Monkeypox: quem são os mais vulneráveis?

close em barriga de mulher grávida, sentada com a mão no ventre. Gestantes correm risco de desenvolver quadro grave de monkeypox

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Publicado em: 18 de agosto de 2022

Revisado em: 18 de agosto de 2022

Qualquer pessoa pode pegar monkeypox, mas alguns são mais vulneráveis a quadros graves. Para comunicar os riscos, é preciso cuidado com estigmas Leia na coluna de Mariana Varella.

 

Os casos de monkeypox, também chamada de varíola dos macacos, têm se tornado cada vez mais frequentes. Embora a doença não seja nova, ela só começou a se espalhar com rapidez entre seres humanos recentemente, a partir de maio deste ano. Até agora, já são mais de 30 mil casos confirmados no mundo, cerca de 2500 no Brasil, que também já registrou a primeira morte pelo vírus.

Na última semana de julho, a Organização Mundial da Saúde (OMS) determinou que o atual surto constitui uma emergência de saúde pública de importância internacional. A notícia assustou as populações do mundo todo, já traumatizadas com a pandemia de covid-19.

Veja também: Entrevista com o dr. Rico Vasconcelos sobre monkeypox

Embora qualquer pessoa esteja vulnerável a contrair o vírus e a maioria dos indivíduos com monkeypox evolua bem, há aqueles que podem desenvolver quadros graves. Três grupos populacionais são considerados de maior risco para as formas graves da doença, de acordo com o Ministério da Saúde: crianças menores de 8 anos, gestantes e imunossuprimidos (independentemente da causa).

Além disso, a OMS recomendou aos homens que fazem sexo com homens, que, até o momento, representam mais de 95% dos pacientes com a doença, que reduzissem o número de parceiros sexuais. A orientação causou protestos da comunidade LGBT+ internacional e brasileira.

O receio não é infundado: a comunidade LGBT+ foi duramente estigmatizada durante o começo da pandemia de aids, na década de 1980. Com o pretexto de orientar esses grupos, que também concentravam a maioria dos casos de aids no início, acerca do risco de pegar HIV, as organizações de saúde fizeram uma série de alertas que contribuíram para aumentar a vulnerabilidade de pessoas já extremamente vulneráveis.

Como resultado mais evidente, as campanhas voltadas a esse público geraram preconceito, afastaram as pessoas vulneráveis dos serviços de saúde e criaram a falsa sensação de que quem não pertencia a esses grupos, como homens heterossexuais e mulheres, estava a salvo.

As desvantagens de se utilizar a noção de grupo de risco em uma epidemia de uma doença infectocontagiosa que pode atingir a todos não é uma discussão nova em saúde pública e na medicina preventiva. Há vasta literatura sobre o tema, advinda de estudos implementados à época da própria epidemia de HIV, nas décadas de 1980 e 1990.

Então como agir? Se uma doença de fato atinge mais determinado grupo, não devemos alertá-lo com medo de gerar estigma?

Em coluna para o VivaBem, o infectologista Rico Vasconcelos, médico sempre muito preocupado com o estigma envolvendo o HIV e determinados grupos, afirmou: “Evitar a comunicação direcionada para os grupos mais vulneráveis por medo de estigmatização é por si só uma forma de vulnerabilização desse grupo”.

Eu não poderia concordar mais. Todas as pessoas têm o direito de conhecer os dados de prevalência de uma doença, para, assim, tomarem as melhores decisões individuais. Além disso, é a partir desses dados que governos e autoridades sanitárias pensam campanhas e políticas públicas, como as de vacinação.

No entanto, não há como deslegitimar a preocupação das comunidades LGBT+. Na história recente, tivemos outros exemplos, também muito bem documentados e estudados, de anúncios pouco cuidadosos que geraram estigmas. À época da epidemia de ebola, comunidades africanas sofreram discriminação, assim como asiáticos na epidemia de Sars e na pandemia de covid-19.

Se por um lado é importante fornecer toda a informação disponível sobre uma doença, por outro não podemos subestimar o risco de estigma e reduzi-lo a um medo irrelevante, ainda mais se tratando de uma doença infectocontagiosa que certamente não ficará restrita a determinados grupos.

Autoridades sanitárias, políticos e a mídia precisam tomar cuidado ao fazer recomendações que podem, ao serem mal interpretadas, ajudar a aumentar a vulnerabilidade de grupos já socialmente vulneráveis. Além disso, é preciso acompanhar os resultados de campanhas informativas e do próprio curso da doença para atuar com rapidez em caso de estigmatização.

Há muitas orientações de como fazê-lo, inclusive estabelecidas pela própria OMS, e bons exemplos no mundo. Pessoalmente, cito o das autoridades francesas, que informam acerca dos dados epidemiológicos, mas também enfatizam as formas de prevenção, reforçam que todos que entrarem em contato com o vírus podem contrai-lo e trazem um aviso a respeito do risco de homofobia, inclusive com o telefone de um serviço que atende denúncias do tipo.

A mídia também precisa ser responsável e evitar manchetes que contribuam para a estigmatização. A própria fala do diretor-geral da OMS Tedros Adhanom foi seguida de recomendações a respeito do risco de estigma e descriminalização que foram ignoradas pela maioria dos veículos de imprensa, que apenas se focaram na recomendação para redução do número de parceiros endereçada aos homens que fazem sexo com homens.

A história das epidemias e outras crises sanitárias deixou um legado importante sobre comunicação em saúde que foi e tem sido largamente estudado. Aprendamos com ela.

 

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