Bexiga hiperativa relacionada a ansiedade e depressão – Saúde Sem Tabu #22

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Publicado em: 6 de julho de 2022

Revisado em: 3 de agosto de 2022

A urgência em urinar pode estar relacionada com quadros psicológicos, como ansiedade e depressão. Saiba mais neste episódio.

 

 

 

Sabe quando dá aquela vontade de fazer xixi que parece impossível segurar até chegar no banheiro? Algumas pessoas têm essa urgência com frequência, mesmo que a bexiga nem esteja muito cheia. É a chamada bexiga hiperativa, uma condição urológica que afeta principalmente as mulheres.

Em alguns casos, ela ainda está relacionada a casos de depressão e ansiedade. Neste episódio do Saúde Sem Tabu, Mariana Varella conversa com a urologista Marília Buenos Aires para entender melhor a bexiga hiperativa e a sua relação com os transtornos psicológicos.

Olá, eu sou Mariana Varella, editora-chefe do Portal Drauzio Varella, e tá começando agora mais um episódio do podcast Saúde Sem Tabu, que conta com o apoio da Tena, marca líder mundial em produtos pra incontinência urinária. Este é o 22º episódio do nosso programa e aqui é um espaço pra discutir temas de saúde que são cercados de preconceitos e, por isso, costumam ser pouco ou mal abordados pela mídia e pelos médicos. Seja bem-vindo!

Todo mundo em algum momento já sentiu uma vontade de urinar tão forte que achou que não ia conseguir chegar até o banheiro. Isso ocorre quando deixamos a bexiga urinária muito cheia e o órgão, então, envia sinais nervosos, alertando o cérebro para disparar a vontade de urinar. Mas algumas pessoas têm essa urgência com frequência, mesmo quando a bexiga não tá muito cheia. Nelas, os sinais nervosos emitidos ao cérebro não funcionam direito ou isso também pode ocorrer quando a musculatura da bexiga não tá muito ativa. Essas pessoas têm bexiga hiperativa, um distúrbio que, além da urgência de urinar, pode causar escapes de urina frequentes, trazendo transtorno a quem precisa conviver com o problema. Pra falar sobre bexiga hiperativa, eu trouxe a doutora Marília Buenos Aires, médica urologista.

 

Mariana Varella: Bem-vinda, doutora Marília.

Dra. Marília Buenos Aires: Olá, Mariana, obrigada pelo convite. É um tema realmente muito interessante, que tem grande impacto, né, na vida e no dia a dia das pessoas que têm esse tipo de problema. Então, acredito que a nossa conversa, esse tema desse podcast será muito bem aproveitado, aí, pelo público, né.

 

Mariana: Pra gente é um prazer também. Bom, pra começar, eu queria que você definisse o que que é bexiga hiperativa, né, e quais são os principais sintomas, pras pessoas entenderem a definição direitinho.

Dra. Marília: Então, como você bem colocou, a bexiga hiperativa ela é um problema que vai haver no funcionamento da bexiga na questão de armazenamento, ela vai ter uma dificuldade de armazenar a urina. Então, com pequena quantidade de urina, ela já vai receber um comando para contrair como se já tivesse que fazer xixi, então, você vai sentir uma vontade de urinar e vai provocar essa vontade súbita de urinar. E essa vontade súbita, ela pode ser difícil de controlar, podendo até levar à incontinência urinária, que é a perda involuntária de urina. E essa situação pode causar um constrangimento, além de limitar a vida e o dia a dia desses pacientes.

 

Mariana: Agora, algumas pessoas acabam se esquecendo de esvaziar a bexiga, né, e aí sentem urgência de urinar. Como saber quando esse sinal pode ser sintoma de que algo não vai bem?

Dra. Marília: Então, a urgência associada à bexiga hiperativa, ela geralmente é acompanhada de uma micção de pequeno volume. E o que que seria isso? Então, a pessoa tem uma vontade muito grande de fazer xixi, desproporcional ao volume que ela efetivamente vai urinar quando ela chega ao banheiro. Nas pessoas normais, que simplesmente não têm bexiga hiperativa e que postergam a ida ao banheiro, você vai sentir uma vontade de urinar, mas você vai conseguir postergar essa ida ao banheiro ou porque o banheiro não está disponível, ou você não está no momento que você acha adequado para ir ao banheiro. Então, você consegue adiar até o ponto que a bexiga vai dar um sinal de que precisa muito ir ao banheiro, senão, pode acontecer um acidente, pode acontecer um escape. Então, nas pessoas que não têm problema de bexiga hiperativa, você vai conseguir fazer esse adiamento até que a hora seja conveniente pra você ir ao banheiro. Claro que, se esse adiamento, ele for muito prolongado, se você esperar muito tempo e a bexiga estiver cheia, pode acontecer também o escape, né, pode acontecer a incontinência. Mas, normalmente, você consegue chegar lá. O paciente que tem bexiga hiperativa, ele sente essa necessidade súbita, imediata de ir ao banheiro, então, se ele não for, ele realmente tem a sensação de que ele vai perder e em alguns momentos ele pode efetivamente perder a urina.

 

Mariana: Agora, muita gente confunde, né, a bexiga hiperativa com incontinência urinária. Qual que é a diferença entre essas duas condições?

Dra. Marília: Então, a bexiga hiperativa é uma condição clínica, ela é uma patologia que pode levar ao quadro de incontinência urinária, mas nem toda incontinência urinária, ela vai ser causada por bexiga hiperativa. Então, a incontinência é um sintoma de que pode estar ocorrendo também por outros motivos que não tenham nada a ver com bexiga hiperativa. Um exemplo é quando o paciente tem incontinência aos mínimos esforços. Então, a incontinência só vai acontecer quando a paciente faz um esforço físico e ela não tem urgência e ela não tem essa necessidade súbita de urinar, mas ela perde aos esforços, e essa perda aos esforços é por outro motivo. Essa paciente provavelmente não tem bexiga hiperativa, tem uma outra causa que vai levar à incontinência.

 

Mariana: Perfeito. Quais são os fatores que predispõem à bexiga hiperativa? Ela tem uma causa definida, essas causas são conhecidas?

Dra. Marília: Então, existem alguns alimentos que podem ser irritativos pra bexiga, tá. É exemplo deles café, alimentos cítricos, bebida alcoólica, chocolates, alguns tipos de chá, comidas apimentadas, todas podem ser irritantes à bexiga. Então, há pacientes que vão perceber o início dos sintomas após a ingestão de alguns desses alimentos. Então, são fatores que podem predispor à bexiga hiperativa. As causas da bexiga hiperativa, elas vão desde doenças neurológicas, como AVC, esclerose múltipla, traumatismo raquimedular… Doenças como diabetes mellitus podem levar a um quadro de bexiga hiperativa. Doenças que causam obstrução no canal da saída da urina, obstrução da uretra, também são possíveis causas de bexiga hiperativa. Mas a maior parte dos casos de bexiga hiperativa, a gente não vai achar uma causa específica pra estar causando aquele problema, são casos que a gente chama de idiopáticos, quando a gente não acha a causa do problema, não sabe por que que se iniciou.

 

Mariana: E como é realizado o diagnóstico, doutora Marília?

Dra. Marília: O diagnóstico, ele é basicamente clínico. Então, ele é baseado numa história clínica completa, bem colhida, no consultório, associada a um exame físico, que pode ser direcionado, e o exame de urina. A gente pode dispor de algumas ferramentas, como o diário miccional, e podem ser necessários alguns exames complementares pra descartar outras causas que podem levar a sintomas urinários e que não sejam a bexiga hiperativa. Um diário miccional, ele é uma ferramenta bem interessante, ele é um registro que o paciente vai fazer de quando ele urinou, quanto que ele urinou, quanto que ele ingeriu de líquido, se houve sintoma de urgência, se houve incontinência, e assim a gente pode avaliar de uma forma objetiva qual o hábito miccional daquele pessoa, como que tá a frequência, como que tá esse volume de xixi, qual que é a capacidade de armazenamento da bexiga, entre outras informações, e isso vai ajudar na condução desse caso e no tratamento.

 

Mariana: Agora, a bexiga hiperativa pode trazer constrangimentos às pessoas, né, como escapes de urina fora de hora. A pessoa às vezes não tá esperando. Como lidar com esses constrangimentos?

Dra. Marília: Sem dúvida, a primeira coisa que a pessoa deve fazer é procurar ajuda especializada, né, pra que o diagnóstico e tratamento correto, ele seja instituído e a gente consiga eliminar, ou, se não conseguir eliminar, pelo menos diminuir bem, esses episódios de incontinência. Mas, na medida em que eles podem acontecer, vale a pena o paciente ter alguns cuidados pra evitar essa situação. Então, uma das recomendações é adequar o consumo hídrico pras atividades diárias, limitar um pouco a ingesta de água ou de outros líquidos, baseado no que que você vai fazer naquele dia. Realizar micções programadas, independente de estar com vontade de urinar ou não. Então, você programa a ida ao banheiro pra esvaziar a bexiga, independente de você estar sentindo a vontade, pra evitar que aconteça um grande acúmulo de urina ou a gente chegue naquele limiar em que a bexiga tem o gatilho pra contrair e causar a incontinência. Outra coisa é urinar antes de ir dormir, usar protetores, como absorventes, fraldas, e tentar identificar e evitar o consumo de alimentos que possam ser irritativos à bexiga e que possam dar o início a esses sintomas.

 

Mariana: E tem um tratamento pra condição? Você falou um pouquinho que há produtos que podem ajudar a melhorar os sintomas, a lidar com os sintomas. Mas tem tratamento? 

Dra. Marília: Sim, existe tratamento, tratamento eficaz, ele vai desde terapia comportamental, baseado nessa orientação do consumo hídrico, medições programadas, organizando o seu dia a dia e a ida ao banheiro, fisioterapia também é um tratamento de primeira linha, o uso de medicamentos pra controlar melhor o funcionamento dessa bexiga também pode ser um meio que a gente utiliza para o tratamento e até terapias mais invasivas, como a neuromodulação sacral, a neuromodulação periférica e até mesmo a toxina botulínica, é um tratamento já de terceira linha para casos mais graves, né, de bexiga hiperativa. 

 

Mariana: E os exercícios físicos, eles pioram, melhoram a condição ou não interferem no quadro, enfim?

Dra. Marília: Então, os exercícios físicos, na medida em que promovem uma condição de saúde melhor, eles são muito bem-vindos. Então, a atenção deve ser dada ao assoalho pélvico, né, que deve ser fortalecido também e que habitualmente não está incluído nos exercícios tradicionais, mas uma orientação direcionada com um fisioterapeuta experiente, que conhece bem essa parte pélvica vai se fazer necessária e pode evitar que haja uma fragilidade desses músculos. Então, o exercício físico, ele pode ser, sim, benéfico no tratamento.

 

Mariana: É importante falar dessa parte porque muitas vezes as pessoas esquecem que a gente tem uma musculatura pélvica, que precisa ser fortalecida e que ajuda muito. 

Dra. Marília: Muito comum, sim.

 

Mariana: Agora, muitas pessoas com bexiga hiperativa ficam muito ansiosas ao saírem de casa, né, elas têm medo de não conseguirem chegar ao banheiro a tempo. Isso gera uma ansiedade. Essa ansiedade ajuda a piorar o quadro, interfere no quadro?

Dra. Marília: Sem dúvida, a ansiedade, ela pode piorar o quadro, né. A gente, quando tá muito ansiosa, pode haver um aumento da frequência urinária, independente de ter bexiga hiperativa ou não. Então, se você já tá num quadro de ansiedade, você já tem uma tendência de aumentar a frequência urinária e você tem a questão da bexiga hiperativa, isso pode piorar, sem dúvida, o seu quadro clínico. Então, o tratamento da ansiedade, com terapia, com acompanhamento especializado, é também interessante no tratamento dessa condição, sem dúvida.

 

Mariana: Agora, muitos pacientes também dizem que a bexiga hiperativa piora a qualidade do sono, né, uma vez que eles têm que levantar durante a noite pra ir ao banheiro. O que que dá pra fazer pra dormir melhor?

Dra. Marília: Isso é um sintoma bem comum, né. A bexiga hiperativa, ela não vai aumentar só a frequência diurna como pode aumentar também a frequência miccional, né, a frequência da ida ao banheiro noturna e isso vai fazer, realmente, o paciente despertar, às vezes, muitas vezes à noite. O normal é a gente não despertar ou despertar no máximo uma vez quando a bexiga tá cheia. Então, algumas orientações, como evitar ingesta hídrica até duas horas antes de deitar, urinar antes de dormir e ter uma boa higiene do sono e, se for o caso, se mesmo assim você persistir com perdas urinárias, uso de protetores e adesão ao tratamento, e seguir todas as orientações, recomendações médicas, a gente pode conseguir aí uma noite seca, um sono tranquilo, sem precisar estar levantando. 

 

Mariana: Agora, doutora Marília, tem algum alimento ou bebida que pode piorar o quadro e que por isso devem ser evitados ou isso é mito?

Dra. Marília: Não, isso é verdade, sim. Existem alguns alimentos que podem ser irritativos à bexiga e desencadear um quadro de hiperatividade. São alimentos como café, bebidas gaseificadas, chás, bebida alcoólica, chocolate, comidas apimentadas, tudo isso pode ser gatilho na bexiga pra despertar a hiperatividade e despertar o quadro de urgência, podendo levar à incontinência. Então, são alimentos que, se o paciente consegue identificar que pioram o quadro dele ou estão envolvidos com o quadro dele, eles devem ser evitados, sem dúvida.

 

Mariana: Sempre que a gente fala de problemas ginecológicos ou urológicos a gente vê que ainda tem muita vergonha e preconceito, né? Isso afasta as pessoas dos consultórios médicos?

Dra. Marília: Sem dúvida, vergonha e preconceito é algo que faz com que o paciente evite até a consulta médica, apesar de que o médico é quem vai melhor entender aquele problema e trazer a solução, né, o diagnóstico feito de forma correta e o tratamento de forma correta, o paciente vai ter um extremo benefício. Porém, realmente, o paciente sente vergonha até de ir ao consultório. Então, a gente precisa trabalhar a cabeça dessas pessoas, acolher, né, essas queixas, entender que isso é uma condição que realmente pode deixá-las constrangidas e que elas se sintam abraçadas e bem recebidas no consultório pra que elas tenham essa coragem de sair de casa, de sair dessa situação e procurar uma qualidade de vida muito melhor, que pode ser alcançada com o tratamento, né.

 

Mariana: Agora, a bexiga hiperativa pode afetar a saúde sexual dos pacientes também?

Dra. Marília: Sim, pode afetar a saúde sexual de forma negativa tanto de homens que tenham a doença quanto de mulheres, principalmente quando está associada aos episódios de incontinência urinária, que podem acontecer durante o ato sexual no relato de alguns pacientes. Ou quando essa condição, né, a bexiga hiperativa, está associada a uma outra condição que a gente chama de fibromialgia pélvica crônica e pode estar associada a dores e desconforto durante a relação sexual.

 

Mariana: Agora, pra finalizar, doutora Marília, eu queria saber as suas considerações pra quem tá passando por esse problema. Tem alguma recomendação específica, algo que você queira dizer, enfim? 

Dra. Marília: Sem dúvida, né, o que a gente quer dizer e recomenda e faz campanha é que não deixem de procurar ajuda especializada, deixem o preconceito, o medo de lado, tenham a coragem de procurar um tratamento porque tem tratamento, né, a gente tem como melhorar muito essa condição, ganhar muito em qualidade de vida e o ganho da qualidade de vida, ele não vai ser limitado à bexiga hiperativa, mas ele vai influenciar no desempenho profissional e até no tratamento de quadros depressivos, quadros em que o paciente simplesmente se isola do convívio social por conta da doença. Então, a gente vai devolver uma socialização, que é extremamente necessária ao ser humano, né, então, é voltar mesmo à vida e ganhar qualidade de vida, sem dúvida.

 

Mariana: Este podcast, o Saúde Sem Tabu, tem o apoio da Tena, marca líder mundial em produtos para incontinência urinária. Doutora Marília, muito obrigada por sua participação.

Dra. Marília: Eu agradeço o espaço e esse momento de bate-papo, né, e esclarecimento de dúvidas que a maioria das pessoas terminam tendo mesmo, e a gente recebe muitas dúvidas no consultório também, dúvidas semelhantes às que a gente abordou aqui. Então, acredito que isso sirva de esclarecimento e estímulo, né, pra quem conhece e quem está passando por essa situação pra estimular a procurar ajuda médica e procurar fazer o diagnóstico correto e o tratamento adequado.

 

Muito obrigada.

Como vimos, a bexiga hiperativa pode causar perda na qualidade de vida das pessoas, mas só se não tiver tratamento. Não é preciso sentir vergonha ou constrangimento na hora de pedir ajuda. Se você notar sinais do problema, procure um especialista.

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Conteúdo desenvolvido em parceria com a marca TENA https://www.tena.com.br

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