Sintomas como taquicardia, sudorese, falta de ar e náuseas podem atrapalhar o diagnóstico de algumas doenças ao serem confundidos com ansiedade.
A ansiedade é uma resposta natural do organismo em relação a situações que causam medo, insegurança ou ameaça. Mas, quando ocorre de forma excessiva, atrapalha a rotina e provoca sintomas físicos, como taquicardia, sudorese, falta de ar, tremores, boca seca, náuseas, tontura, entre outros. Por conta disso, é comum que, em alguns casos, sinais comuns à ansiedade atrapalhem o diagnóstico de algumas doenças.
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“Frequentemente o médico se depara, durante uma consulta, com a dúvida se o quadro trata de ansiedade ou outro problema de saúde, senão ambos. Esse desafio se deve principalmente aos sinais e sintomas físicos compartilhados por diversas condições de saúde”, destaca o dr. Elton Kanomata, psiquiatra do Hospital Israelita Albert Einstein (SP).
Para o especialista, além de uma avaliação clínica detalhada, alguns sinais podem orientar o raciocínio clínico para a ansiedade, como: preocupação excessiva e apreensão sem causa aparente, sintomas que surgem apenas em situações específicas e estressantes, insônia e a melhora das manifestações com técnicas de relaxamento.
A seguir, veja as principais condições de saúde que podem ser interpretadas erroneamente como ansiedade, dificultando o diagnóstico e o tratamento adequado.
Doenças que podem ser confundidas com ansiedade
1. Doenças cardíacas
Em alguns casos, é possível confundir a ansiedade e as doenças cardíacas porque essas condições compartilham sintomas físicos semelhantes, como dor no peito, palpitações, falta de ar e tontura. Além disso, ambas as condições causam sensação de aperto no peito, aumento da frequência cardíaca e dificuldade para respirar.
A princípio, entre as principais doenças cardíacas, destacam-se:
- Doença arterial coronariana, que ocorre quando as artérias do coração ficam bloqueadas, podendo, desse modo, levar a um infarto.
- Insuficiência cardíaca, que acontece quando o coração não consegue bombear sangue adequadamente.
- Arritmias, que são as alterações no ritmo cardíaco que variam de leves a graves e, em casos extremos, levam à parada cardíaca.
Vale ressaltar, portanto, que é fundamental realizar exames para diagnosticar as causas dos sintomas e começar o quanto antes o tratamento adequado para evitar complicações e até a morte.
2. Problemas na tireoide
Alguns distúrbios na tireoide também causam sintomas que se assemelham aos da ansiedade, tornando o diagnóstico mais complexo. No caso do hipertireoidismo, quando a tireoide produz hormônios em excesso, podem surgir sintomas como nervosismo, tremores, insônia, palpitações e agitação, comuns em crises de ansiedade, devido ao impacto da condição sobre o sistema nervoso e o ritmo cardíaco.
Já o hipotireoidismo, por outro lado, ocorre quando a tireoide produz hormônios em quantidade insuficiente. Ele causa sintomas como cansaço excessivo, dificuldade de concentração, depressão e ganho de peso, que também se parecem com os efeitos da ansiedade.
Assim, nesses casos, a realização de exames de função tireoidiana, como o TSH e o T4 livre, é fundamental para diferenciar as condições.
3. Hipoglicemia
A hipoglicemia (baixo nível de glicose no sangue) gera sintomas semelhantes aos da ansiedade devido à resposta do corpo à falta de energia. Quando os níveis de glicose caem, o organismo ativa o sistema de “luta ou fuga”, provocando, assim, tremores, sudorese, palpitações e sensação de agitação, que são também comuns em episódios de ansiedade.
Além disso, a hipoglicemia, em alguns casos, causa confusão mental, tontura e fraqueza devido à diminuição de glicose no cérebro, o que pode ser interpretado como sinais de uma crise de pânico.
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4. Síndrome do intestino irritável
A síndrome do intestino irritável (SII) e a ansiedade estão frequentemente interligadas devido à comunicação entre o sistema nervoso central e o sistema gastrointestinal, conhecida como o eixo intestino-cérebro.
O estresse e a ansiedade, por sua vez, também agravam os sintomas da SII, como dor abdominal, inchaço, diarreia e constipação. Já os sintomas gastrointestinais, contudo, costumam aumentar os níveis de ansiedade, criando um círculo vicioso.
5. Asma
A asma pode provocar sintomas parecidos com os da ansiedade, principalmente no que diz respeito à dificuldade respiratória e à sensação de aperto no peito. Durante uma crise asmática, o estreitamento das vias aéreas dificulta a respiração, causando falta de ar, chiado no peito e tosse, sintomas que tendem a ocorrer também em uma crise de ansiedade.
Em ambos os casos, a pessoa costuma apresentar uma sensação de sufocamento e necessidade intensa de respirar, o que eleva a frequência cardíaca.
Além disso, a ansiedade frequentemente agrava os sintomas da asma. O estresse e a ansiedade ativam o sistema nervoso, o que piora a contração das vias respiratórias, tornando a respiração ainda mais difícil.
6. Deficiência de vitamina B12
A deficiência de vitamina B12 gera alguns sintomas semelhantes aos da ansiedade, pois a vitamina é fundamental para o bom funcionamento do sistema nervoso. Desse modo, baixos níveis de B12 causam irritabilidade, agitação, dificuldade de concentração e falta de energia, sintomas associados a distúrbios de ansiedade.
Além disso, a falta de vitamina B12 afeta a função cognitiva e causa sintomas neurológicos, como formigamento nas extremidades, dificuldade de memória e depressão, que também são semelhantes aos sinais de ansiedade. O diagnóstico é feito por meio de exames laboratoriais que avaliam os níveis de vitamina B12 no sangue.
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7. TOC
O transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) também é um transtorno de ansiedade, mas difere-se da ansiedade generalizada. Ambos, no entanto, envolvem altos níveis de preocupação e desconforto emocional. No TOC, entretanto, as obsessões (pensamentos intrusivos e repetitivos) geram grande angústia, levando a compulsões (ações ou rituais repetitivos) na tentativa de aliviar a ansiedade.
Esses padrões de comportamento costumam causar tanta angústia quanto os sintomas do transtorno de ansiedade generalizada. Além disso, ambos os transtornos causam dificuldade para dormir, de concentração e tensão muscular.
8. Epilepsia
Durante uma crise de epilepsia, a pessoa apresenta sensações de pânico, confusão, tontura, aumento da frequência cardíaca e dificuldade para respirar — sintomas comuns em episódios de ansiedade.
Além disso, essas crises podem causar medo ou angústia, desorientação e fadiga extrema, que podem ser interpretadas como sinais de ansiedade ou estresse. Também é comum que indivíduos com epilepsia desenvolvam transtornos de ansiedade devido à imprevisibilidade das crises.
9. Fibromialgia
Tanto a fibromialgia quanto a ansiedade provocam sinais de desconforto físico e emocional. A fibromialgia causa dor crônica generalizada, fadiga, distúrbios do sono e dificuldade de concentração. Esses sintomas também são frequentes em transtornos de ansiedade. Além disso, a dor crônica e o cansaço constante aumentam os níveis de estresse e irritabilidade.
De forma geral, a dor na fibromialgia é contínua e está relacionada ao sistema nervoso, já os sintomas da ansiedade, por outro lado, estão mais ligados a emoções e crises pontuais.
10. Esclerose múltipla
Por fim, a esclerose múltipla provoca sintomas como fadiga, dificuldade de concentração, tremores e dores musculares, que também são comuns em transtornos de ansiedade. A falta de controle físico e a imprevisibilidade dos surtos frequentemente geram medo e ansiedade nas pessoas com a doença.
Para diferenciar a esclerose múltipla de um transtorno de ansiedade, é importante, sobretudo, observar os sintomas neurológicos progressivos (como problemas motores) e realizar exames, como a ressonância magnética, que ajuda a identificar lesões no cérebro e na medula espinhal.
Quais são os riscos de um diagnóstico tardio?
Em síntese, o diagnóstico tardio de qualquer condição de saúde representa um risco significativo para o bem-estar geral do indivíduo. Quando uma doença não é identificada e tratada de forma adequada e precoce, contudo, seus sintomas tendem a se agravar, tornando o tratamento menos eficaz e aumentando a probabilidade de complicações graves.
“O risco de tratar um transtorno ansioso como uma doença clínica, e vice-versa, é não abordar a causa subjacente, além de utilizar medicamentos que causam efeitos colaterais e, em alguns casos, podem desencadear ou agravar os sintomas. Além disso, quando a doença não é tratada de forma adequada, há o risco de progressão, complicações e agravamento do quadro”, finaliza o dr. Kanomata.