A preparação para começar a jogar futebol varia conforme a idade. Conheça os benefícios da prática esportiva.
O futebol foi criado em meados do século 19, na Inglaterra, mas rapidamente se espalhou pelo mundo e se tornou um dos esportes mais populares do Brasil. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 15,3 milhões de brasileiros gostam de bater uma bola, número que representa quase 40% dos 38,8 milhões de praticantes de algum esporte no país.
Uma revisão publicada no “British Journal of Sport Medicine” mostra que a prática de futebol recreativo pode trazer diversos benefícios para a saúde, como redução de massa de gordura corporal e aumento de força muscular, resistência e capacidade cardiorrespiratória. Em crianças e adolescentes, segundo estudo divulgado na “Frontiers in Psychology”, o esporte também estimula o desempenho motor e cognitivo.
No entanto, apesar de o futebol proporcionar melhorias à saúde, é fundamental que os interessados, independentemente da idade, realizem uma preparação física adequada e passem por avaliações médicas específicas antes de iniciar a atividade. Isso, segundo especialistas e estudos, garante uma prática segura e maximiza os benefícios do esporte.
Exames médicos para iniciar no futebol
Segundo Caluê Papcke, professor do curso de educação física da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), os exames médicos recomendados para quem deseja começar a jogar futebol devem ser adaptados de acordo com a faixa etária. Para crianças e adolescentes, o foco está em um exame clínico geral que avalie condições específicas dessa fase, como problemas respiratórios.
Eles podem ter asma ou bronquite, por exemplo, que ainda estão em desenvolvimento e precisam ser monitoradas durante a prática esportiva, diz. Além disso, segundo o professor, problemas ortopédicos também podem surgir nessa fase, devido ao crescimento acelerado. “Às vezes, a criança começa a crescer muito rápido, a musculatura é alongada e o osso cresce muito, gerando alterações ósseas. Isso precisa ser avaliado.”
Para adultos, a recomendação inclui exames clínicos gerais, como eletrocardiograma e análises laboratoriais básicas que avaliem colesterol, glicemia e hemograma. “Mesmo adultos aparentemente saudáveis podem ter pequenas alterações, e a avaliação complementar traz mais segurança para iniciar uma atividade física. Futebol é um esporte que exige esforço muscular e metabólico significativo, e estar em condições reais de praticá-lo é essencial”, explica.
Qual a frequência ideal de treinos?
A recomendação inicial é adaptar a frequência à rotina e às condições de cada pessoa. “Não adianta dizer que cinco ou seis vezes por semana é o ideal se essa frequência vai sobrecarregar e deixar a pessoa muito cansada ou desmotivada.” Mas de modo geral, disse, vale treinar de duas a três vezes por semana, com sessões de 40 a 60 minutos por dia. “Com isso, o praticante já consegue atingir a recomendação da Organização Mundial da Saúde, que indica pelo menos 150 minutos semanais de atividade física moderada ou vigorosa para adultos. Para crianças e adolescentes, a orientação é um mínimo de 60 minutos diários de atividades aeróbicas”, completa.
No caso de quem deseja se desenvolver no futebol, a frequência maior pode trazer benefícios. “Quanto mais vezes na semana o atleta conseguir treinar, melhor será o desenvolvimento técnico, motor e de força, desde que acompanhado por um bom profissional”.
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Alimentação antes e depois do futebol
Antes do treino, de acordo com o especialista, é ideal consumir carboidratos leves, como frutas, pão integral ou geleias, para fornecer energia sem causar desconforto. Essa recomendação vale tanto para crianças e adolescentes como para adultos.
Durante o treino, a hidratação é essencial para manter o corpo em equilíbrio. Após o treino, a prioridade é repor carboidratos utilizados e incluir proteínas magras, como frango ou peixe, para auxiliar na recuperação muscular.
Equipamentos para jogar futebol
A escolha dos equipamentos é essencial para a segurança e o desempenho dos jogadores, segundo o especialista. As caneleiras, por exemplo, são recomendadas porque o futebol é um esporte com tanto contato físico. E vale utilizá-las até nos treinamentos, para que os jogadores – sejam crianças ou adultos – se acostumem com o peso adicional e estejam sempre protegidos contra possíveis lesões, segundo o especialista.
Também é importante escolher chuteiras adequadas. Para campos sintéticos, a recomendação são chuteiras com um maior número de travas, pois são mais baixas e proporcionam estabilidade e menor risco durante as mudanças de direção. Já para campos de grama, depende da altura do gramado. Em gramados baixos, o ideal são calçados com menos travas. Em altos, é necessário um modelo com travas ainda mais altas e em menor número, para evitar que o pé fique preso em movimentos de rotação.
Aquecimento no futebol
Papcke explica que o aquecimento no futebol varia de acordo com a faixa etária. No caso dos mais jovens, a ênfase está em tornar o momento inicial da atividade mais divertido e lúdico. “Para crianças e adolescentes, tentamos aproveitar o aquecimento para incluir atividades que tragam ludicidade, diversão e prazer, para que não seja apenas uma preparação física semelhante ao que será a prática do futebol”, comenta.
Já para os adultos, o foco do aquecimento é mais funcional e voltado para a atividade principal. Papcke explica que as atividades tendem a incluir gestos técnicos semelhantes aos movimentos que serão realizados durante o jogo. Essa abordagem ajuda a preparar o corpo e a mente dos jogadores de forma mais direcionada.
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Dores comuns para quem começa no futebol
As dores musculares são comuns para quem está começando a praticar futebol, especialmente devido ao uso de grupos e fibras musculares específicas. “Normalmente, começam a surgir algumas dores musculares diferentes daquilo que é habitual, como acontece com quem inicia na academia. Essa dor não necessariamente é ruim e tende a diminuir com o tempo”, explica.
Entretanto, Papcke alerta que é preciso ficar atento quando essas dores persistem por longos períodos. “Se, após duas, três ou quatro semanas de treino, a dor muscular ainda estiver muito intensa, principalmente no pós-treino, é um sinal de que a musculatura talvez não esteja preparada para a demanda imposta.”
No futebol, além das dores musculares, o contato físico pode ocasionar outros incômodos, como batidas na canela, torções leves no tornozelo ou pequenos traumas, que geralmente são resolvidos em dois ou três dias. No entanto, o especialista reforça que qualquer dor deve ser avaliada por um profissional capacitado.
Ele destaca que dores em crianças que praticam futebol, especialmente nas inserções musculares, exigem atenção redobrada. Segundo ele, é comum que esforços repetitivos causem desconforto nas regiões onde os tendões se conectam aos ossos. “Esse excesso de esforço pode gerar uma pequena deformação na junção do tendão com o osso, provocando dores que precisam ser investigadas. Caso não sejam tratadas adequadamente, essas dores podem evoluir para algo mais grave, causando alterações ósseas significativas”, explica.
Papcke aponta que essas dores, muitas vezes relacionadas ao próprio crescimento, costumam surgir fora do horário de treino e persistem por um ou dois dias. Ele ressalta que os pais devem ficar atentos a queixas frequentes, especialmente em áreas como a região frontal da tíbia, próxima ao joelho.
Lesões
No futebol, as lesões musculares, ligamentares e articulares são as mais frequentes, cada uma com características e períodos de recuperação distintos. Lesões leves, de acordo com o professor, podem ter um tempo de recuperação de duas a quatro semanas, permitindo que o atleta retorne às atividades esportivas em pouco tempo. Já nos casos mais severos, o período de recuperação pode se estender de dois a três meses.
Em relação às lesões ligamentares, Papcke destaca que a gravidade é determinante no tempo de reabilitação. Estiramentos leves, por exemplo, podem necessitar de cerca de três a quatro semanas para uma recuperação completa. No entanto, lesões mais graves, como a ruptura total do ligamento cruzado anterior (LCA), demandam um período mais longo. “Em casos assim, o atleta pode levar de seis a oito meses para estar apto a retornar aos treinos, mas o retorno ao alto nível de performance esportiva pode levar mais de um ano”, finaliza.
Ouça: Lesões no futebol – DrauzioCast #189