Exercício vigoroso

mulher praticando corrida na rua. Exercício físico ajuda a reduzir mortalidade

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Publicado em: 21 de novembro de 2022

Revisado em: 21 de novembro de 2022

Estudos mostram que a quantidade de exercício físico necessária para reduzir mortalidade pode ser menor do que se acreditava. Leia no artigo do dr. Drauzio.

 

Convencer fumante a largar do cigarro e sedentário a andar foram os dois maiores fracassos que colecionei na profissão.

Em 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou um guia sobre atividade física e comportamento sedentário, com a recomendação de que pessoas adultas dediquem 150 a 300  minutos semanais à prática de atividade física moderada ou intensa.

Veja também: Quantas horas de exercício físico devo realizar?

Escrever guia é fácil, quero ver é convencer mulheres e homens a andar 30 minutos – ou pior, uma hora – cinco vezes por semana. Ao fazer esse tipo de prescrição, o médico deve se preparar para ouvir um rosário de lamentações, tantas são as atribulações diárias alegadas pela pessoa.

Na natureza, caríssima leitora, animais adultos só gastam energia em três situações: atrás de alimentos, de sexo ou para fugir de predadores. Com essas necessidades satisfeitas, evitam sair do lugar. Por isso, quando vem a ideia de praticar exercícios, desaba sobre nossos ombros o peso da preguiça sedimentada em milhões de anos de evolução.

Para uma organização como a OMS, recomendar 150 a 300 minutos semanais de atividade física é moleza, quero ver é motivar gente acostumada a ir de carro até a padaria da esquina, criar coragem para levantar da cama ou do sofá, calçar tênis, vestir calção e sair para suar a camiseta.

Com essa introdução, pretendo defender que essas normas sejam modificadas, porque são utópicas e existe uma luz no fim do túnel.

E se eu disser que talvez bastem 15 a 20 minutos semanais de atividade física vigorosa para reduzir a mortalidade geral e as mortes por doença cardiovascular e câncer? Míseros 15 a 20 minutos por semana, até o mais vagabundo dos poucos leitores desta coluna consideraria razoável. Ou não?

O “European Heart Journal” acaba de publicar um estudo prospectivo conduzido no Reino Unido com 71.893 mulheres e homens de 55 a 68 anos (média 62,5 anos), acompanhados durante 5,9 anos, em média. A atividade física foi medida com um acelerômetro de pulso. Cerca de 80% dos participantes foram classificados como sedentários.

Simplificadamente, atividade vigorosa equivale a andar a passos rápidos (acima de 4 km/h a 5 km/h), correr, andar de bicicleta a velocidades acima de 16 km/h, jogar basquete, futebol, tênis individual, pular corda e subir escadas rapidamente.

Durante os 5,9 anos de acompanhamento, a mortalidade geral e as mortes por câncer e por doença cardiovascular ficaram assim distribuídas:

  • 4,17% entre os sedentários;
  • 2,12% nos que praticavam de zero a 10 minutos semanais;
  • 1,78% nos que praticavam entre 10 min e 30 min semanais;
  • 1,47% nos que praticavam entre 30 e 60 min semanais;
  • 1,1% nos que praticavam mais de 60 minutos semanais.

Houve uma relação inversa entre o volume de atividade vigorosa e a mortalidade geral, por doença cardiovascular ou câncer.

A prática considerada ideal, aquela associada à mortalidade mais baixa, foi a de 53 minutos semanais. É possível que outras mais prolongadas tenham impacto ainda maior, mas o número dos que as praticaram foi insuficiente para atingir significância estatística.

Naqueles que alternaram práticas moderadas e intensas, como andar e depois correr 2 minutos, a mortalidade por doença cardiovascular caiu 35%.

Você, leitor incrédulo, dirá que os resultados de um único estudo não podem ser generalizados. Tem razão, ninguém conhece esse princípio mais do que o ovo, ora acusado ora inocentado. Mas, estudos recentes chegaram a resultados semelhantes.

Publicada no mesmo número da revista, uma pesquisa realizada com 88 mil ingleses chegou às mesmas conclusões. Entre elas, a de que andar 7 minutos diários depressa reduz mais a mortalidade do que andar 14 minutos devagar.

Em 2011, um estudo publicado na revista “The Lancet” mostrou que a prática diária de exercícios vigorosos diminui a mortalidade geral. Resultados semelhantes foram publicados no “Journal of the American College of Cardiology”: correr 5 a 10 min por dia faz cair o número de mortes precoces, independentemente da causa.

Que desculpa você inventará agora, prezado leitor, para não dedicar 15 a 20 minutos da sua semana para viver mais e melhor? E se puder investir mais tempo, por que não?

 

PS: Está mais do que na hora de voltarmos a usar máscara em lugares fechados.

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