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Doenças e sintomas

Berne (miíase ou bicheira)

Médica examinando pele da região do ombro de uma paciente.
Publicado em 06/12/2017
Revisado em 30/08/2023

Berne, miíase ou bicheira é uma infecção parasitária causada por larvas de várias espécies de moscas que invadem a pele ou os orifícios naturais, como olhos, nariz e ouvidos.

 

Miíase (berne ou bicheira) é uma palavra de origem grega (myia = “mosca” + sufixo iasys = “moléstia”) que designa uma infestação parasitária causada por larvas de várias espécies de moscas que invadem o tecido cutâneo ou orifícios naturais (olhos, nariz, ouvidos, vagina etc.) do organismo de animais vertebrados de sangue quente, incluindo os seres humanos.

A doença, portanto, é uma zoodermatose. Dependendo do tipo de mosca que deposita os ovos, quando eclodem, as larvas penetram através da pele íntegra e utilizam o tecido saudável como recurso alimentar para seu desenvolvimento. Chamadas de larvas biontófagas, nas infestações mais extensas elas chegam a comprometer as condições de saúde do hospedeiro. Já as denominadas larvas necrobiontófagas proliferam somente em tecidos mortos, necrosados, ou em matéria orgânica em decomposição. No passado, estas últimas foram consideradas até úteis, uma vez que devoram o material em putrefação das feridas.

Veja também: Entenda o que é o bicho geográfico (larva migrans cutânea)

Moscas têm predileção por ambientes úmidos e de clima quente. Seu ciclo de vida possui quatro fases: ovo, larva, pupa e mosca adulta. Além de doenças de pele, como o berne e a bicheira, trabalho divulgado pela Fapesp revelou que cerca de 30% dos micro-organismos encontrados nas moscas-varejeiras são capazes de causar doenças nos seres humanos.

 

Classificação do berne

 

O berne pode ser classificado em primário e secundário, segundo a forma como os ovos são depositados nos novos hospedeiros.

 

Miíase primária

Na miíase primária, ou furunculoide, especialmente as fêmeas das moscas Dermatobia hominis — conhecidas popularmente como moscas-varejeiras ou moscas-berneiras — e mais raramente as moscas Calletroga americana, depositam seus ovos diretamente na pele íntegra de pessoas e animais ou, então, no corpo de insetos que se alimentam de sangue, que passam a servir de vetores para disseminar a infestação.

As moscas-varejeiras têm maior tamanho, duas asas grandes e corpo azul ou verde metálico. Em contato com o calor da pele de uma pessoa ou animal, de 12 a 24 horas depois os ovos eclodem e surgem larvas minúsculas, que darão continuidade ao ciclo evolutivo do inseto. Assim que se veem livres, elas invadem o tecido subcutâneo do hospedeiro através da abertura do folículo piloso ou de uma pequena escoriação na pele.

O termo berne (nome científico dermatobiose) designa a lesão nodular semelhante a um furúnculo, com um pequeno orifício no centro de onde flui uma secreção amarelada ou sanguinolenta. É por esse orifício que a larva da mosca consegue respirar.

Bernes podem aparecer em qualquer região do corpo humano, mas as áreas mais afetadas são as pernas, os braços e o couro cabeludo. As larvas permanecem sob a pele, valendo-se do tecido subcutâneo como fonte de alimentação. Caso não sejam extraídas, depois de aproximadamente 50 dias elas atingem a maturidade e caem no solo, onde dão andamento ao ciclo evolutivo até se tornarem insetos adultos.

 

Miíase secundária

Na miíase secundária, os ovos – mais de 200, 300 de cada vez – são depositados em feridas abertas ou em mucosas e cavidades ulceradas (como fossas e seios nasais, condutos auditivos, globos oculares) de hospedeiros vivos. Causada pelas moscas Cochliomyia hominivorax, Callitroga macelaria e espécies do gênero Lucilia, assim que os ovos eclodem as larvas se instalam no ferimento e passam a alimentar-se com o tecido vivo ou necrosado que encontram no local.

Existem diferentes tipos de miíase secundária, popularmente conhecida como bicheira. Merecem destaque a forma cutânea, quando as larvas podem ser vistas na superfície de feridas na pele; e a cavitária, quando grandes quantidades de larvas habitam orifícios como ânus, vagina, nariz etc.

Sem tratamento, à medida que a infestação progride, os vermes devoram os tecidos até atingirem os ossos. A doença é comum em pessoas que vivem em condições precárias de higiene e saúde, principalmente indivíduos com deficiências mentais ou transtornos psiquiátricos que dificultem a busca e acesso a serviços de saúde. O pé do diabético é um fator de risco para esse tipo de problema, que nos casos em que resulta em infecção, pode ser mortal.

Embora pouco frequente, existe também um tipo de miíase humana, chamada acidental ou pseudomiíase, cuja transmissão se dá pela ingestão de líquidos ou alimentos contaminados com ovos ou larvas dessas moscas. Após o consumos, os parasitas vão se alojar em órgãos internos, especialmente no trato urinário e nos intestinos.

 

Sintomas de berne

 

Os sintomas variam de intensidade conforme e localização e o tamanho da infestação, mas em geral incluem:

  • Coceira;
  • Dor;
  • Sensação de movimento sob a pele;
  • Queimação ou fisgada na área da lesão.

 

Diagnóstico de berne

 

Tanto na miíase primária quanto na secundária, o diagnóstico é basicamente clínico e leva em conta os sinais e sintomas da doença, que não é contagiosa. Em grande parte dos casos, é possível enxergar a larva do berne quando ela aflora para respirar. Nas formas secundárias, as larvas são visíveis na superfície atingida. Esses são achados importantes para definir o diagnóstico.

É importante esclarecer o diagnóstico diferencial com furúnculos, terçol, otites, rinites, abcessos ou lesões provocadas pela presença de corpos estranhos, que podem ter aspecto semelhante.

 

Tratamento do berne

 

O tratamento da miíase primária consiste na retirada mecânica da larva. Para tanto, fechar a abertura por onde ela respira com uma camada grossa de vaselina, esmalte de unha, ou cobri-la com esparadrapo (em alguns lugares, é comum usarem toucinho defumado para atrair a larva) força a saída da larva, que pode então ser retirada com uma pinça.

Mesmo com essas manobras, em alguns casos é necessário alargar o orifício cirurgicamente para extrair a larva totalmente e evitar que parte dele permaneça sob a pele, o que pode facilitar infecções. Para evitar esse mesmo risco, especialistas também desaconselham comprimir o local com os dedos para expulsar o parasita.

A extração mecânica das larvas intactas com pinça é também uma das condutas prescritas para o tratamento da miíase secundária. No entanto, a conduta vai depender da extensão e profundidade da ferida, já que estruturas importantes do corpo (vasos, músculos, ligamentos) podem estar sendo destruídas pela voracidade da larvas.

Em qualquer caso, a indicação do antiparasitário Ivermectina em dose única, por via oral, que provoca paralisação e morte das larvas, mesmo das regiões mais profundas, garante melhor resultado na retirada dos vermes.

Tanto na forma primária quanto na secundária, o tratamento da miíase visa a prevenir a reinfecção por larvas e as infecções bacterianas secundárias. O local da lesão deve ser mantido limpo e coberto por curativos que devem ser trocados todos os dias, de acordo com orientação médica.

 

Recomendações para evitar berne

 

Bernes podem ocorrer em praticamente todo o território brasileiro, em virtude das condições climáticas favoráveis à proliferação de insetos. Sua frequência é maior nas zonas rurais.

A prevenção está diretamente associada ao combate às moscas vetores, aos cuidados com a higiene pessoal, do ambiente e à implantação do saneamento básico adequado. Algumas orientações ajudam a prevenir:

  • Use roupas que cubram a maior parte do corpo e passe repelente naquelas que permanecerem expostas;
  • Lave as mãos com frequência, especialmente antes das refeições, depois de usar o banheiro, depois de lidar com terra, plantas e adubos orgânicos;
  • Coloque telas nas janelas e mosquiteiros ao redor das camas;
  • Passe ferro quente nas roupas que foram colocadas no varal para secar para eliminar quaisquer possibilidade de ovos terem sido implantados nas peças ;
  • Procure um médico tão logo surja a suspeita da infestação;
  • Sob nenhum pretexto recorra à automedicação;
  • Mantenha o lixo doméstico em sacos resistentes e bem fechados;
  • Evite a exposição de ferimentos que possam atrair o ataque de moscas;
  • Tome a vacina contra o tétano se ainda não foi imunizado.

 

Perguntas frequentes sobre berne

Berne de cachorros passa para humanos?

Não. Os humanos só são infectados diretamente pelas larvas das moscas.

Berne pode ser tratado com toucinho?

Na cultura popular, o toucinho é utilizado para atrair a larva para fora da pele, mas esse método não tem garantia de eficácia, além de haver risco de parte do parasita ficar sob a pele, o que aumenta o risco de infecção. O ideal é procurar um pronto atendimento para realizar o procedimento de forma segura.

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