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Gastroenterologia

Como identificar a síndrome do intestino irritável?

Publicado em 31/07/2024
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Revisado em 30/07/2024

O distúrbio pode estar relacionado à ansiedade e estresse e causa sintomas semelhantes aos de outras doenças. Saiba como funciona o diagnóstico e o tratamento. 

 

A síndrome do intestino irritável (SII) é um distúrbio que causa uma série de sintomas gastrointestinais que podem se confundir com os de outras doenças do aparelho digestivo. Os sintomas incluem dor abdominal (geralmente na parte inferior do abdômen e que pode melhorar após a evacuação), alterações do hábito intestinal (diarreia, constipação ou alternância entre os dois), gases em excesso, inchaço e sensação de evacuação incompleta. 

Esses sintomas podem variar em frequência e intensidade, inclusive desaparecendo por alguns períodos e depois retornando. “É bastante comum que os pacientes apresentem períodos com poucos ou nenhum sintoma, e volte a apresentá-los após um tempo. Existem diversas situações que podem desencadear o reaparecimento dos sintomas, principalmente relacionados a fatores emocionais (como a ansiedade, a depressão e o estresse), a fatores dietéticos (mudanças de dieta) e mesmo ao uso de medicações”, explica Marcos Roberto Tacconi, cirurgião do aparelho digestivo do Centro Especializado em Aparelho Digestivo do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

“Embora a causa exata da síndrome do intestino irritável ainda não seja completamente compreendida, alguns fatores podem contribuir para seu desenvolvimento”, afirma Alexander de Sá Rolim, coloproctologista na Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo. O médico lista esses fatores: 

  • Genética: a síndrome tem um componente hereditário, ou seja, pessoas com familiares que têm a doença têm maior probabilidade de desenvolvê-la;
  • Alterações na comunicação entre o cérebro e o intestino: essa disfunção pode levar a sintomas como dor abdominal e alterações no hábito intestinal;
  • Infecções intestinais: algumas infecções, como a gastroenterite, podem desencadear a SII em algumas pessoas;
  • Alterações na microbiota intestinal: a microbiota intestinal (conjunto de bactérias que vivem no intestino), pode estar alterada em pessoas com a doença;
  • Sensibilidade aumentada do intestino: o intestino de pessoas com a síndrome pode ser mais sensível a estímulos como alimentos, estresse e ansiedade.

 

Relação com estresse e ansiedade

O estresse e a ansiedade estão intimamente ligados à síndrome do intestino irritável, podendo servir como gatilho para desencadear ou intensificar as crises da doença. “Eles podem estar diretamente relacionados, criando um estado de hipersensibilidade visceral, ou mesmo indiretamente, influenciando na adoção de dietas nocivas nesses momentos de instabilidade emocional, que acabam por piorar o quadro clínico dos pacientes”, afirma o dr. Marcos Roberto.

Segundo o dr. Alexander, a relação entre a síndrome do intestino irritável e questões emocionais como ansiedade e estresse é bastante forte e complexa. “Existe uma comunicação constante entre o intestino e o cérebro, conhecida como eixo intestino-cérebro. Quando estamos ansiosos ou estressados, o cérebro envia sinais para o intestino, alterando sua função e podendo desencadear sintomas como dor, inchaço e alterações no hábito intestinal”, explica o coloproctologista. 

Outro ponto nesse contexto é que pessoas com a doença tendem a ter uma sensibilidade aumentada do intestino, o que significa que estímulos como o estresse são percebidos de forma mais intensa, levando a uma resposta inflamatória e aos sintomas da doença.

Além disso, assim como os fatores emocionais podem desencadear os sintomas da síndrome, os sintomas da síndrome também podem levar à ansiedade, estresse e depressão, o que gera um ciclo vicioso. “A dor abdominal, as alterações no hábito intestinal e o desconforto podem levar a preocupações sobre a saúde e a qualidade de vida, aumentando o estresse e, consequentemente, piorando os sintomas”, completa ele. 

        Veja também: Síndrome do intestino irritável: principais sintomas e como fazer o diagnóstico

 

Diagnóstico diferencial e exames

Os sintomas característicos da síndrome do intestino irritável – como dor abdominal e alterações do hábito intestinal – também são comuns em uma série de outras doenças do aparelho digestivo, como as doenças inflamatórias intestinais (como doença de Crohn e retocolite ulcerativa), colites microscópicas, doença celíaca e até câncer de intestino, entre outras. 

Por isso, é muito importante fazer o diagnóstico diferencial dessas patologias, para identificar e tratar adequadamente a doença. “Para isso, o médico poderá solicitar a realização de vários exames, que serão baseados na história clínica e no exame físico do paciente, e ajudarão no diagnóstico da síndrome e na exclusão de outras doenças”, afirma o cirurgião.

Os exames que podem ajudar no diagnóstico da síndrome incluem:

  • Exames de sangue: servem para descartar outras causas de dor abdominal, como anemia ou inflamação;
  • Exames de fezes: para verificar a presença de sangue oculto ou infecções;
  • Calprotectina fecal: ajuda a diferenciar dos quadros de doenças inflamatórias intestinais;
  • Colonoscopia: permite visualizar o interior do cólon para descartar outras doenças inflamatórias ou tumores.

 

Como funciona o tratamento

A síndrome do intestino irritável não tem cura, mas o tratamento pode auxiliar no controle dos sintomas.

“A abordagem terapêutica da síndrome do intestino irritável varia para cada paciente, de acordo com a intensidade e a característica dos sintomas. Dessa forma, uma avaliação individual e cuidadosa é extremamente importante para a obtenção de melhores resultados, e prevenção de suas recidivas. Caso o paciente consiga identificar que alguns tipos de estresse ou alguns alimentos específicos desencadeiam os sintomas, eles deverão ser os primeiros a ser evitados e abordados desde o primeiro momento”, explica o dr. Marcos.

Com o diagnóstico feito pelo médico, o tratamento vai se basear em alguns pontos principais, segundo o especialista: 

  • Adoção de uma dieta que evite alimentos produtores de gases e que causam diarreias;
  • Nos pacientes com constipação intestinal, o aumento da ingesta de fibras e líquidos poderá ajudar, assim como a realização regular de atividades físicas;
  • Apoio e suporte psicológico adequado, informando, explicando e acalmando os pacientes sobre o diagnóstico da síndrome, inclusive sobre a ausência de uma doença mais grave;
  • Uso de medicamentos para os quadros mais intensos, sendo direcionados para o alívio dos sintomas principais.

        Veja também: Você sabe o que são as DII (doenças inflamatórias intestinais? | Desenrola

 

Cuidados com a alimentação 

A alimentação tem papel importante no controle da síndrome do intestino irritável. Além de identificar e evitar os alimentos que desencadeiam sintomas, recomenda-se manter uma dieta rica em fibras e com baixo teor de gorduras e evitar o consumo em excesso de álcool, cafeína, bebidas gaseificadas, alimentos ultraprocessados e com conservantes. Fazer refeições mais frequentes e menos volumosas, sem pressa, também pode ajudar a reduzir os sintomas. 

“Nós, médicos, sempre orientamos os pacientes a evitar o consumo de alimentos ou preparações gordurosas, de alimentos picantes, assim como de vegetais e leguminosas que provoquem o aumento na produção de gases (como o repolho, o feijão, a couve-flor ou a

batata doce). Geralmente, é também orientada a diminuição do uso do açúcar e do adoçante sorbitol, assim como de leite e derivados, proporcionando dessa forma uma dieta menos fermentativa”, orienta o dr. Marcos. 

 

Cuidados com a saúde mental

“O manejo de questões psicológicas como ansiedade, depressão e estresse é fundamental para o controle da SII. A terapia cognitivo-comportamental (TCC) pode ser especialmente útil, pois ajuda a identificar e modificar pensamentos e comportamentos que contribuem para os sintomas”, afirma o dr. Alexander.

Além do acompanhamento médico e psíquico, praticar técnicas de relaxamento como meditação, yoga e respiração profunda podem ajudar na redução do estresse e da ansiedade. Hábitos saudáveis – como alimentação equilibrada, prática regular de exercícios físicos e cuidados com o sono – também são importantes para a saúde e bem-estar de forma geral e podem ajudar a controlar os sintomas da síndrome.

        Veja também: Cólica: conheça os problemas associados à dor abdominal

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