O que devo fazer se o médico me receitar o kit covid?

Infelizmente, ainda existem muitos médicos que prescrevem medicamentos do chamado kit covid. Veja o que você pode fazer nesses casos.

Saiba como proceder se o profissional indicar medicamentos sem eficácia comprovada para prevenir a covid-19.

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Publicado em: 14 de junho de 2021

Revisado em: 14 de junho de 2021

Saiba como proceder se o profissional indicar medicamentos sem eficácia comprovada para prevenir a covid-19.

 

É muito comum, principalmente entre os segurados de certos planos de saúde, sair dos consultórios médicos com uma longa e detalhada relação de medicamentos para supostamente prevenir a contaminação pelo novo coronavírus ou, para quem tem suspeita ou confirmação do diagnóstico de covid-19, impedir que a doença se agrave. 

A extensa lista de remédios, que inclui vitaminas C e D, zinco, ivermectina, azitromicina, prednisona, entre outras drogas, é popularmente chamada de “kit covid”. A hidroxicloroquina, que, aliás, já segundo as evidências científicas acumuladas não funciona para tratar a covid-19, felizmente não está mais tão em voga entre os médicos prescritores do “kit covid”, segundo os especialistas com quem conversei para esta reportagem. 

Mas então o que fazer se o médico receitar esses medicamentos, muitas vezes sem sequer saber o resultado do teste de covid? 

A primeira recomendação é questionar o profissional de saúde. Segundo a hepatologista Ilka Boin, do Hospital das Clínicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o ideal é perguntar ao médico o que exatamente ele está indicando e para que serve cada medicamento.

 “Pergunte dos riscos, se há possível interação medicamentosa, principalmente se você tiver alguma enfermidade como diabetes e pressão alta. É importante questionar, trocar informações. Como não são medicamentos indicados para covid, não há protocolo, então cada médico segue uma linha, o que é totalmente inaceitável do ponto de vista científico. Pode haver riscos graves [no uso]”, explica. 

Dr. Raymundo Paraná, hepatologista e professor titular de gastro-hepatologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), tem opinião similar. “Se o paciente não se sentir seguro, ele tem todo direito de contestar, de querer saber o que está usando, de buscar outra opinião, porque essa é a medicina moderna, em que o paciente é um agente direto do seu tratamento.” 

Veja também: Os riscos da automedicação na pandemia

De qualquer forma, a pandemia da covid-19 serviu para mostrar que a figura mítica do médico detentor de um saber absoluto e inquestionável caiu por terra. Apesar dos inúmeros estudos e evidências científicas que contradizem a indicação desses medicamentos para o tratamento da covid-19, muitos médicos continuam prescrevendo o “kit covid”, colocando os pacientes em risco. “Quem fica de mãos atadas é o paciente, totalmente vulnerável. Por exemplo, pensam que prescrever vitamina D não vai fazer mal. Imagina. A suplementação só é indicada para pacientes com deficiência, porque em grandes doses [essa vitamina] pode aumentar a absorção de cálcio, o que ajuda a formar cálculo renal. [A vitamina D] Não tem nenhuma ação direta no sistema imunológico, assim como o zinco”, esclarece Paraná. 

Resista também à tentação do famoso pensamento “mal não vai fazer”. Isso não é verdade. A dra. Ilka, que também é coordenadora da Unidade de Transplantes Hepáticos do HC de Campinas, diz que no momento acompanha oito pacientes que estão com problemas hepáticos por conta do uso indiscriminado de ivermectina. “Recebi pacientes que estavam tomando [a droga] desde novembro do ano passado. Só para ter uma ideia, as taxas normais dessas enzimas ficam entre 18 e 40 U/L. As enzimas desses pacientes estão 1000 U/L para cima. O problema é grave, porque se não for feito nada, pode ser necessário o transplante de fígado ou, em determinadas situações, o paciente pode morrer. Então a primeira coisa que a gente faz é suspender o uso, mas a droga demora até três meses para sair do organismo. Por isso é preciso acompanhar [o paciente] de perto.” 

Se você ficar em dúvida se deve ou não tomar os medicamentos, procure outro profissional de saúde e relate seu receio. Mas lembre que, conforme o dr. Raymundo afirmou, cerca de 80% dos pacientes com covid-19 vão evoluir bem, ou seja, sem sintomas graves ou necessidade de internação. Procure descansar, hidrate-se bem e use sempre máscara, de preferência a pff2

Veja também: Qual é o direito do médico e o direito do paciente? | Coronavírus

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