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Psiquiatria

Assistir a vídeos na velocidade acelerada afeta a saúde mental?

Mais do que abandonar a ferramenta de aceleração dos vídeos, é importante se perguntar por que você está querendo apressar aquele conteúdo. Entenda.
Publicado em 06/09/2024
Revisado em 23/09/2024

Mais do que abandonar a ferramenta de aceleração dos vídeos, é importante se perguntar por que você está querendo apressar aquele conteúdo. Entenda.

 

A ferramenta que permite acelerar conteúdos não é nova em plataformas de vídeos mais longos, como o YouTube. Agora, ela tem se popularizado também nas redes de vídeos curtos, como o TikTok. Lá, onde a maioria dos conteúdos virais duram cerca de 15 segundos, a aceleração vem se tornando um hábito entre os usuários. Esse comportamento se estende para tudo: nem mesmo áudios de amigos no WhatsApp escapam do 2x.

Como consequência, muitas pessoas relatam que já não conseguem mais prestar atenção em um filme, por exemplo, se ele não estiver em velocidade acelerada. Na vida real também: uma aula com duração de 50 minutos pode parecer tortura. A sensação tem fundamento. É que o consumo cada vez mais frequente de conteúdos na velocidade acelerada pode mesmo impactar a nossa concentração e saúde mental.

 

Acelerar para quê?

“A primeira pergunta que a gente precisa se fazer é: por que e para quê? A gente vive em um mundo que tem excesso de informação por todos os lados. E, muitas vezes, as pessoas buscam esse mecanismo já por conta de uma ansiedade de fundo, né? Uma necessidade, como o próprio nome diz, de acelerar aquilo para poder consumir mais rápido e ir fazer alguma outra coisa”, explica Emerson Marques, psicólogo da UBS Jardim Eledy, gerenciada pelo CEJAM – Centro de Estudos e Pesquisas Dr. João Amorim, em parceria com a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo.

Ou seja, por um lado, a ferramenta traz vantagens: é possível otimizar o tempo e desfrutar de mais conteúdos. Por outro, estimula o mecanismo ansioso e pode provocar crenças disfuncionais que geram desmotivação, como a dificuldade de se concentrar em outros tipos de atividades.

“As pessoas têm perdido interesse por atividades rotineiras. Por exemplo, tomar um café com um amigo, estar numa roda de conversa ou qualquer coisa que envolva estar entregue, com total atenção. Justamente porque a gente tem a rede social que traz isso: essa alta demanda, velocidade e muito conteúdo. Atividades que vão para um outro lado acabam se tornando desinteressantes”, ilustra o psicólogo.

 

Pior para quem já é ansioso

Em em quem tem algum transtorno de ansiedade, o uso frequente da ferramenta pode reforçar o quadro. Nesses casos, já é difícil frear o fluxo de pensamentos intensos, bem como as crenças negativas sobre si mesmo. Ao utilizar um mecanismo que acelera ainda mais o que ela está sendo assistido, os sintomas podem se agravar.

Por causa dessa desorganização do pensamento, a pessoa tende a não conseguir absorver o conteúdo que acabou de assistir. Quando isso acontece, podem surgir outros sentimentos negativos, como “eu sou incompetente”, “eu nunca consigo entender as coisas direito”, “os outros são mais inteligentes do que eu”.

“Essas crenças podem acabar influenciando na questão da autoestima, da motivação, da capacidade de aprendizado. Muitas vezes, é onde eu acabo tendo prejuízos naquela esfera como um todo. Não só naquela aula, mas em outros momentos, me desmotivando com aquela matéria ou aquele conteúdo que eu gostava”, afirma Emerson.

Veja também: Como saber se tenho transtorno de aneidade? Conheça os sintomas

 

TDAH e a questão do hiperfoco

Acontece parecido com quem tem TDAH. É um erro pensar que pessoas com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade não conseguem se concentrar em absolutamente nada. Na verdade, elas desenvolvem o hiperfoco: um estado de concentração intensa por um conjunto de estímulos específico. Elas não só finalizam o que estão fazendo, como se focam completamente naquilo. No entanto, esse fenômeno é disfuncional, pois geralmente vem acompanhado de nervosismo, autocobrança e inflexibilidade.

Portanto, ao estimular uma atenção mais direcionada, o consumo de conteúdos com velocidade acelerada pode parecer atraente para uma pessoa com TDAH. Mas ele só tende a funcionar quando o assunto desperta seu interesse.

“Se eu estiver, por exemplo, em uma palestra ou uma aula em que eu não tenho a opção de acelerar o professor ou daquilo ser feito de uma forma mais rápida, eu provavelmente vou flutuar no pensamento. Vou ter muito mais dificuldade de conseguir me atentar, de conseguir entender aquilo que está sendo tratado”, exemplifica o psicólogo.

 

Como desacelerar?

Para o especialista, o problema não está em utilizar a ferramenta de aceleração. Para pessoas que não têm problemas psicológicos, o conteúdo em uma velocidade mais alta pode estimular a cognição e a atenção, além de trazer sentimentos positivos ao conseguir otimizar o tempo e ser mais produtivo. Mas é preciso pensar qual é o objetivo em acelerar aquele conteúdo e se isso está sendo feito de forma equilibrada.

“Uma forma de conseguir ter resultados mais satisfatórios é sempre praticar a atenção plena. Ou seja, a atenção plena naquilo que eu estou fazendo, assistindo e realizando. Independente se for para consumir um conteúdo em velocidade acelerada ou estar em uma refeição, com os amigos, numa reunião de trabalho. É conseguir estar o máximo envolvido naquela tarefa ou atividade”, recomenda Emerson.

Além disso, a dica é prestar atenção aos próprios sinais de estresse e fazer intervalos depois de consumir conteúdos digitais, em que seja possível descansar e refletir sobre a que assistiu.

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