Qual é a função de um clínico geral?

Entenda o que o clínico geral estuda, quais são as doenças que ele pode tratar e quando procurá-lo.

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Publicado em: 10 de agosto de 2022

Revisado em: 10 de agosto de 2022

Entenda o que o clínico geral estuda, quais são as doenças que ele pode tratar e quando o procurar.

 

Já aconteceu de você passar por vários médicos, sair com uma lista enorme de remédios e, mesmo assim, não conseguir tratar o seu problema? Talvez a solução esteja com o clínico geral. 

Esse especialista é capacitado para atender todas as doenças não operáveis em pacientes adultos e idosos – exceto aquelas relacionadas a ginecologia e obstetrícia –, sempre levando em consideração o histórico e a integralidade do paciente.

Mas, afinal, o que isso significa na prática? Esse médico sabe de tudo um pouco? O que ele estudou na faculdade? Em que ocasião devemos recorrer a ele?

Para responder a essas e outras perguntas, conversei com três clínicos gerais de diferentes estados do país: a dra. Vânia Maia Santos, de São Paulo; o dr. Victor Hugo Galvão, do Recife; e o dr. Fleury Johnson, do Rio de Janeiro.

 

Qual é a diferença entre o clínico geral, o generalista e o médico da família?

No imaginário popular, o clínico geral é, simplesmente, o médico. Aquele profissional que acabou de se formar na faculdade e atua em ambulatórios, unidades básicas de saúde, policlínicas e hospitais menores. Pode ainda ser confundido com o médico da família, que cuida de toda a comunidade e é muito presente, em especial, nas cidades pequenas.

Pela regulamentação, no entanto, a coisa é um pouco diferente:

  • Clínico geral: é o profissional que se formou na faculdade de Medicina, fez uma especialização de dois anos em Clínica Médica (também chamada de medicina interna) e tirou o registro da especialidade pelo Conselho Regional de Medicina (CRM). Atua com foco no paciente adulto e, além da atenção básica, também está apto a trabalhar dentro de hospitais;
  • Generalista: é todo profissional que se formou na faculdade de Medicina e é autorizado a atuar pelo CRM. Pode exercer a profissão em qualquer área, mas precisa fazer uma especialização para se intitular de algum campo específico;
  • Médico da família: é o profissional que se formou na faculdade de Medicina, fez uma especialização de dois anos em Medicina da Família e Comunidade e tirou o registro pelo CRM. Além do paciente adulto, também trata crianças e gestantes, mas é mais focado na atenção básica.

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O que o clínico geral aprende durante a sua formação?

Portanto, assim como a neurologia, a cardiologia ou a infectologia, a clínica médica é uma especialidade. Mas, então, como o clínico geral sabe cuidar de todo o corpo humano, enquanto as outras especialidades focam apenas em um órgão ou sistema?

A dra. Vânia Maia, médica paraense que se tornou especialista pelo Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo e atua no Hospital da Beneficência Portuguesa e no Hospital São Camilo, ambos na capital paulista, responde: 

“Durante a residência em clínica médica, passamos por várias cadeiras de diferentes áreas: pneumologia, cardiologia, infectologia, psiquiatria, entre outras. Isso tanto no ambiente hospitalar quanto nas partes ambulatoriais”.

O foco da especialidade está no tratamento não cirúrgico de adultos, desde o final da adolescência até o fim da vida. Segundo a dra. Vânia, as bases da clínica médica são a análise da história clínica do paciente e o exame físico minucioso.

 

Quando procurar um clínico geral?

Quando se diz que esse especialista aborda “todas as queixas não cirúrgicas”, parece muita coisa. E realmente é. O dr. Victor Hugo Galvão, clínico geral que atua no consultório, emergência e ambulatório de hospitais da Rede D’or do Recife, explica que é mais fácil excluir o que a área não abrange.

“A ginecologia e a obstetrícia tendem a não ser abordadas. Pacientes com fraturas, dores articulares e patologias tipicamente cirúrgicas, como hérnia umbilical ou apendicite, também não”, pontua.

Ou seja: queixas gastrointestinais, cardiológicas, respiratórias, musculares e todas as outras que não exigem procedimentos cirúrgicos podem ser tratadas pela clínica médica. Se você tiver uma dor de cabeça, o clínico geral é uma opção tanto quanto o neurologista.

“Dor no peito, asma e diabetes, por exemplo, são condições tranquilamente conduzidas pelo clínico. A gente tem uma relação muito boa com outros especialistas, mas, na maioria das vezes, não precisamos encaminhar. A gente consegue manejar muita coisa”, destaca o dr. Victor.

Entre as principais queixas que o clínico geral trata estão:

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Como funciona a consulta de um clínico geral?

Como o leque de doenças tratadas pelo clínico é grande, as consultas costumam ser um pouco mais demoradas do que as outras especialidades. É claro que cada profissional tem a sua maneira de conduzir, mas, na maioria das vezes, ela se divide em três etapas:

  1. Anamnese (conversa): Nessa primeira fase, o clínico irá avaliar os exames trazidos (se houver) e fazer várias perguntas. Não se assuste, a ideia aqui é conhecer a rotina do paciente e avaliar todas as condições de saúde para chegar ao diagnóstico. Alguns exemplos: o que você usa de medicamentos? Tem alergias? Qual o seu histórico familiar? Dorme bem? Pratica exercícios físicos? Como está o intestino? Tem dor de cabeça? Tem tosse? Etc.
  2. Exame físico: Na segunda etapa, o clínico geral avalia todos os sistemas do corpo que sejam relevantes de acordo com a queixa apresentada. Essa parte já é mais direcionada, mas alguns elementos são indispensáveis, como aferir a pressão, auscultar o coração e o pulmão e avaliar o abdômen.
  3. Diagnóstico: Depois da conversa e do exame físico, o especialista apresenta para o paciente o que ele acha que pode estar causando aquela queixa. A partir daí ele desenvolve o plano de cuidado, que pode abranger prescrição de medicamentos, pedido de novos exames, recomendação de internação, encaminhamento para uma sala de emergência, entre outros. Nessa etapa, é fundamental que todas as decisões sejam compartilhadas com o paciente.

“Nós não vemos somente a queixa que a pessoa traz, mas o que está por trás dela e o que a gente pode fazer. Será que é uma ansiedade? Uma depressão? Isso também pode ser a causa da doença que a pessoa está apresentando ou um ponto de dificuldade no tratamento”, diz o dr. Fleury Johnson, médico congolês que atua em consultório voltado para a saúde da população negra no Rio de Janeiro e também é head global de Saúde do Nubank.

Além disso, muitas pessoas procuram o clínico geral para fazer um check-up anual. Nesses casos, o dr. Fleury faz questão de conhecer o histórico familiar do paciente e avaliar quais exames são ou não necessários de acordo com a idade.

 

Onde o clínico geral pode atuar?

Ainda que o consultório seja um importante pilar do trabalho do clínico geral, ele também é peça-chave dentro dos hospitais. A dra. Vânia, por exemplo, trabalha como médica de pronto-atendimento, intensivista (em UTIs) e hospitalista.

“As queixas são muito diferentes em cada local em que eu trabalho. No pronto-atendimento, chegam pacientes com sintomas desde resfriado até suspeita de infarto. E o nosso papel é pensar em vários diagnósticos diferenciais para saber tratar direitinho cada um”, conta.

Nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), por sua vez, o clínico é o responsável por fazer o manejo de pacientes já em estados mais críticos.

“Por exemplo, no caso de um paciente que precisa ser entubado, a gente precisa ter conhecimento sobre ventilação mecânica, como fazer procedimentos invasivos, como colocar um acesso central. Isso também é papel do clínico”, afirma a dra. Vânia.

Dentro dos hospitais, por fim, o profissional precisa resolver as intercorrências dos pacientes internados. Se algum deles apresentar qualquer piora, cabe ao especialista decidir qual será o próximo passo.

 

Qual é a importância do clínico geral para o sistema de saúde?

Considerando a vasta gama de atuação dos especialistas em clínica médica, fica fácil entender o papel desses profissionais na atenção à população. De acordo com a Sociedade Brasileira de Clínica Médica (SBCM), eles são capazes de diagnosticar e tratar 80% dos problemas de saúde. 

“Com isso, a gente evita internações ou o encaminhamento para outro especialista, o que pode acabar sendo mais caro para o próprio paciente e para o sistema de saúde. Também diminui os riscos que ele corre dentro do hospital por estar sujeito à exposição a micro-organismos resistentes”, avalia o dr. Fleury Johnson.

Não à toa, quando perguntei para os três especialistas qual é o diferencial de um clínico geral, todos me responderam: o olhar para o paciente como um todo.

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