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Clínica geral

Ozonioterapia: quais os riscos para a saúde e as indicações regulamentadas no Brasil

mão de médico aplicando injeção antes de ozonioterapia
Publicado em 23/03/2023
Revisado em 01/11/2024

Com poucas evidências científicas, o uso da ozonioterapia provoca dúvidas e controvérsias sobre possíveis benefícios.

 

Você já ouviu falar em ozonioterapia? Recentemente, a terapia realizada com ozônio ganhou interesse popular e midiático, surgindo como um método complementar a diversos tratamentos. 

No entanto, é importante destacar que o uso ainda é bastante controverso no Brasil e no mundo. Isso porque os seus possíveis benefícios ainda precisam de comprovação científica. 

Há ainda o risco de provocar efeitos colaterais e problemas de saúde – principalmente se a técnica for administrada de forma inadequada e por profissionais sem experiência. 

“Embora a ozonioterapia seja estudada há muito tempo, ainda carece de evidências científicas robustas para a sua utilização. A técnica já foi regulamentada em diversos países, porém não deve substituir uma terapia convencional ou orientações médicas”, opina o dr. Raoni Imada Tibiriça, médico intensivista da Beneficência Portuguesa (BP).

A seguir, veja mais detalhes sobre a ozonioterapia, riscos e quais são indicações de uso regulamentadas no Brasil. 

 

Onde surgiu e como funciona

O uso da ozonioterapia é bastante antigo: há relatos de que o gás ozônio, descoberto em 1840, tenha sido usado por soldados alemães para tratar feridas durante a Primeira Guerra Mundial.

A técnica evoluiu bastante e a forma que é utilizada hoje teve início em meados da década de 1940. No Brasil, a ozonioterapia surgiu por volta de 1980, ainda de forma experimental. 

E como funciona? De forma bastante simplificada, uma mistura de ozônio e oxigênio puro, chamado de ozônio medicinal, é aplicada em alguma parte do corpo para tratar uma doença específica, problemas dentários ou feridas. 

O objetivo é melhorar a oxigenação dos tecidos e também fortalecer o sistema imunológico por meio de mecanismos celulares em resposta a um estresse oxidativo. 

Portanto, a ozonioterapia poderia ser aplicada para melhorar a circulação, a oxigenação sanguínea e aumentar as ações anti-inflamatórias e antissépticas. 

Acredita-se que quando o ozônio entra em contato com os fluidos corporais, há um aumento de proteínas, glóbulos vermelhos e o suprimento de oxigênio no corpo. 

Veja também: Feridas que não cicatrizam | Entrevista

 

Formas de aplicação

A aplicação da ozonioterapia é variada e depende do objetivo terapêutico. Entre elas, podemos citar: 

  • Aplicação cutânea; 
  • Aplicação bucal; 
  • Aplicação retal;
  • Injeção subcutânea; 
  • Auto-hemoterapia, ou seja, o sangue é retirado do organismo, misturado ao ozônio e depois aplicado novamente no indivíduo.

O tempo de tratamento e número de sessões depende da condição clínica e resposta do paciente.

 

Possíveis benefícios

Sem nenhuma comprovação científica, acredita-se que a ozonioterapia poderia ajudar as seguintes doenças e condições:

Além disso, a terapia com ozônio também promete: 

  • Melhorar a imunidade; 
  • Melhorar a circulação sanguínea; 
  • Diminuir a dor;
  • Controlar inflamações e inchaços; 
  • Combater microrganismos. 

Veja também: Imunidade depois da covid

 

Regulamentação no Brasil

Em 2018, o Ministério da Saúde divulgou uma portaria que inclui a ozonioterapia à Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares do Sistema Único de Saúde (SUS). *

O documento autorizava que a técnica fosse praticada por diferentes profissionais de saúde como terapia integrativa (e complementar) em doenças cardiovasculares, para alívio da dor, cicatrização de feridas, doenças inflamatórias crônicas, entre outras situações.

No entanto, ainda em 2018, o Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou uma resolução que classifica a ozonioterapia como um procedimento de caráter experimental. Dessa forma, seu uso deveria ser limitado apenas para estudos e ao ambiente acadêmico. 

Já em 2022, a Anvisa também se posicionou e divulgou uma nota técnica autorizando o tratamento com ozônio para as seguintes situações:

  • Área odontológica: tratamento da cárie dental, inflamação e infecção, canal e regeneração tecidual;
  • Área estética: limpeza e assepsia da pele. 

Vale destacar que Agência também reforça que “até o momento não foram apresentados estudos que comprovem segurança e eficácia do uso da ozonioterapia para fins de aplicação médica”.

 

Outros posicionamentos 

A Associação Médica Brasileira (AMB) se posicionou contra o uso da ozonioterapia  em nota oficial, divulgada em 2021. 

De acordo com o documento, “a ozonioterapia deve continuar como tratamento experimental até que evidências científicas de qualidade possam alterar este status, o que deve ser feito pelo Conselho Federal de Medicina”.

Além disso, a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) se posicionou contra o uso de ozonioterapia como terapia complementar ao tratamento de artrite reumatoide por falta de evidência científica que comprove sua segurança e eficácia a longo prazo. 

Por outro lado, a prática da ozonioterapia é regulamentada pelo Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO). 

“Os poucos estudos científicos que foram realizados relacionando ozonioterapia com a saúde humana são de péssima qualidade metodológica. Além disso, esses artigos não são publicados em revistas científicas de referência. Portanto, não conhecemos bem os benefícios, tampouco os riscos da ozonioterapia para a saúde”, expõe Leonardo Pena Costa, PhD em epidemiologia pela Universidade de Sydney (Austrália) e professor de prática baseada em evidências. 

Para o especialista, quando não se sabe a eficácia de um tratamento, o que sobra são os efeitos colaterais. “É importante desconfiar quando as pessoas afirmam que a terapia com ozônio é eficaz para todas as condições de saúde e com baixo teor de efeitos colaterais. As evidências científicas sobre o ozônio são extremamente pobres, apesar de volumosas. Os artigos publicados superestimam os benefícios e subestimam os riscos. Portanto, é preciso cautela no uso”, acrescenta.

Veja também: Novas terapias complementares e integrativas no SUS | Checagem

 

Riscos e efeitos colaterais

Por ter poucos estudos científicos que atestem a sua eficácia e segurança, os efeitos colaterais da ozonioterapia também não estão muito claros. No entanto, a aplicação da técnica por profissionais não qualificados (ou que estejam fora de sua área de atuação) pode oferecer riscos à saúde.

De maneira geral, as doses que são utilizadas para tratamento e prevenção são consideradas seguras. Porém, já foram relatados alguns efeitos colaterais em algumas pessoas, como problemas cardíacos, no sistema nervoso e irritação nas mucosas. 

“Considero a ozonioterapia uma pseudoterapia que se propõe a tratar de todos os males. Não há comprovação científica e pode, inclusive, causar danos agudos e crônicos em humanos. Já foram divulgados casos de lesões na pele, problemas respiratórios, nos olhos e reações alérgicas”, afirma o dr. Nelson Bruni, médico e professor da Universidade Santo Amaro (Unisa).

Além disso, a inalação (ou aplicação por via respiratória) do gás ozônio pode causar morte, dependendo da concentração usada. 

Vale destacar que o risco aumenta em pessoas com hipertensão, diabetes descompensado, anemia, hipertireoidismo, com histórico de convulsões e hemorragias e gestantes. 

 

Ozonioterapia pode tratar a covid-19?

Não. Até o momento não há evidências científicas de que a ozonioterapia possa prevenir ou tratar a covid-19 (ou qualquer doença). No início da pandemia, surgiram algumas fake news de que a ozonioterapia, quando aplicada via retal, poderia ser eficaz no tratamento do novo coronavírus. 

No entanto, os estudos realizados contaram com poucos participantes e não foi possível comprovar se a terapia com ozônio contribuiu de alguma forma com a melhora do quadro dessas pessoas. 

Veja também: O que devo fazer se o médico me receitar o kit covid?

 

*Em agosto de 2023, foi sancionada a lei que autoriza o uso da ozonioterapia em todo o território brasileiro, sob determinadas condições e como tratamento complementar. Saiba mais aqui.

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