Os males da solidão

mulher idosa olha porta-retratos com foto da família. solidão na velhice pode abreviar a vida.

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Publicado em: 14 de agosto de 2023

Revisado em: 14 de agosto de 2023

Estudos mostram que a solidão está associada a uma série de doenças, e que a solidão na velhice pode abreviar a vida. Leia no artigo do dr. Drauzio.

 

Somos animais gregários, porque a formação de grupos foi essencial à sobrevivência dos nossos ancestrais.

Que chance teríamos de escapar das feras se andássemos sozinhos pelas savanas da África, quando descemos das árvores? Nossa necessidade de companhia é tanta que ficamos infelizes ao passar um mísero sábado à noite sozinhos, em casa.

Veja também: Como evitar a solidão na velhice

Os benefícios de uma vida em contato com os familiares, cheia de amigos e de contatos sociais estão ligados à satisfação no trabalho, à prosperidade financeira, à sensação de bem-estar e à realização de sonhos e desejos pessoais.

Nos últimos anos, disciplinas como epidemiologia, neurociência, psicologia e sociologia demonstraram que a existência de conexões sociais sólidas tem valor preditivo em relação à longevidade e a boas condições físicas, cognitivas e mentais. Por outro lado, ocorre o oposto na ausência dessas conexões.

Inquéritos populacionais com participantes saudáveis têm confirmado essas conclusões: quanto mais abrangentes as relações sociais, maior a longevidade. Ao contrário, solidão e isolamento aumentam o número de mortes precoces.

Um dos primeiros estudos longitudinais com grande número de participantes, publicado em 1979, mostrou que a falta de contatos sociais mais do que duplica o risco de morte.

Numa revisão de 148 estudos com pessoas saudáveis acompanhadas por um período médio de 7,5 anos, a existência de conexões sociais sólidas reduziu as taxas de mortalidade em cerca de 50%.

Os autores destacam o fato de que solidão e isolamento social causam aumentos de mortalidade comparáveis aos de fatores comportamentais, como sedentarismo, fumo e álcool. Comparável, também, aos de problemas clínicos: hipertensão arterial, índice de massa corpórea elevado e colesterol alto.

Os malefícios são semelhantes aos da poluição ambiental. Segundo eles, solidão e isolamento social são tão perigosos quanto fumar 15 cigarros por dia ou tomar seis doses de bebida alcoólica diariamente.

O isolamento e a solidão estão associados a aumento da morbidade por infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC). Numa síntese de 16 estudos, o risco de sofrer infarto aumentou 29%; e o de AVC, 32%. A vida solitária aumenta também o número de infartos fatais.

Uma pesquisa realizada entre pacientes com doenças cardiovasculares demonstrou que a solidão aumenta em 57% o número de hospitalizações e em 26% o de consultas ambulatoriais, eventos que aumentam os custos da assistência médica.

O fato de a hipertensão arterial incidir com mais frequência na raça negra – justamente a mais desfavorecida economicamente – e nos adultos mais velhos, explica por que os níveis de pressão são controlados com mais dificuldade nesses grupos. Nos hipertensos solitários, o risco de complicações ultrapassa aquele dos que sofrem de diabetes.

Em mulheres com mais de 70 anos, a solidão aumenta a probabilidade de desenvolver diabetes. A maior dificuldade de controlar os níveis de glicemia de quem vive isolado explica o maior número de complicações: infarto do miocárdio, AVC, retinopatia, neuropatia periférica e insuficiência renal crônica.

Os dados publicados pela National Health Nutritional Examination Survey, conduzida em pessoas com diabetes, revelaram que aqueles com menos de seis amigos próximos apresentam mortalidade mais alta, independentemente da causa de morte.

Nos mais velhos, o isolamento e a solidão guardam relação direta com a velocidade do declínio cognitivo e com o aumento do risco de demência.

Um trabalho que acompanhou mulheres e homens na velhice, durante 12 anos, mostrou que as habilidades cognitivas declinam 20% mais depressa nos solitários.

Diversas publicações calcularam que isolamento e solidão duplicam o risco de desenvolver depressão e ansiedade. Nas crianças, esse risco chega a permanecer elevado por até nove anos. A convivência com um círculo maior de amizades reduz em 15% o risco de depressão e ansiedade em quem passou por experiências traumáticas.

Isolamento social é o fator preditivo mais forte para ideações suicidas e tentativas fatais ou não.

Sempre soubemos que famílias unidas, muitos amigos e relações sociais gratificantes contribuem para uma vida plena. Não sabíamos é que o isolamento e a solidão fazem tanto mal à saúde.

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