A calvície, condição genética que afeta tanto homens quanto mulheres, pode ser “burlada” com a ajuda da medicina. Veja os tratamentos para a calvície disponíveis.
A calvície, nome popular da alopecia androgenética, é uma condição natural. Um em cada dois homens, segundo diferentes estudos, vai ficar calvo até os 50 anos de idade. As mulheres também são afetadas, mas em proporções menores, visto que a perda de cabelo está mais relacionada aos hormônios masculinos.
Apesar de a calvície não gerar nenhum problema de saúde, a busca pela reversão da condição é antiga. No Egito Antigo, por exemplo, as pessoas passavam uma mistura cozida de cascos de burro e tâmaras na cabeça para tentar recuperar as madeixas, enquanto no Império Romano usavam mirra (planta medicinal).
De lá para cá, graças ao avanço da medicina e da ciência, os tratamentos evoluíram, e não é mais preciso passar cremes sem eficácia no couro cabeludo. Hoje em dia, há medicamentos específicos para a alopecia androgenética, tratamentos complementares feitos em clínicas e o transplante capilar.
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Medicamentos contra a calvície
O “padrão ouro” no tratamento da calvície em homens envolve o uso dos medicamentos finasterida, dutasterida (uma “prima” da finasterida) e minoxidil, segundo a dermatologista e cirurgiã capilar dra. Leila Bloch, que tem doutorado em ciências da saúde na área de cabelos.
“A finasterida e a dutasterida são remédios que servem para evitar que o cabelo afine com o tempo. Já o minoxidil, que existe nas formas oral e tópica, faz o cabelo ficar na fase de crescimento por mais tempo”, explica a dra. Leila.
Para entender o mecanismo de ação dos remédios, primeiro é preciso compreender o papel dos hormônios na queda dos cabelos e o ciclo de vida dos fios, que saem dos folículos capilares (espécie de bolsa na hipoderme). O resumo é o seguinte:
Homens e mulheres produzem testosterona, hormônio andrógeno envolvido na espermatogênese (formação de espermatozoides), no crescimento de pelos, no desenvolvimento de órgãos genitais, entre outras funções. O organismo converte parte da testosterona em di-hidrotestosterona (DHT), um subproduto da testosterona ainda mais potente, que age especialmente na próstata e no couro cabeludo. Uma enzima – proteína “especial” que catalisa reações – chamada 5-alfa-redutase ajuda nesse processo.
O grande problema é que o DHT, em indivíduos geneticamente dispostos, reduz o ciclo de crescimento do cabelo e também o diâmetro do fio a cada ciclo. É aqui que entram em cena a finasterida e a dutasterida, que inibem a enzima 5-alfa-redutase, bloqueando, dessa forma, a conversão da testosterona em DHT e inibindo, como consequência, o afinamento do cabelo. “A dutasterida tem eficácia 20% maior que sua ‘prima’”, diz a dra.Leila.
Já o minoxidil, que é um vasodilatador, ajuda o cabelo a ficar mais tempo na fase de crescimento. Assim como os seres vivos, que nascem, envelhecem e morrem, o cabelo também tem seu próprio ciclo de vida, dividido em três períodos: o crescimento, chamado de anágena, fase que o medicamento ajuda a postergar; a etapa de transição, conhecida como catágena; e, por fim, o período de queda, que recebe o nome de telógena.
Mulheres podem usar finasterida, dutasterida e minoxidil como tratamentos para a calvície?
Existe uma diferença entre a calvície do homem e da mulher. Nos indivíduos do sexo masculino, o padrão de perda capilar acontece nas áreas das entradas e na coroa (topo da cabeça). Já nas pessoas do sexo feminino, o padrão é um pouco mais difuso, não se limitando a essas áreas.
As mulheres podem usar tanto a finasterida como a dutasterida, mas seu efeito é menor. Por isso, segundo a médica dermatologista dra. Mariana Okamura, que também foi consultada para esta reportagem, o tratamento costuma ser associado a outros medicamentos e anticoncepcionais.
“Para mulheres, costumamos associar o tratamento com a espironolactona, um diurético que faz com que o organismo absorva menos sal. Quando elas usam anticoncepcional também é possível fazer a associação com comprimidos que tenham progestágenos [esteroides] com ação antiandrogênica [que diminuem os efeitos dos andrógenos]”, explica.
O minoxidil também está liberado para mulheres, mas apenas a solução tópica.
Contraindicações e eficácia dos tratamentos para a calvície
A finasterida e a dutasterida não são indicadas para homens que estão tentando engravidar suas parceiras, pois podem diminuir a concentração e a motilidade dos espermatozoides. As duas drogas também podem piorar casos de depressão – portanto, indivíduos com a condição precisam de autorização do psiquiatra. Como efeito colateral, tanto a finasterida quanto a dutasterida podem causar diminuição da libido.
Mulheres que tiveram câncer de mama ou têm casos da doença na família não podem usar os medicamentos, porque eles têm ação contra o hormônio masculino, o que pode aumentar o risco de desenvolvimento da enfermidade. “Então sempre pesquisamos o histórico familiar e pessoal”, conta a dra. Leila. A secura vaginal é um dos principais efeitos colaterais nas pessoas do sexo feminino.
Como o minoxidil é um vasodilatador, ele não é indicado para pacientes com problemas cardíacos, gestantes e lactantes. O efeito colateral desse medicamento é principalmente a hipertricose (crescimento excessivo de pelos). Também pode ocorrer edema ao redor dos olhos ou na panturrilha. Se tomado à noite, o minoxidil via oral também pode causar insônia.
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Drug delivery no cabelo
Além do tratamento com remédios, outra estratégia para lidar com a calvície é o drug delivery (entrega do medicamento, na tradução livre para português), que basicamente consiste na aplicação das três drogas mencionadas acima bem como de vitaminas diretamente no couro cabeludo.
Há várias técnicas no mercado, mas as quatro principais são as seguintes, segundo as especialistas:
Mesoterapia capilar ou intradermoterapia: Consiste na injeção das principais drogas de tratamento contra a calvície diretamente na região do couro cabeludo – ou seja, finasterida ou dutasterida e minoxidil.
Microagulhamento do couro cabeludo: Um dispositivo com agulhas é usado para fazer pequenas lesões no couro cabeludo. No momento da cicatrização, essas perfurações ajudam a estimular o folículo a espessar e fortalecer o fio. A técnica pode ser feita isolada ou associada a medicamentos.
Microinfusão de medicamentos (MMP): Funciona através da microinfusão de medicamentos com um equipamento com microagulhas, semelhante a uma máquina de tatuar. A infusão é bem pequena e superficial.
“Em geral, costumo indicar seis sessões dos tratamentos acima, com intervalo de um mês, a não ser que o grau de calvície seja muito avançado, porque daí são necessárias mais sessões. Lembrando que o paciente deve continuar com o tratamento clínico em casa”, diz a dra. Mariana.
Tratamento a laser: É um tipo de laser que vai agir na camada abaixo da epiderme, estimulando o colágeno da área do couro cabeludo e fazendo os folículos capilares produzirem fios mais espessos e fortes. É um complemento aos tratamentos injetáveis, e dura três sessões. Não é indicado para gestantes e pessoas com alguma lesão no couro cabeludo.
Transplante capilar
O transplante capilar é a alternativa indicada para aqueles pacientes com graus mais avançados de perda capilar e que já estejam em tratamento clínico estável. A cirurgia consiste em retirar folículos capilares da região occipital (parte de trás da cabeça), chamada de área doadora, e transplantá-los na área receptora, onde ocorreu a perda de cabelo.
As duas principais técnicas são a FUE (sigla em inglês para extração de unidade folicular) e a FUT (sigla em inglês para transplante de unidade folicular), de acordo com a dra. Leila.
FUE – Por meio dessa técnica, 20% a 25% dos fios são retirados da área doadora, geneticamente resistente à queda. Essas unidades são separadas e transplantadas para a área receptora, local onde o paciente tem perda de cabelo.
FUT – Ocorre a retirada de uma faixa do couro cabeludo da área doadora. É uma técnica mais indicada para pacientes que já passaram pelo transplante antes, funcionando como corretora e revisora.
Tanto a sessão do FUT como a do FUE duram cerca de seis horas. São transplantados em média 7.500 fios de cabelos. A eficácia, explica a dra. Leila, é de quase 100%. Geralmente uma sessão basta, mas isso vai depender do grau de calvície da pessoa. “Mesmo com o transplante, o paciente precisa continuar tomando os remédios para calvície. O tratamento é contínuo”, completa.
Após o transplante capilar, a pessoa deve ficar em repouso e não fazer atividade física nas duas primeiras semanas, além de evitar exposição ao sol no primeiro mês, segundo a dra. Leila. Depois de 36 horas do procedimento, já é possível voltar para o trabalho. O uso de analgésicos nos dois primeiros dias também é indicado como prevenção da dor.
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Sobre o autor: Lucas Gabriel Marins é jornalista e futuro biólogo. Tem interesse em assuntos relacionados à ciência, saúde e economia.