Coqueluche: o que é e quem deve se vacinar - Portal Drauzio Varella
Página Inicial
Pediatria

Coqueluche: o que é e quem deve se vacinar

Infecção que provoca tosse seca pode causar complicações principalmente em crianças com menos de 1 ano. Vacinação é a melhor forma de prevenir a doença. 
Publicado em 25/08/2021
Revisado em 25/08/2021

Infecção que provoca tosse seca pode causar complicações principalmente em crianças com menos de 1 ano. Vacinação é a melhor forma de prevenir a doença. 

 

A coqueluche é uma infecção respiratória causada pela bactéria Bordetella pertussis. Sua principal característica são crises de tosse seca, mas os sintomas também incluem febre baixa, corrimento nasal e mal-estar. É uma doença transmissível e a contaminação acontece através do contato com a pessoa infectada ou pelas gotículas eliminadas por ela ao tossir, falar ou espirrar. 

A coqueluche pode acometer pessoas em qualquer idade, mas a população mais vulnerável à infecção são os bebês menores de 1 ano. Nesse grupo, a doença pode causar complicações como infecções de ouvido, pneumonia, desidratação e convulsões e até levar à morte. Em adultos, a doença é quase sempre assintomática. 

“Embora ela se distribua de maneira mais ou menos semelhante em todas as faixas etárias, há uma desproporção quanto às manifestações clínicas. Quanto mais jovem a criança, especialmente bebês no primeiro ano de vida, mais risco tem de agravamento, mais sintomas ela tem: aquele quadro clássico de tosse, falta de ar, os guinchos (som agudo provocado pela tosse intercalada com ingestão de ar). O risco de óbito é muito maior nas crianças pequenas”, afirma o dr. Renato Kfouri, pediatra infectologista e diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

O diagnóstico no estágio inicial pode ser difícil, pois os sintomas se assemelham muito aos de um resfriado. Para confirmar a infecção, o médico pode solicitar exames laboratoriais. O tratamento é feito com antibióticos. Nas crianças, como a doença tende a ser mais severa, pode ser necessária internação hospitalar.

 

Número de casos

No começo da década de 1980, o Brasil registrava mais de 40 mil casos de coqueluche por ano. Em 1983, os números caíram drasticamente. E a tendência de queda seguiu por anos, especialmente após 1998, com o aumento da cobertura vacinal. Em 2011, houve um aumento súbito de casos, e vários motivos poderiam explicar o ocorrido, incluindo a melhora no diagnóstico laboratorial, a vulnerabilidade de bebês com menos de 6 meses que não receberam o esquema vacinal completo e o próprio caráter cíclico da doença, que normalmente tem picos a cada 5 a 7 anos. 

Desde 2015, o número de casos vem diminuindo. A incidência da doença passou de 4,2 a cada 100 mil habitantes em 2014 para 0,7 a cada 100 mil habitantes em 2019. Em 2018, foram 1.165 casos confirmados; em 2019, foram 1.523 casos; em 2020, foram somente 229 casos de coqueluche. As informações são do Ministério da Saúde.

Segundo o dr. Kfouri, sempre há uma subnotificação nos casos de coqueluche, já que a grande maioria é de formas assintomáticas ou pouco sintomáticas da doença, que não recebem diagnóstico. Mas a redução do número de casos entre 2019 e 2020 pode ser resultado do isolamento social trazido pela pandemia. “O distanciamento diminuiu muito os números de casos de todas as doenças de transmissão respiratórias: pneumonia, meningite, gripe, bronquiolite, coqueluche. Então, nós tivemos sim uma queda importante de notificações por conta do isolamento que a covid trouxe para todos”, afirma. 

Veja também: Poluição afeta o desenvolvimento pulmonar de crianças

 

Quem deve tomar a vacina?

A  melhor forma de prevenção da doença é a vacinação, que é oferecida no SUS ainda nos primeiros meses de vida. São três doses: aos 2, aos 4 e aos 6 meses de idade. Depois, uma dose de reforço aos 15 meses e um segundo reforço aos 4 anos. A vacina é a chamada tríplice bacteriana, que protege contra difteria, tétano e coqueluche.

A SBIm recomenda que mesmo as crianças que já tiveram a doença sejam vacinadas, já que a proteção adquirida pela infecção não é permanente.

Gestantes também devem receber a vacina a partir da 20ª semana de gestação para proteger o bebê, já que o nível de anticorpos que elas produzem é tão alto que eles são transferidos para o feto, evitando que ele adoeça de forma grave até completar o seu esquema vacinal, aos 6 meses de vida. 

“A vacina na grávida deve ser feita em todas as gestações. Se ela tiver uma gravidez neste ano, outra daqui um ano e outra depois de um ano, por exemplo, ela vai tomar a vacina três anos seguidos. Embora a proteção da vacina dure cerca de 7 a 10 anos, a grávida deve tomá-la em toda gravidez, porque a gente não quer só protegê-la, a gente quer transferir os anticorpos para o bebê”, explica o médico. 

Existe ainda uma recomendação que é feita especialmente no caso de bebês de risco, como os prematuros, que é vacinar as pessoas que terão contato com o bebê, como os avós, por exemplo. No entanto, a vacina para adultos (com exceção de gestantes e profissionais de saúde) não está disponível no Programa Nacional de Imunizações (PNI) e, portanto, não é possível tomá-la através dos SUS. Nesses casos, a única opção é buscar uma clínica privada, se a família tiver condições de pagar pelo imunizante. 

“Quem pode tomar no particular a gente recomenda a vacinação de todos com a vacina tríplice bacteriana de 10 em 10 anos”, diz o médico. 

Veja também: Por que algumas vacinas precisam de reforço e outras não?

 

Atraso na vacinação 

Segundo o médico, mesmo com uma boa cobertura vacinal, durante as ondas cíclicas, a doença continua afetando desproporcionalmente os bebês no primeiro ano de vida, especialmente aqueles que ainda não completaram o esquema vacinal. “Sem falar que muitos atrasam as doses. Aqui no Brasil, o último dado que a gente tem é que as crianças fazem a primeira dose da tríplice em uma média de três meses e meio. Ou seja, metade toma depois dos três meses a primeira, metade toma depois dos 7 meses a segunda e a terceira dose vai depois do oitavo, nono mês.”

Esse atraso nas doses deixa a criança desprotegida no período em que ela é mais vulnerável à doença. “No pior ano que a gente teve aqui no país, em 2014 (falando dos anos mais recentes), 100% dos óbitos foram em menores de 1 ano de idade. E a maioria com menos de 6 meses”, conta. 

É muito importante vacinar os bebês o mais rápido possível (primeira dose aos 2 meses). No calendário de vacinação infantil da SBim, você pode conferir quais as vacinas são recomendadas para as crianças (0  a 10 anos) e quais estão disponíveis no SUS.

Veja também: Vacinação infantil | Entrevista

 

Compartilhe