O que é afantasia, condição que torna difícil visualizar imagens na mente


Equipe do Portal Drauzio Varella postou em Neurologia

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Publicado em: 1 de dezembro de 2023

Revisado em: 29 de novembro de 2023

Essa condição é também conhecida como “imaginação cega” ou “mente cega”.

 

Antes de começar a falar diretamente sobre afantasia, gostaríamos de convidar você a responder algumas perguntas, algo bem rápido. E não precisa anotar nada nem mandar as respostas para nós. Primeiro: imagine uma praia. Leve o tempo que precisar para fazer isso. 

Imaginou? Como era a praia que você pensou? É alguma praia que você gosta muito ou uma que você tem vontade de conhecer? Estava cheia de gente ou praticamente deserta? Havia ondas ou o mar estava calmo? Você estava só ou com mais pessoas?

Se o que veio à sua mente foi uma espécie de quadro escuro e borrado ou se nenhuma imagem se formou na sua cabeça, isso pode ser um sinal de afantasia, também conhecida como “imaginação cega” ou “mente cega”. É uma condição em que as pessoas relatam que têm dificuldade ou não são capazes de produzir imagens mentais. 

O termo “afantasia” foi sugerido há menos de uma década, em 2015, pelos pesquisadores Adam Zeman, Michaela Dewar e Sergio Della Sala. No entanto, esse fenômeno já havia sido descrito em 1880 pelo psicólogo britânico sir Francis Galton.

Segundo Silmara Batistela, psicóloga, mestre e doutora pelo Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), esse é um tema ainda pouco estudado no país, e as pesquisas sobre o assunto são muito recentes.

“Inclusive, foi algo pouco debatido até os anos de 2010, quando, após publicação de um caso em que um senhor de 65 anos passou não ser capaz de produzir imagens mentais após lesão encefálica, os pesquisadores passaram a receber relatos de outras pessoas informando terem também a condição”, conta a especialista. 

 

Afantasia não é doença

Silmara explica que afantasia não é uma doença ou um transtorno mental. É uma condição que dificulta ou impede que a pessoa forme imagens mentais de forma voluntária, como imaginar a praia que pedimos a você no começo desta reportagem, por exemplo. “Trata-se de um fenômeno congênito, na maioria dos casos, havendo também aqueles que ocorrem em consequência de lesão encefálica adquirida”, detalha a psicóloga.

De acordo com ela, essa condição tende a ser descoberta mais tardiamente, na adolescência ou no começo da vida adulta, e isso ocorre porque a afantasia não traz sofrimento nem causa prejuízos à pessoa no dia a dia. “Os indivíduos com afantasia costumam viver uma vida normal, utilizando estratégias compensatórias.” A especialista cita como exemplo dessas estratégias escrever e usar associações.

Pessoas com afantasia costumam relatar ter menos sonhos com imagens e dificuldades com “memórias autobiográficas”, ou seja, recordações do que foi vivido,  além de problema para reconhecer rostos, “apesar de que esse relato nem sempre é confirmado por dados objetivos”, diz Silmara. 

“Apesar de acreditarem que têm prejuízos na memória, isso não é observado por meio de testes. Além disso, não se trata de uma regra. Existem pessoas com afantasia que desempenham acima da média em testes de reconhecimento de faces”, exemplifica a psicóloga.

        Veja também: Todo mundo sonha? Entenda o que acontece no cérebro durante o sono

 

Diagnóstico da afantasia

Silmara explica que o diagnóstico é feito por meio da aplicação de um questionário sobre a formação de imagens mentais. “Não se trata de uma condição que possa ser identificada por algum exame físico, como imageamento cerebral”, esclarece.

Ela afirma que o questionário usado com mais frequência é o “Vividness of Visual Imagery Questionnaire” (Questionário de Vivacidade de Imagens Visuais, em tradução livre), que foi desenvolvido em 1973 pelo psicólogo britânico David Marks. 

“Por meio desse instrumento, as pessoas são solicitadas a imaginar determinadas cenas, por exemplo ‘uma praia à beira mar num dia quente de verão’, e julgar a vivacidade das imagens mentais por características específicas, como a cor da água. Indivíduos com afantasia geralmente assinalam as opções ‘vago e obscuro’ ou ‘nenhuma imagem mental é formada na minha mente, apenas sei que estou pensando nisso’”, detalha.

 

Existe tratamento ou cura para a afantasia?

Como os estudos sobre afantasia ainda são poucos e recentes, não existe tratamento nem cura para a condição. No entanto, Silmara reforça que “não são observados prejuízos advindos dela”. “Assim, não há nenhuma necessidade de tratamento ou preocupação com a condição”, tranquiliza a especialista. 

Mas caso a pessoa observe sintomas como os que foram relatados nesta reportagem e queira ter um diagnóstico, até para entender o que se passa na sua mente, ela pode procurar um profissional de saúde, como psicólogo ou médico neurologista. 

 

Sobre a autora: Fabiana Maranhão é jornalista desde 2006 e colabora com o Portal Drauzio Varella. Tem interesse por temas ligados à saúde mental, infância e adolescência e alimentação saudável.

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