Quando a cirurgia de endometriose é indicada?

Mão de médico segurando molde do aparelho reprodutor feminino.Saiba quando o a cirurgia de endometriose pode ser recomendada, como é feita e qual o seu impacto na qualidade de vida de quem tem a doença.

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Publicado em: 8 de dezembro de 2022

Revisado em: 14 de dezembro de 2022

Saiba quando a cirurgia de endometriose pode ser recomendada, como é feita e qual o seu impacto na qualidade de vida de quem tem a doença.

 

A endometriose é uma doença na qual fragmentos do endométrio (tecido que reveste o útero) crescem fora da cavidade uterina, podendo se alojar em várias partes do corpo, como ovários, tubas uterinas e até no intestino. Esse crescimento anormal pode causar vários sintomas, sendo o mais frequente a cólica menstrual, que em alguns casos é muito intensa e incapacitante. A endometriose também pode prejudicar a fertilidade. 

Existem algumas alternativas para tratar a doença, e a cirurgia é uma delas. Abaixo, explicaremos melhor sobre o procedimento. 

 

Quando a cirurgia de endometriose é recomendada

Segundo o dr. Marcos Tcherniakovsky, ginecologista e obstetra, chefe do Setor de Videoendoscopia e Endometriose da Centro Universitário Faculdade de Medicina do ABC (FMABC) e diretor de comunicação da Sociedade Brasileira de Endometriose (SBE), existem basicamente quatro situações em que a cirurgia pode ser indicada no tratamento da doença: 

  • Falha do tratamento clínico: quando a pessoa tem prejuízo da qualidade de vida por causa da doença e apenas a primeira linha de tratamento, que normalmente inclui anticoncepcionais e medicamentos analgésicos e anti-inflamatórios, não é suficiente para uma melhora do quadro; 
  • Casos de infertilidade: quando as alterações da endometriose causam infertilidade, a cirurgia pode ser recomendada para reverter o problema;
  • Progressão da doença: quando mesmo com os sintomas controlados com medicação, os exames de acompanhamento (geralmente realizados a cada seis meses) indicam que a doença está avançando; 
  • Atinge órgãos fora da região pélvica: quando a doença está presente nas regiões do intestino, bexiga, apêndice, diafragma, etc., o tratamento cirúrgico pode ser recomendado. 

 

Como é feita a cirurgia de endometriose

Segundo o especialista, o tratamento cirúrgico da endometriose é feito principalmente através da videolaparoscopia, uma cirurgia minimamente invasiva. Uma câmera é inserida pelo umbigo por meio de um corte bem pequeno, de 1 centímetro, coloca-se um gás no abdômen, e o cirurgião tem visão de toda a região pélvica. São feitos mais dois ou três furos na altura da região pélvica e o profissional opera visualizando as imagens da câmera pela tela. 

Existe ainda a técnica robótica, em que há o auxílio de um braço robótico. Nesse tipo, o cirurgião tem visão tridimensional e os movimentos são mais precisos. O tipo de cirurgia escolhida vai depender da habilitação do profissional e também do caso específico de cada paciente. 

A anestesia utilizada é a anestesia geral. Em alguns casos, pode ser feita a anestesia combinada, em que a anestesia geral é usada junto com a raquianestesia com o objetivo de proporcionar maior analgesia no período pós-cirúrgico. Ou seja, a pessoa tem a dor reduzida depois do procedimento. 

O médico explica que o tempo da cirurgia pode variar muito, já que cada caso é diferente. Portanto, não há uma regra. “Tem casos de endometriose mais agressivos em que vai ter que ser mexido em vários locais. Pode estar nos ovários, pode ter comprometimento da bexiga, comprometimento do intestino. Depende muito. Se eu fosse dar uma média de tempo, seria entre uma hora e meia e duas horas e meia. Quando tem que mexer no intestino, três horas e meia. Mas não tem esse tempo determinado”, esclarece. 

Veja também: Endometriose: por que o diagnóstico é difícil e demorado?

 

Pré e pós-operatório

Quando não há comprometimento do intestino, o preparo para a cirurgia consiste apenas no jejum de pelo menos 8 horas. Já nos casos em que é preciso mexer no intestino, é necessário também um preparo intestinal, com dieta específica nas 48 horas anteriores ao procedimento e uso de medicações para “limpar” o intestino.

Em relação ao pós-operatório, por se tratar de uma cirurgia minimamente invasiva, há menos trauma. “Normalmente você opera de manhã, e à noite a paciente já vai poder andar pelo corredor. Geralmente essas pacientes têm em média um a dois dias de internação, mas é claro que isso também vai depender de cada caso, vai depender da recuperação”, afirma. 

Em geral, são duas semanas de afastamento do trabalho, mas em alguns casos a pessoa já está recuperada antes disso. “Hoje as coisas são muito mais rápidas. Então, costuma ser um pós-operatório muito bom, nós costumamos falar que a cada dia que passa a paciente tem que estar melhor do que no dia anterior.”

 

A cirurgia cura a endometriose?

Quando o assunto é endometriose, os médicos geralmente não falam em cura, mas sim controle da doença. E com a cirurgia, é possível conseguir um controle e melhorar muito a qualidade de vida naqueles casos em que a pessoa sofre com fortes dores. Os focos de endometriose podem retornar se nada for feito depois do procedimento, por isso é importante manter o acompanhamento e seguir as orientações médicas para manter o quadro sob controle. 

“E começa a valer uma regra: quanto menos menstruar, melhor. Quanto mais menstruar, pior. Então, uma das medidas para prevenir que essa doença retorne é bloquear a menstruação”, explica o especialista. Para isso, são usados métodos anticoncepcionais que vão desde pílulas orais até DIUs de hormônio, por exemplo. A pessoa é quem irá escolher o método com o qual se adaptar melhor. 

Outras medidas podem ser aliadas no controle da doença, como acompanhamento nutricional e prática regular de atividade física. “O exercício libera endorfina e a endorfina é o nosso melhor anti-inflamatório natural, que nós temos no organismo.”

 

Como fica a infertilidade? 

Se a causa da infertilidade é a endometriose, ao retirar os focos de forma cirúrgica, a tendência é uma melhora muito grande do problema, conforme explica o especialista. 

“Hoje a gente fala que de 30% a 50% das mulheres com endometriose têm alguma dificuldade para engravidar. Se você faz uma cirurgia e retira essas lesões, a chance dela aumenta bastante. Então, são poucas as situações em que uma mulher com endometriose não pode engravidar”, afirma. 

Nos casos em que existe o desejo da gravidez, obviamente, não poderá ser feito o uso de anticoncepcionais. Portanto, é preciso seguir as outras recomendações médicas, conforme cada caso, para controle da doença.

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