Estudo mostra que boa parte dos fatores de risco para câncer são evitáveis. Leia na coluna de Mariana Varella.
O câncer é uma das principais causas de morte no mundo. Com o envelhecimento da população, é esperado que o número de pessoas com a doença aumente em muitos países, incluindo o Brasil. No entanto, embora alguns tipos de câncer não sejam causados por fatores modificáveis, boa parte dos cânceres é passível de prevenção.
Em 2018, um estudo realizado com base nos dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos já havia mostrado que 26 tipos de câncer, em mulheres e homens com mais de 30 anos, estavam associados à exposição aos seguintes fatores dependentes do estilo de vida: cigarro, fumo passivo, excesso de peso, abuso de álcool, baixo consumo de frutas, vegetais e fibras, baixa ingestão de cálcio, inatividade física, consumo de carne vermelha e de carne processada, radiações ultravioleta e seis tipos de infecção por germes relacionados com o câncer.
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Nesta semana, foi publicado na revista “The Lancet” o maior estudo já realizado a respeito da relação entre câncer e fatores de risco. Trata-se de uma análise sistemática dos dados de outro estudo, o “Global Burden of Diseases, Injuries, e Risk Factors Study (GBD)” 2019, a respeito de mortes e deficiências por mais de 350 causas em 204 países. Com essas informações, os autores estimaram o impacto de 34 fatores de riscos para 23 tipos de câncer.
Os três principais fatores de risco preveníveis identificados pelos pesquisadores já são conhecidos dos oncologistas: tabagismo, uso de álcool e índice de massa corporal (IMC) elevado. Os achados, além de confirmarem os dados encontrados em estudos menores, ajudam a entender como é possível evitar a doença em muitos casos.
Achados
A revisão mostrou que fatores preveníveis foram responsáveis por cerca de 4,5 milhões de mortes por câncer em 2019 no mundo, o que representa 44% de todas as mortes pela doença nesse ano. Isso significa que, ao menos potencialmente, quase metade das mortes por câncer poderia ter sido evitada.
Nesse ano, metade das mortes por câncer em homens e mais de 1/3 dos óbitos pela doença em mulheres ocorreram por fatores de risco evitáveis, incluindo tabagismo, uso de álcool, dietas pouco saudáveis, sexo desprotegido e exposição a substâncias nocivas, como amianto, no local de trabalho.
Entre os cânceres por fatores evitáveis mais frequentes em homens e mulheres estão, segundo os autores do estudo, o de pulmão, traqueia e brônquios (36,9%), colorretal(14,2%), esôfago (7,6%), colo do útero(6,3%), fígado(5,7%), estômago (5,2%), mama (4,0%) e pâncreas (3,9%). O principal fator de risco associado ao câncer e passível de prevenção é o cigarro, responsável por mais de 8 milhões de mortes no mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
É importante conhecer os dados para que governos e autoridades sanitárias possam desenhar políticas públicas para reduzir o número de pessoas com câncer, como aumento dos impostos sobre o tabaco, restrição de propaganda de cigarro e bebida e campanhas informativas a respeito da importância de se controlar esses fatores de risco.
O controle do câncer representa não apenas milhares de vidas salvas, mas também a economia, para os sistemas de saúde do mundo todo, de recursos gastos com o diagnóstico e o tratamento da doença.