frente dos aparelhos digitais podem ser questões de trabalho ou lazer. No entanto, há ainda a possibilidade de o exagero no uso ser devido a associação com algum transtorno psicológico, como ansiedade, depressão e compulsão (quadros que se agravaram durante a pandemia).

“A relação entre as telas e essas doenças faz com que a pessoa fique ainda mais vidrada no celular ou computador. Se ela tem um quadro de ansiedade, por exemplo, ela envia uma mensagem por WhatsApp e fica agoniada esperando a resposta. É uma forma de descarregar a própria condição através da tecnologia”, afirma.

Tal condição pode gerar a adição, que é quando o indivíduo sofre perdas mais graves na vida pessoal, social, familiar, acadêmica ou profissional. Nesses casos, ele pode deixar de entregar trabalhos, passar a madrugada no celular, ouvir reclamações de pessoas próximas por não sair do aparelho, entre outros. 

No entanto, Anna Lucia explica que, em sua maior parte, o uso excessivo de telas na pandemia não está relacionado à dependência patológica. “As pessoas se queixam de que estão viciadas, de que usam computador ou telefone diariamente. Mas isso não significa vício e, sim, uma má educação ou uma falta de informação sobre como usar as tecnologias corretamente”, pontua.

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Como não passar do ponto? 

  • Aperte o freio: Limite o uso de tecnologias no dia a dia e procure fazer outras atividades que não envolvam o universo online para se distrair e relaxar. “Para quem estiver fazendo home office, uma dica é evitar olhar mensagens de trabalho fora do horário comercial”, diz a psicóloga.
  • Não use o celular na hora das refeições: Desligue ou deixe o aparelho de lado enquanto come.
  • Cuide do sono: Desligue as tecnologias pelo menos uma hora antes de dormir. “A luz do celular e o excesso de estímulos das redes sociais deixam o cérebro agitado. Então, é preciso desligar o aparelho antes e durante o sono, para evitar de acordar ansioso com a notificação de alguma mensagem”, ressalta.
  • Preste atenção na informação que está consumindo: A internet está cheia de notícias trágicas sobre a pandemia. O melhor a fazer é informar-se em portais de confiança e não insistir em assuntos que mexam com o emocional. “Nós não podemos dosar o que acontece no mundo, mas podemos cuidar de nós mesmos”, destaca a psicóloga.
  • Utilize a tecnologia ao seu favor: Faça encontros online com amigos e familiares para sair da solidão e espairecer a mente. “Use a tecnologia com qualidade, e não de qualquer maneira”, ressalta.
  • Faça exercícios físicos: Além de ser uma boa distração, ainda ajuda a manter a saúde do corpo.
  • Ensine as crianças: Todos os efeitos sentidos pelos adultos afetam também as crianças e os adolescentes, os quais ainda correm risco de acessarem conteúdos impróprios para a sua idade. “Os pais são responsáveis por darem limites e transmitirem os cuidados necessários quanto ao uso e à navegação no universo online”, lembra Anna Lucia. 

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Os olhos pedem descanso

O excesso de telas também tem efeitos diretos na visão. A concentração visual por muitas horas diminui o número de piscadas, deixando os olhos ressecados. No pior dos cenários, a pessoa desenvolve a chamada doença da superfície ocular, que pode gerar danos severos se não tratada a tempo.

“A luz azul emitida pelas telas é responsável por um cansaço maior nos olhos. Esse cansaço pode gerar um quadro de astenopia, em que a pessoa não consegue focalizar as imagens”, destaca o dr. Ricardo Paletta Guedes, diretor de publicações da Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO).

No dia a dia, é possível tomar alguns cuidados, como: 

  • Dar um intervalo de descanso para os olhos a cada 50 minutos (olhar para um ponto distante ou dar uma volta dentro de casa);
  • Manter a iluminação do ambiente maior que a que sai da tela;
  • Ajustar o brilho do aparelho de acordo com o ambiente e o horário.

Mas o dr. Ricardo alerta: “Se estiver com os olhos vermelhos, lacrimejando, ardência ocular, dificuldade para focalizar, dor de cabeça ou dor nos olhos, o melhor é procurar ajuda médica”.

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Movimente-se para além das telas

Na quarentena, as atividades físicas também ficaram comprometidas. O sedentarismo aliado ao estresse e as dificuldades em montar um ambiente ergonômico em casa para o trabalho remoto prejudicaram a musculatura da coluna de muitos brasileiros.

“Tivemos um aumento de queixas de dores músculo-esqueléticas, especialmente na região cervical, dorsal e lombar”, explica o médico ortopedista Alexandre Fogaça, chefe do Grupo de Coluna do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IOTHCFMUSP). 

Segundo ele, no caso dos computadores, é possível adaptar o ambiente: além de ter cadeira com encosto e mesa compatíveis com a altura, a pessoa precisa estar sentada com o quadril e joelhos dobrados a 90° e pés apoiados no chão ou em um anteparo. A tela do computador deve estar na altura dos olhos; e o mouse e o teclado, na altura do cotovelo dobrado. A cada 30 minutos ou 1 hora, ela deve levantar, andar um pouco e se alongar.

No caso dos celulares, a adaptação fica mais difícil. “Quando a pessoa fica com a coluna inclinada para frente usando o celular ou tablet, isso aumenta o peso da cabeça para o braço de alavanca e o esforço de sustentação é maior. O ideal é usar menos tempo ou tentar erguer o aparelho na altura dos olhos”, explica.

Assim como a psicóloga Anna Lucia, o dr. Alexandre Fogaça também recomenda atividades físicas em casa, de duas a três vezes por semana, sob a supervisão de um educador físico ou fisioterapeuta. Algumas opções são caminhada, exercícios usando o peso do próprio corpo e alongamentos.

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