Crianças com a condição, mais comum na infância, choram, gritam e falam enquanto dormem, mas não se lembram desses episódios na manhã seguinte.
Durante o sono, algumas crianças choram, gritam e se desesperam enquanto ainda estão dormindo. Nesses casos, esses comportamentos podem indicar uma condição conhecida como terror noturno. Apesar de assustador para os pais, a situação passa rapidamente e as crianças não se lembram do episódio no dia seguinte.
“Trata-se de uma parassonia, que é um evento de vigília (como andar, falar, gritar e chorar) que ocorre durante o sono. Geralmente, acontece de uma a duas horas após a criança adormecer. É comum surgirem choros intensos e incontroláveis, aumento dos batimentos cardíacos, sudorese e fala desconexa”, explica a dra. Leticia Azevedo Soster, neurologista infantil e médica do sono do Hospital Israelita Albert Einstein.
A especialista ressalta que o terror noturno é muito mais frequente em crianças e raramente perdura até a idade adulta. Costuma ocorrer a partir dos 9 meses e é comum que permaneça até os 12 anos de idade.
Por que acontece e como se manifesta
Na maioria das vezes, é uma situação frequente na infância porque nessa fase a regulação do sono para a vigília ainda está amadurecendo, ou seja, o cérebro ainda permanece em atividade enquanto dorme. Portanto, o terror noturno acontece em uma fase de sono chamada sono NREM, que é o sono sem movimentos rápidos dos olhos. Habitualmente, acontece durante a fase N3 do sono NREM, que é aquela fase em que a pessoa está dormindo “pesado” e que é difícil ser acordado.
“A causa exata não é conhecida. Mas acredita-se que esteja ligada ao desenvolvimento cerebral e também ocorra devido a alguns fatores ambientais, orgânicos e genéticos. Porém, sabemos que a higiene do sono inadequada e a privação de sono também contribuem para a manifestação do terror noturno”, explica a dra. Dalva Lucia Rollemberg, neurologista, especialista em distúrbios do sono e professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
A criança começa a gritar, se debater, chorar e parece que está assustada ou sentindo dor. É comum também apresentar uma respiração ofegante, vermelhidão, musculatura enrijecida e pupilas dilatadas. Além disso, não escuta quando outras pessoas falam com ela e não responde aos estímulos externos.
O terror noturno dura alguns minutos, e após o episódio a criança volta a dormir e, muitas vezes, não lembra de nada no dia seguinte. Portanto, para os pais pode ser emocionalmente mais difícil do que para os filhos.
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Terror noturno ou pesadelo?
É comum surgir a dúvida se o episódio de terror noturno ou de um pesadelo. A principal diferença é que o sonho desagradável faz com que a criança acorde assustada e procure os pais. Geralmente, elas lembram o que aconteceu e sentem dificuldade para dormir novamente.
Já no terror noturno, as crianças não despertam, apesar de manifestarem medo, gritarem e mostrarem que estão apavoradas.
“A crise de terror noturno dura de trinta segundos até cerca de cinco minutos. É diferente do pesadelo por causar esse estado de choro intenso, desespero e fala desconexa, porém no qual a pessoa continua dormindo normalmente”, complementa a dra. Soster.
Durante o terror noturno, a criança pode se sentar na cama, não falar nada ou gritar, olhar para algum lugar de forma confusa e não responder quando falam com ela.
O que fazer durante uma crise de terror noturno
O primeiro passo é entender que a criança não vai reagir aos estímulos dos pais, ou seja, não adianta tentar acordá-la, já que ela se encontra em um estágio profundo de inconsciência.
Algumas recomendações sugeridas pelos especialistas durante uma crise de terror noturno:
- Fique perto da criança para que ela não se machuque até que a crise chegue ao fim;
- Para evitar que aconteça novamente, é importante garantir que o sono da criança seja regular e em um ambiente adequado;
- Mantenha uma rotina diária na hora de dormir e incentive a criança a realizar atividades leves, como leituras;
- Se o terror noturno ocorrer no mesmo horário todas as noites, os pais podem acordá-la um pouco antes por alguns dias, sempre de forma gentil. Isso ajuda a impedir que os novos episódios atrapalhem o sono.
É importante sempre lembrar que os episódios de terror noturno não oferecem riscos para a criança, se surgirem esporadicamente. Geralmente, é uma condição autolimitada, ou seja, passa por conta própria, com o tempo.
“Vale a pena buscar ajuda profissional quando o terror noturno causa muito estresse para a família, principalmente quando é frequente. Há alguns medicamentos em doses baixas que podem ser prescritos de forma individual para assegurar o bem-estar da criança”, finaliza a dra. Rollemberg.
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Sobre a autora: Samantha Cerquetani é jornalista com foco em saúde e ciência e colabora com o Portal Drauzio Varella. Escreve sobre medicina, nutrição e bem-estar.