Quando a procrastinação vira um problema de saúde mental?

Mulher no sofá sorri diante do celular. Deixar tarefas para depois é uma estratégia comum do cérebro, o problema é quando a procrastinação ocorre sempre.

Compartilhar

Publicado em: 2 de dezembro de 2022

Revisado em: 14 de dezembro de 2022

Deixar tarefas para depois é uma estratégia comum do nosso cérebro, o problema é quando a procrastinação acontece sempre.

 

Se você pudesse escolher entre ir para a academia ou ficar no sofá assistindo a séries, o que você escolheria? Com certeza, a segunda opção parece bem mais convidativa. Isso não faz de você mais preguiçoso(a), apenas humano: é a escolha óbvia para o nosso cérebro.

Isso porque ele está o tempo todo analisando a relação entre custo, benefício e tempo, ou seja, qual alternativa oferece o menor esforço para obter a melhor recompensa em menos tempo. Dessa forma, descansar enquanto assiste a séries pode não ser vantajoso para o corpo, mas é muito mais prazeroso para a mente.

O problema é que, no dia a dia, temos que cumprir várias tarefas que exigem esforço, tempo de dedicação e não são nada interessantes, como estudar para uma prova, lavar a louça ou concluir um trabalho no prazo. Por conta do sistema de recompensa cerebral, quando nos deparamos com essas atividades, a primeira reação é procrastinar.

 

O que é a procrastinação e quando ela indica um problema de saúde mental

“A gente chama de procrastinação o ato de atrasar voluntariamente o curso de uma ação. Colocamos para frente em um dia, um mês ou por tempo indeterminado, uma tarefa que sabemos que precisamos realizar”, explica Camila Puertas, psicóloga especialista em saúde mental pela Universidade  Federal de São Paulo (Unifesp).

Ainda que muitos acreditem que precisamos estar sempre motivados e enérgicos, isso não é verdade. A procrastinação é natural e tem ligação direta com o estado emocional. Por exemplo, se uma pessoa terminou um relacionamento recentemente e está triste, é esperado que ela adie algumas tarefas devido à queda dos níveis de hormônios necessários para motivá-la. O problema da procrastinação está quando esse sentimento perdura.

“A partir do momento em que você está se sentindo completamente sem energia, desmotivado(a) e preguiçoso(a) o tempo todo, isso é um sinal importante. A procrastinação não é um diagnóstico de saúde mental, mas um sintoma de que algo não vai bem”, pontua Camila.

Veja também: Por que o cérebro fica cansado no fim do dia?

 

Tipos de procrastinação

Ao perceber esse padrão, é fundamental buscar as raízes do problema para saber por onde começar. Não existe uma categorização padrão de como as pessoas procrastinam suas tarefas, mas alguns estudos na psicologia definem os seguintes tipos:

  • Procrastinador buscador: Geralmente ligado à depressão ou ao estresse crônico, esse indivíduo está sempre tentando equilibrar o sistema de recompensa cerebral, recorrendo a estímulos rápidos e prazerosos, como o uso de celular e o consumo exagerado de alimentos calóricos.
  • Procrastinador evitador: Com raiz na ansiedade, a evitação de realizar as tarefas está centrada no medo de errar ou de sair prejudicado. É aquela pessoa que enrola para estudar para o vestibular com medo de não passar, por exemplo.
  • Procrastinador indeciso: Essa categoria está relacionada ao sentimento de saber o que tem que fazer, mas não saber por onde começar e, por conta dessa indecisão, acaba estagnado. Tem a ver com o transtorno de déficit de atenção (TDAH), um distúrbio que mexe diretamente com o neurotransmissor responsável pela motivação. 
  • Procrastinador misto: Reúne as características de duas ou mais das categorias acima.

Com o tempo, cada um desses procrastinadores fica mais sujeito ao aumento da ansiedade, do estresse e da depressão, assombrado pela ideia de que se “eu não fiz, eu não consigo”. A partir daí, fica mais difícil cumprir com os compromissos e manter a qualidade de vida, já que o cérebro vai buscar recompensas em outras atividades pouco ou nada saudáveis.

 

Então, o que fazer?

Dependendo do tipo de procrastinador e da relação que esse sintoma tem com um problema de saúde mental mais grave, o curso do tratamento se modifica. Mas, em geral, para evitar entrar nesse ciclo de adiamento, a psicóloga dá algumas dicas: 

  1. Mantenha bons hábitos de vida: de acordo com Camila, o ponto de partida é óbvio: manter uma rotina, alimentar-se corretamente, dormir bem, controlar o estresse e praticar atividades físicas;
  2. Organize uma agenda: a psicóloga também indica eleger um dia de início da semana (domingo ou segunda, por exemplo) e, no dia anterior, separar quais serão as tarefas urgentes, importantes e que poderão ser flexibilizadas ao longo desse período, de forma a organizar a rotina;
  3. Exponha-se ao tédio: a especialista explica ainda que o cérebro não foi programado para viver em um mundo com tantos hiperestímulos, portanto, desligar as notificações do celular e se expor ao ócio pode ser bastante positivo.

Veja também: Como conseguir atendimento psicológico gratuito

Veja mais