Parosmia, fantosmia, anosmia, hiposmia e hiperosmia são distúrbios que afetam o olfato de diferentes maneiras. Conheça as principais características de cada um deles.
Com a pandemia de covid-19, tornou-se usual a busca por distúrbios do olfato. A infecção pelo Sars-CoV-2 pode deixar como sequela a perda ou alteração do olfato e do paladar, e talvez por isso tenha suscitado curiosidade a respeito dos distúrbios olfatórios.
Para entender esses distúrbios, primeiro é importante compreender como ocorre o olfato.
Como funciona o olfato
O principal órgão olfatório é o nariz, que capta as moléculas das substâncias dispersas no ar. Na parte superior da cavidade nasal está localizada a mucosa olfativa, composta por receptores sensoriais (neurônios olfatórios) que transformam o sinal químico das partículas do odor em sinal elétrico.
Esses sinais elétricos seguem por uma via sensorial, formada por uma sequência de neurônios, e chegam à área olfatória, localizada no córtex cerebral, onde ocorre a percepção do cheiro. O olfato também interfere no paladar: ao provarmos um alimento, os sentidos do olfato e do paladar interagem para identificá-lo.
O limiar de odor, a menor concentração de uma substância para que, na média, uma pessoa sinta seu cheiro, não é igual para todo mundo. “Sabemos que o limiar varia de pessoa para pessoa”, afirma a dra. Graziela de Souza Queiroz Martins, doutora em Otorrinolaringologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
Isso significa, grosso modo, que, diante de um flor, por exemplo, alguns precisam de uma concentração maior de moléculas de odor para identificar seu cheiro, enquanto outros percebem o perfume diante de uma pequena concentração dessas moléculas. Quando ocorre algum problema no “caminho” do olfato, seja no nariz ou no cérebro, falamos em distúrbios do olfato. Veja os mais frequentes:
Distúrbios qualitativos
São os distúrbios que afetam a percepção do cheiro. Entre eles estão:
Parosmia
Na parosmia, ocorre uma distorção diante de um estímulo existente. Por exemplo, a pessoa pode sentir um cheiro de comida estragada quando exposta ao odor de um alimento íntegro. A parosmia costuma acontecer na fase de recuperação da covid-19, quando a pessoa começa a recuperar o olfato, e pode durar meses. Também ocorre em outras infecções respiratórias virais ou bacterianas, como resfriados e sinusites; problemas neurológicos, como Alzheimer e doença de Parkinson; tumores cerebrais; tabagismo; entre outros. E pode comprometer o paladar, que fica distorcido.
O tratamento varia de acordo com a causa, mas no caso da covid-19, tem sido usado o treinamento olfatório, que, como explica a dra. Graziela, é realizado com três ou quatro essências, como eucalipto e limão, por exemplo, que devem ser inaladas por alguns segundos várias vezes ao dia.
Fantosmia
Na fantosmia, também conhecida como alucinação olfativa, a pessoa sente um cheiro que não está presente. A mais frequente é a cacosmia, em que o indivíduo sente um odor desagradável, como de algo podre ou queimado, que não existe no ambiente, O cheiro também pode ser agradável, mas é mais raro.
As causas da fantosmia podem ser uma infecção viral que atinja o nariz, como uma gripe, enxaqueca, lesões cerebrais, doenças neurológicas – como epilepsia e Alzheimer –, AVC, entre outras.
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Distúrbios quantitativos
Afetam a “quantidade” de odor que percebemos.
Anosmia
Na anosmia, há a perda total do olfato e, muitas vezes, do paladar. É um dos sintomas mais característicos da covid-19 e uma das sequelas mais comuns da doença. Há relatos de pessoas que perderam o olfato, em geral de forma súbita, no início da pandemia e ainda não o recobraram completamente, embora a maioria dos pacientes costume se recuperar em alguns dias ou semanas.
Ainda não se sabe exatamente como a covid-19 afeta o olfato, mas a explicação mais provável é que o vírus atinja as células do nariz que ajudam a transmitir as moléculas de odor para o cérebro.
Nesse caso, o tratamento também pode incluir o treinamento olfatório. A maioria dos casos de anosmia ocorre por infecções respiratórias, mas o sintoma também pode estar presente nas doenças neurológicas, como Alzheimer e Parkinson, e em alguns tipos de câncer.
Hiposmia
Aqui há uma diminuição da capacidade olfativa, ou seja, uma redução no limiar olfativo: quando exposta a uma substância, a pessoa sente o cheiro, mas necessita de uma concentração maior das partículas que provocam o odor para senti-lo. “Esse também é um sintoma comum da covid”, explica a dra. Graziela. Para esses pacientes, o treinamento olfatório também funciona bem.
O sintoma pode ser causado por lesões nasais, obstrução do canal nasal (como desvio de septo), rinite, sinusite, infecções que atinjam o nariz, ou ainda problemas neurológicos (como Alzheimer e Parkinson), câncer e determinados medicamentos.
Hiperosmia
É o aumento da capacidade total do olfato. Quem tem o distúrbio precisa de uma concentração baixa de partículas responsáveis pelo cheiro para senti-lo. “Esse distúrbio é raro, e pode estar presente em algumas condições, como doença de Lyme e esclerose múltipla“, explica a dra. Graziela.
Na gravidez, é comum que gestantes afirmem sentir determinados cheiros com mais intensidade, mas a médica explica que ainda não se sabe se o que ocorre é um desconforto diante de determinados odores ou uma percepção mais acentuada do odor. “Não sabemos se a grávida se incomoda com algum cheiro específico e daí tem a impressão de que está sentindo aquele odor com mais intensidade ou se de fato há uma alteração no limiar”, explica a médica.
Quem tem enxaqueca também pode desenvolver hiperosmia e, como consequência, osmofobia, um comportamento de evitação de determinados odores diante da sensibilidade aumentada a certos cheiros durante as crises.
Ajuda médica
A dra. Graziela afirma que é comum que as pessoas sintam odores de formas diferentes, pois elas têm limiares de odores variados. “Se você sempre teve um padrão e isso não o incomoda, tudo bem, mas se sentiu alteração nos últimos tempos, se sente odores que nunca sentiu ou deixa de sentir cheiros que costumava sentir, o ideal é procurar ajuda médica”, finaliza a otorrinolaringologista.
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