O branqueamento dentário é um tratamento estético que deixa os dentes brancos, mas não é recomendado para todo mundo.
O clareamento dental sempre foi sinal de saúde e status. No Egito Antigo, segundo trabalhos acadêmicos e livros, as pessoas usavam cremes feitos de pedra-pomes e vinagre para clarear os dentes. Já no Império Romano, os moradores recorriam à urina para deixar os dentes mais brancos – a amônia presente no líquido expelido pelo corpo tem grande capacidade de limpeza.
De lá para cá muita coisa mudou. As substâncias inusitadas usadas para branquear os dentes foram substituídas por compostos mais eficientes. No final da década de 1980, a primeira técnica para clareamento dental caseiro foi relatada na literatura odontológica. O produto citado pelos pesquisadores na época, chamado de peróxido de carbamida, é o mesmo utilizado nos tratamentos feitos nos dias de hoje.
O que é o clareamento dental e como funciona?
O clareamento dental é um tratamento estético que deixa os dentes mais brancos. A técnica é relativamente simples, segundo a dentista Renata Gondo, que é professora na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e tem doutorado em Odontologia pela mesma instituição.
“Basicamente, aplica-se um gel clareador (peróxido de carbamida ou peróxido de hidrogênio) nos dentes do paciente. Quimicamente, esse produto libera oxigênio e subprodutos dentro do dente, e esse oxigênio quebra as moléculas grandes e escuras que causam a alteração de cor.”
Essas moléculas complexas e escuras mencionadas pela especialista se chamam “cromóforos orgânicos”. Uma de suas principais características é a grande capacidade de absorção de luz. Na prática, quanto maior a presença delas, mais escuro o dente fica. É aquela regra básica da física: a coloração preta absorve mais luz, enquanto a cor branca reflete.
Por que os dentes ficam amarelos com o tempo?
De forma resumida, os dentes são formados por três principais estruturas: o esmalte, que é a camada mais externa e translúcida; a dentina, que vem logo abaixo do esmalte, e é uma camada mais amarelada; e a polpa, região formada por vasos sanguíneos e nervos, que fica na parte mais interna.
Ao longo da vida, o esmalte sofre desgaste. Ao mesmo tempo, a dentina vai aparecendo. Como consequência, o dente se torna naturalmente mais escuro.
Fatores genéticos, doenças na infância, consumo de determinados medicamentos, traumas nos dentes e o uso de cigarro também podem promover a alteração de cor.
Renata explicou ainda que o consumo de bebidas e alimentos com muita pigmentação, como vinho e café, também pode manchar os dentes. Esses pigmentos da alimentação, no entanto, são facilmente removidos com uma boa escovação e uma limpeza dental. Não é preciso fazer o clareamento dental, portanto, para removê-los.
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Quais as técnicas de clareamento dental?
Existem duas técnicas principais de clareamento dental: o caseiro supervisionado e o de consultório. Para a efetividade dos tratamentos, explicou Renata, é fundamental que o paciente realize um exame clínico adequado, momento no qual todo o seu histórico é avaliado. Recomenda-se também um exame radiográfico para verificar se há algum problema que impeça o tratamento, disse ela.
Clareamento dental caseiro supervisionado
No clareamento caseiro supervisionado, o dentista entrega uma moldeira específica e individualizada para boca e um gel clareador de baixa concentração para o paciente. Além disso, repassa orientações sobre o procedimento. O paciente então leva tudo isso para casa e, de uma a duas horas por dia, deve usar a moldeira com o gel. O tratamento dura no mínimo duas semanas e no máximo um mês e meio. O ideal é que o dentista supervisione todo o processo para controle dos resultados e dos efeitos adversos que podem acontecer.
Clareamento dental no consultório
Também é conhecido por clareamento dental a laser. Por meio desse método, o dentista aplica um gel clareador com concentração maior do que o produto usado no procedimento caseiro. Normalmente, o profissional realiza quatro sessões de 40 a 50 minutos cada. “O ideal é que seja feita uma sessão por semana para não comprometer a polpa do dente”, falou Renata.
Alguns dentistas costumam aplicar o clareador e, na sequência, usar o laser. Em teoria, a luz aumentaria a eficácia do tratamento. De acordo com Renata, no entanto, evidências científicas mostram que o laser não faz diferença nenhuma no procedimento. “O que clareia mesmo é o produto.”
Além desses dois procedimentos, também existem fitas clareadoras e cremes dentais que podem ser comprados na farmácia e deixam os dentes mais claros. No entanto, segundo Renata, esses produtos não são tão efetivos. Além disso, promovem desgastes dos dentes, pois são abrasivos.
Quais os cuidados antes do clareamento dental?
Antes do clareamento dental, a pessoa precisa fazer uma boa limpeza no dente, segundo a dentista. Além disso, o paciente não pode estar com cárie, lesão ou com alguma doença na gengiva, explicou a especialista. “Para que o procedimento seja efetivo, é necessário estar com a boca saudável.”
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Quais os cuidados após o procedimento?
De acordo com Renata, os cuidados após o clareamento são simples. Basta manter uma boa higiene oral para evitar a pigmentação por alimentação. Segundo ela, durante o tratamento o paciente pode tomar café e vinho sem problema nenhum. “Se ao ingerir essas bebidas a pessoa perceber que o dente está manchando, é porque está faltando higiene bucal. Mas é só fazer uma escovação correta que a situação é resolvida.”
A principal contraindicação, falou Renata, é o cigarro, que acelera o escurecimento do dente.
Qualquer um pode fazer? Quem não pode fazer?
Nem todo mundo pode fazer o branqueamento dentário. A lista inclui mulheres gestantes e mulheres em período de amamentação, menores de idade, pacientes que finalizaram tratamento de câncer de boca e pessoas alérgicas ao peróxido de hidrogênio (o gel clareador).
No caso das mães, a contraindicação se deve ao fato que não há evidências científicas garantindo que o procedimento é 100% seguro nessa fase. Em relação aos menores de idade, o tratamento não é recomendado porque eles ainda têm muita sensibilidade, e os nervos da parte interna dos seus dentes são muito grandes.
Quais os riscos do clareamento dental?
Renata disse que os principais riscos são a sensibilidade dental e a irritação na gengiva. No tratamento caseiro, disse ela, alguns pacientes também reclamam de desconforto gástrico por causa da ingestão do gel clareador.
Sobre o autor: Lucas Gabriel Marins é jornalista e futuro biólogo. Tem interesse em assuntos relacionados à ciência, saúde e economia.
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