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Carnaval: um guia para sobreviver às festas sem perrengue

Saiba como curtir o feriado de Carnaval até o fim sem prejudicar a sua saúde.
Publicado em 17/02/2023
Revisado em 16/02/2023

Saiba como curtir o feriado de Carnaval até o fim sem prejudicar a sua saúde.

 

O primeiro Carnaval sem restrições depois de mais de dois anos de pandemia da covid-19 está chegando. Para muitos, a vontade é de aproveitar em dobro a maior festa do país, seja nos blocos de rua ou na avenida. Mas é preciso tomar algumas precauções para não queimar a largada e acabar perdendo o feriado mais aguardado do ano.

O guia a seguir serve para lhe ajudar a pular o Carnaval com a maior segurança possível. A dra. Vânia Maia, clínica geral do Hospital da Beneficiência Portuguesa (BP) e do Hospital São Camilo, ambos em São Paulo, e o dr. Christian Morinaga, gerente médico do pronto-atendimento do Hospital Sírio Libanês, também em São Paulo, dão dicas para chegar inteiro à quarta-feira de cinzas.

 

Tá com sede?

A primeira dica é: beba água. Mesmo sendo um hábito simples, e quase óbvio, muita gente esquece esse detalhe em meio à folia. 

“É muito importante se manter hidratado. E não precisa ser só água potável, pode ser sucos ou alimentos que contenham líquido”, explica a dra. Vânia Maia. Entre esses alimentos, destacam-se as frutas, como melancia, morango e pêssego.

Com o clima quente e o corpo em constante movimento, perdendo líquido pelo suor, a desidratação se torna um risco real. O problema, segundo o dr. Christian Morinaga, é que as pessoas demoram a perceber os sintomas.

“Às vezes, o primeiro sinal é quando a pessoa vai urinar: arde e a urina sai concentrada. Quando isso acontece, significa que você já perdeu muito líquido”, alerta. 

Boca seca, taquicardia e fadiga são mais alguns dos sinais da desidratação. Para evitar uma visita ao pronto-socorro em pleno feriado, mantenha sempre uma garrafinha de água com você.

Veja também: Como incentivar idosos e crianças a beberem água

 

Não esqueça de se alimentar

Comer bem também é essencial. Pela facilidade, muitas pessoas costumam comer na rua, e podem desenvolver uma intoxicação alimentar ou uma infecção intestinal por conta disso.

Antes de parar em qualquer barraquinha ou ambulante, preste atenção nas dicas da dra. Vânia:

  • Tente observar a procedência dos alimentos que você está consumindo;
  • Dê preferência a alimentos cozidos ou fritos em altas temperaturas, porque isso evita a proliferação de bactérias e vírus;
  • Evite alimentos crus e mal cozidos;
  • Evite alimentos em conserva, como palmito, pois podem provocar botulismo;
  • Preste atenção na coloração, odor e sabor dos alimentos;
  • Atente-se à higiene do local onde vai comer;
  • Dê preferência à água potável, pois, quando contaminada, a água também pode gerar intoxicação alimentar.

Essa é a segunda queixa mais comum nos pronto-socorros e também uma das que mais estragam a festa para os foliões, já que provoca enorme mal-estar e exige repouso associado ao uso de antibióticos. Vômito, diarreia, dor abdominal, cólica e febre são alguns dos sintomas.

“Planeje-se e tenha alimentos prontos de fácil transporte, como barrinhas de cereal ou frutas secas. A cada três horas, tente se alimentar com alguma coisa, mas evite locais em que você não consegue avaliar a procedência ou sabe que não possui conservação adequada dos alimentos”, recomenda o dr. Christian.

 

Olha a ressaca aí, gente!

O médico lembra que se hidratar e comer bem antes de correr atrás do trio elétrico também é fundamental para amenizar a ressaca do dia seguinte.

“Nunca comece com o álcool. O ideal é já ter se alimentado e se hidratado antes de começar a beber. Como o álcool tem efeito diurético, é sempre bom intercalar um gole com alguma outra bebida, como água de coco ou suco”, afirma o clínico geral. Enquanto bebe, os alimentos com carboidratos podem ajudar a minimizar os efeitos do álcool. É o caso das frutas e dos doces, por exemplo.

Outra dica, de acordo com a dra. Vânia Maia, é não misturar diferentes tipos de bebidas alcóolicas. Se começou na cerveja, termine na cerveja. Ao misturar, as consequências do alcoolismo são mais exacerbadas e a ressaca também.

Se passar do ponto, vai precisar ficar em repouso e se hidratar. Alimentos leves a cada três horas, como melão, bolachas de água e sal e outros carboidratos de fácil absorção ajudam. Se os sintomas da ressaca estiverem muito intensos, o melhor a fazer é procurar um pronto-socorro.

É importante ressaltar que, infelizmente, o Carnaval está cheio de pessoas mal-intencionadas. Por isso, quando for consumir bebidas alcoólicas, busque cercar-se de pessoas de sua confiança. E, é claro, se beber, não dirija.

Veja também: Café cura ressaca?

 

Cuidado com o corre

Por outro lado, além do álcool, muitos foliões vão atrás de drogas. Entre as mais comuns, estão a maconha, que provoca relaxamento; o lança-perfume, que aumenta a adrenalina no corpo; e o MD, que gera mais impulsividade. Ainda que a recomendação geral seja não utilizar nenhum tipo de substância ilícita, se você optar por fazer o seu “corre”, deve seguir algumas dicas de redução de danos, detalhadas pela dra. Vânia:

  • Tenha uma rede de apoio: “Como essas drogas alteram muito a parte física e também psíquica da pessoa, é muito importante que elas estejam com pessoas que conhece ao seu redor. Caso sinta alguma coisa diferente, já tem a quem pedir ajuda”, diz a médica.
  • Esteja bem consigo mesmo: “Isso se reflete diretamente na forma como a droga vai agir no corpo e em como a pessoa vai se sentir após o uso”, alerta.
  • Alimente-se durante o processo: “Comer durante o uso da substância reduz os sintomas e os efeitos adversos, limitando a potencialidade da droga”, lembra a especialista.

E um dos pontos mais importantes é não aceitar nenhuma substância oferecida por estranhos. Saber a procedência da droga é fundamental, até para evitar situações de vulnerabilidade.

“Tem sido frequente a contaminação por drogas cujo efeito é dar uma sonolência profunda a ponto da pessoa ficar desacordada. Quem contaminou se aproveita para fins sexuais ou furto… É sempre uma situação muito trágica”, conta o dr. Christian.

Se isso acontecer, acione o serviço de saúde ou de polícia mais próximo de você.

 

Faça chuva ou faça sol

Por mais que o Carnaval seja um período de curtição em que ficar em casa não é uma opção para muitos foliões, é preciso olhar um pouco para o céu. Em muitas das regiões do país, o feriado é marcado pelo sol intenso e chuvas fortes, o que pode provocar insolação e outros problemas.

Em relação ao sol forte, a dra. Vânia reforça a necessidade de usar filtro solar, bonés e roupas que protejam da exposição. Se possível, evite os momentos em que os raios solares são mais intensos, entre 12h e 16h, e mantenha-se hidratado. A insolação, além de se manifestar através de queimaduras na pele, ainda pode gerar febre, dor no corpo e cansaço extremo.

Já no que diz respeito às chuvas, o dr. Christian explica que a água das enchentes, principalmente nas cidades, pode se misturar com a urina de rato contaminada, proveniente do esgoto, e aumentar o risco de leptospirose. Portanto, utilize calçados que protejam os pés e, se houver suspeita de inundação, procure uma área mais seca. Nos dias seguintes, fique atento aos sintomas: febre, dor no corpo, dor na panturrilha e pele amarelada (icterícia). Caso surjam, busque um serviço médico imediatamente.

Veja também: Cuidados com a pele no verão: entenda por que eles são essenciais

 

Doença do beijo, não

No que diz respeito aos relacionamentos, existem algumas precauções específicas. Se você estiver com alguma ferida na boca, seja ela provocada por herpes, mononucleose (doença do beijo) ou qualquer outra doença que se manifeste na mucosa, o ideal é evitar o contato íntimo com outros foliões.

“Respeite essa fase. É chato, porque é um período de festas, mas a gente tem que pensar no próximo também. Enquanto estiver com alguma ferida, não beije”, aconselha o clínico geral.

No entanto, a dra. Vânia lembra que nem sempre a pessoa que está transmitindo alguma dessas doenças apresenta feridas. Por isso, ela recomenda a higiene constante e correta das mãos a fim de evitar a contaminação.

 

Não esqueça a camisinha

Em relação ao sexo seguro, você já sabe: o uso do preservativo é indispensável. O dr. Christian ressalta que, mesmo que se faça uso da PrEP, a profilaxia pré-exposição, a camisinha se faz necessária, já que o tratamento protege apenas contra o HIV e não contra as outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Os preservativos estão disponíveis gratuitamente em todas as unidades básicas de saúde, pronto-socorros e até em algumas estações de metrô.

“Caso a pessoa faça sexo desprotegido e suspeite de alguma IST, existem testes que podem ser feitos pelo SUS e também a PEP, profilaxia pós-exposição ao HIV. Oferecido gratuitamente pelo SUS, a PEP deve ser iniciada em até 72 horas após a relação”, explica a dra. Vânia.

O prazo é o mesmo para a pílula do dia seguinte, que pode ser usada em situações emergenciais para evitar uma gravidez indesejada. Quanto antes tomar, mais chance de ter efeito.

Veja também: Qual a melhor maneira de prevenir ISTs?

 

Vacine-se!

Felizmente, o número de casos de infecção e óbito por covid-19 vem diminuindo a cada dia no Brasil. Ainda assim, o Carnaval é um período de grandes aglomerações e o risco não deixou de existir.

“Quem não se vacinou tem que se vacinar. O fato da gente poder estar curtindo o Carnaval hoje se deve muito à adesão da população à vacinação”, destaca o dr. Christian.

Se, ao longo do feriado, você experimentar sintomas respiratórios, como nariz escorrendo, tosse e febre, investigue e evite o contato com outras pessoas.

 

Deu ruim?

Por fim, se você exagerou ou até se sofreu algum acidente no meio do bloquinho, procure um serviço médico ao seu redor. Nesses eventos, as equipes do SAMU costumam ficar espalhadas pelas ruas com profissionais capacitados para tratar dos problemas mais simples ou encaminhar a um pronto-atendimento se for algo mais grave. Caso não encontre nenhum profissional de saúde, peça ajuda para um policial, que te levará até a ambulância mais próxima. 

Veja também: Primeiros socorros | Entrevista

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