Cérebro e intestino estão intimamente ligados. Entenda por que emoções como a ansiedade podem causar sintomas digestivos e saiba quando procurar avaliação médica.
Já sentiu vontade de correr para o banheiro antes de um momento importante, como entrevista de emprego, prova ou apresentação no trabalho? Saiba que essa é uma reação comum do organismo. O nervosismo muitas vezes leva a sintomas físicos, e a dor de barriga costuma ser uma queixa frequente nessas situações.
Os sintomas gastrointestinais causados por ansiedade ou estresse acontecem devido ao papel desempenhado pelo intestino, que não se limita à digestão dos alimentos e à absorção de nutrientes: ele é considerado o nosso “segundo cérebro”.
“O intestino recebe esse apelido porque abriga o sistema nervoso entérico, uma rede com milhões de neurônios capaz de funcionar de forma independente do cérebro. Ele regula movimentos, secreções e até a produção de neurotransmissores. Para ter uma ideia, cerca de 90% da serotonina, hormônio ligado ao bem-estar, é produzida no intestino. Por isso, ele exerce um papel que vai muito além da digestão”, explica Gustavo Patury, cirurgião do aparelho digestivo da Rede D’Or.
Como intestino e cérebro se comunicam?
Existe uma via de comunicação chamada eixo intestino-cérebro. “Ela funciona principalmente através do nervo vago, mas também envolve hormônios, mediadores imunológicos e substâncias produzidas pela microbiota intestinal. Dessa forma, o que acontece no intestino pode afetar diretamente o funcionamento cerebral, influenciando humor, cognição e até o risco de algumas doenças”, esclarece o especialista.
Em situações de estresse ou ansiedade, ocorre a liberação de hormônios, como adrenalina e cortisol, que, por sua vez, alteram os movimentos do intestino e aumentam sua sensibilidade. “Por isso, muitas pessoas apresentam dor abdominal, diarreia ou até prisão de ventre nesses momentos. Além disso, o fluxo sanguíneo para o intestino diminui, o que também pode prejudicar a digestão”, completa o dr. Gustavo.
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Microbiota intestinal
O estresse e a ansiedade também podem interferir na microbiota intestinal (conjunto de microrganismos que habitam o trato intestinal). O médico explica que o estresse prolongado tende a reduzir a diversidade de bactérias benéficas e a favorecer a proliferação de espécies menos saudáveis.
“Isso gera o desequilíbrio da microbiota que chamamos de disbiose, levando ao aumento da inflamação intestinal e influenciando no sistema imunológico. Por outro lado, a microbiota equilibrada ajuda a modular a resposta do organismo ao estresse, funcionando como fator protetor.”
Quando buscar avaliação médica
Em muitos casos, os sintomas digestivos associados à ansiedade são passageiros e não indicam a presença de nenhuma doença específica. No entanto, quando eles se tornam frequentes, intensos ou incapacitantes, é imprescindível buscar avaliação médica para investigar o problema.
“Sinais como dor abdominal persistente, diarreia crônica, constipação que não melhora, perda de peso sem explicação ou presença de sangue nas fezes são alertas para procurar atendimento médico”, recomenda o dr. Gustavo.
A síndrome do intestino irritável, por exemplo, é um distúrbio crônico que afeta o aparelho digestivo: seus sintomas podem ser desencadeados por episódios de ansiedade ou estresse.
Como cuidar da saúde intestinal
Para ter bom trânsito intestinal, inclusive em ocasiões de maior estresse ou ansiedade, é crucial manter alguns hábitos saudáveis, como:
- aderir a uma alimentação rica em fibras e alimentos naturais;
- praticar exercícios físicos regularmente;
- ter boas noites de sono;
- adotar técnicas de manejo do estresse, como meditação ou exercícios de respiração.
“Também é importante evitar excessos de álcool, cafeína e alimentos ultraprocessados. Quando os sintomas persistem, a avaliação médica é fundamental para indicar o tratamento mais adequado”, conclui o especialista.
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