Bancos de leite humano: como funciona a doação?

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Publicado em: 2 de agosto de 2022

Revisado em: 3 de agosto de 2022

Doação de leite humano ajuda na recuperação de bebês prematuros. Saiba como funciona o processo.

 

O leite materno é o alimento mais completo que existe para os bebês, fornecendo tudo o que eles precisam nos seis primeiros meses de vida. O leite ajuda no crescimento e desenvolvimento saudável do bebê, além denutricionalmente  protegê-lo contra uma série de doenças. Porém, no caso de bebês prematuros ou com baixo peso que precisam ficar internados após o nascimento, o aleitamento materno muitas vezes fica comprometido. Assim, a doação de leite humano faz toda a diferença na saúde e na vida desses bebês.

No Brasil, existe a Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano (rBLH-BR), uma iniciativa do Ministério da Saúde por meio do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz). São mais de 220 bancos de leite e mais de 200 postos de coleta espalhados pelo país.

“Os bancos de leite humano são serviços especializados, responsáveis por ações de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno e execução de atividades de coleta, processamento, controle de qualidade e distribuição da produção lática da nutriz [mulher que amamenta]. Ou seja, toda mulher em fase de lactação pode buscar apoio, sanar dúvidas e ter um acompanhamento realizado por uma equipe de saúde em caso de intercorrências comuns nesse período”, explica Danielle Aparecida da Silva, coordenadora do Banco de Leite Humano (BLH) do IFF/Fiocruz.

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Quem pode doar

De maneira geral, toda mulher que amamenta é uma possível doadora de leite humano. Segundo informações da rBLH, não é necessário ter uma produção demasiada de leite e não existe quantidade mínima para doação. Para se ter uma ideia, 1 litro de leite doado pode alimentar até dez recém-nascidos por dia. Em alguns casos, dependendo do peso do bebê prematuro, 1 ml pode ser suficiente para nutri-lo a cada refeição.

“São poucas as contraindicações para a doação, e os bancos de leite realizam entrevistas prévias para identificar se há alguma. No geral, as restrições estão relacionadas às mulheres com algum tipo de comorbidade grave ou em uso de medicamentos que limitem a doação do leite. A maioria das mulheres que amamentam seus filhos, que estão em boas condições de saúde, pode ser doadora”, afirma Adriana Moreira da Silva, enfermeira responsável pelo Banco de Leite Humano do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE), em São Paulo.

Se você amamenta e tem interesse em se tornar uma doadora, entre em contato com o banco de leite mais próximo da sua casa para receber as orientações necessárias. Localize a unidade através do site https://rblh.fiocruz.br/localizacao-dos-blhs. Vale destacar que é possível fazer um agendamento para que o leite para doação seja coletado em casa.

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Para quem vai o leite doado

Segundo Adriana, os bebês que necessitam do leite de doadoras estão, normalmente, internados nas Unidades de Terapias Intensivas Neonatais (UTIs neonatais) dos hospitais, portanto, impossibilitados de receberem a quantidade adequada de leite da própria mãe. “Assim, eles recebem o leite humano doado que propicia a melhora clínica com menos sequelas e a redução no tempo de internação”, explica a enfermeira.

O leite é destinado principalmente a bebês prematuros (nascidos com menos de 37 semanas de gestação), que precisam do alimento para ter uma boa recuperação. “A maioria deles permanece internada por meses e se beneficia do leite das próprias mães e também das doadoras”, completa Adriana.

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“As vantagens do aleitamento materno para o recém-nascido a termo [no tempo adequado] são amplamente divulgadas. Para um recém-nascido prematuro, essas vantagens se amplificam: é através desse alimento que ele terá acesso aos fatores de proteção que não puderam ser transferidos pela placenta”, destaca Danielle.

O leite também pode ser ofertado para bebês de baixo peso e que não podem ser amamentados pelas mães (caso de mulheres com HIV ou HTLV, em tratamento com quimioterapia ou usuárias de drogas ilícitas, por exemplo), mas somente se esses bebês estiverem internados no hospital. Danielle explica que a distribuição acontece apenas intra-hospitalar porque não há estoque suficiente para doar aos bebês que já receberam alta, pois, à medida que o recém-nascido se desenvolve, há necessidade de um volume de leite cada vez maior.

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Como coletar e armazenar o leite para doação

Para extrair o leite que será doado, é preciso providenciar um frasco de vidro com tampa plástica – como um frasco de café solúvel, por exemplo. Segundo Adriana, a orientação é retirar os rótulos e a embalagem que fica na parte interna da tampa, lavar e enxaguar com água e detergente neutro e depois ferver em água por pelo menos 15 minutos; em seguida, deixar o frasco secando em cima de um pano limpo e seco com a abertura virada para baixo.

Geralmente, os bancos de leite também fornecem frascos recebidos de doação, esterilizam e disponibilizam o utensílio preparado para o uso. Consulte a unidade da sua região para obter informações.

O ideal é que o leite seja extraído após alguma mamada do bebê ou quando as mamas estiverem bem cheias. Para realizar a retirada, siga as seguintes orientações:

  • Procure um ambiente calmo e limpo, de preferência longe de animais;
  • Prenda os cabelos e os cubra, se possível com uma touca ou lenço;
  • Evite conversar enquanto tira o leite. É recomendado que se utilize máscara que cubra nariz e boca;
  • Lave as mãos e antebraços e seque com uma toalha limpa antes do processo;
  • Massageie as mamas antes da retirada do leite com as mãos espalmadas, iniciando na região da aréola (área mais escura) e de forma circular, abrangendo toda a mama;
  • Coloque os dedos polegar e indicador na borda da aréola, firme os dedos empurrando-os para trás. Depois, comprima um dedo contra o outro de maneira suave e repita o movimento até que o leite comece a sair – de preferência, desprezando os primeiros jatos;
  • O leite deve ser colocado imediatamente no frasco preparado e armazenado no freezer. No frasco, coloque seu nome, a data e o horário da abertura do recipiente, pois é por esse dado que será controlada a validade do leite.

“Após a conclusão dos passos anteriores, a lactante deve contatar um Banco de Leite Humano num prazo de 7 a 10 dias do primeiro dia da ordenha para a retirada do seu frasco. Na unidade, o leite passará pelo processo de pasteurização, pois a validade no Brasil do leite humano congelado é de 15 dias a contar do dia inicial da retirada do leite”, detalha a enfermeira.

Caso sobre espaço no mesmo frasco, podem ser colocadas extrações de outros dias, desde que sejam da mesma doadora. Nesse caso, use outro recipiente esterilizado para a retirada e, ao terminar, acrescente o novo leite junto ao frasco que já está no congelador, evitando enchê-lo até a borda. O leite não deve ser descongelado durante o processo.

 

Doação direta é contraindicada

Doar o leite diretamente para outro bebê – como o filho de uma amiga ou parente, por exemplo – é contraindicado pelo Ministério da Saúde e pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Essa prática, chamada de amamentação cruzada, oferece riscos ao bebê e pode causar a transmissão de doenças infectocontagiosas.

A doação realizada por meio dos bancos de leite é segura, pois, após a coleta, o leite passa por um rígido controle de qualidade, que se inicia com a abordagem do histórico de saúde da lactante e vai até o processo de pasteurização do leite, conforme explica Adriana. “Sem o tratamento adequado do leite, a mulher que doa de forma direta para outro bebê oferece riscos de transmissão de doenças para o bebê”, destaca a enfermeira.

“Todo leite humano doado passa por um processo de controle de qualidade e pasteurização para só então ser distribuído aos recém-nascidos prematuros e de baixo peso ao nascer internados em UTI neonatais e sob prescrição médica e/ou de nutricionistas”, completa Danielle.

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