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Isolamento e violência doméstica | Entrementes

Dr. Jairo Bouer fala sobre o aumento do número de casos de violência doméstica durante o isolamento motivado pela pandemia do coronavírus.
Publicado em 13/10/2020
Revisado em 13/10/2020

Dr. Jairo Bouer fala sobre o aumento de casos de violência doméstica durante o isolamento social, uma das principais medidas de prevenção contra o novo coronavírus.

Olá, pessoal. E no vídeo de hoje a gente fala de um tema muito importante: o aumento dos casos de violência doméstica contra a mulher durante a pandemia. A gente tem recebido inúmeros relatos e algumas pesquisas já mostram pra gente, pessoal, um aumento importante dos casos de violência doméstica contra as mulheres nessa fase de isolamento e de distanciamento social. 

Qual é o mecanismo básico, pessoal? Os casais estão mais tempo dentro de casa, cria-se mais conflito, zonas de atrito. Isso de alguma forma pode aumentar o risco de violência. É muito importante a gente lembrar também que nesse momento, as mulheres estão longe, estão mais distantes de parentes, de amigas, enfim, da sua rede de apoio, da sua rede de suporte, quando eventualmente alguma situação desse tipo acontece. Ou seja, além delas estarem com os companheiros mais tempo dentro de casa, elas estão mais distantes das suas possíveis aliadas na tentativa de romper eventuais ciclos de violência e de agressão. Então a gente tem que ficar bem atento nesse momento a esse fenômeno. 

Diversos relatórios mostram pra gente um aumento importante dos casos de feminicídio nesse período do ano, quando comparado ao ano anterior, ao ano passado, pré-pandemia. Mas a gente tem uma diminuição do registro de boletins de ocorrência de violência doméstica, o que pode sinalizar pra gente uma dificuldade maior da mulher de sair de casa pra ir até a delegacia de polícia, pra registrar essas queixas de violência.

Por outro lado, pessoal, a gente tem um aumento importante das buscas por suporte, por socorro, nos serviços de atendimento online ou telefônicos. Então, acho que tudo isso reforça pra gente o seguinte: mais tempo dentro de casa, uma convivência mais intensa com os parceiros, mais zonas de atrito e de conflito, um maior risco de violência e uma maior dificuldade da mulher de registrar essa violência por conta do isolamento e do distanciamento. Por outro lado, as mulheres têm de alguma forma tentado suporte, socorro, com esses serviços à distância, com esses serviços telefônicos e online.

Pessoal, algumas recomendações que eu vou dar uma coladinha aqui, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Diversificar os canais pra denúncias, de casos de violência doméstica; criar possibilidades ou facilitar o contato da mulher com seus vizinhos, parentes, condomínios para que elas possam buscar ajuda, caso necessário; campanhas públicas de divulgação desses serviços de denúncia e garantia de respostas rápidas pra ajudar as mulheres. Essas são algumas recomendações do Fórum Brasileiro de Segurança Pública pra esse momento em especial.

Ouça também: Entrementes #29 | Violência contra a mulher durante a pandemia

Outro dado muito importante que eu queria trazer pra vocês, pessoal, é que aumentou o consumo de bebida alcoólica durante a pandemia, até como uma forma de amenizar ansiedades, sofrimentos, angústias, conflitos, atritos. Então, as pessoas estão bebendo mais. Lembrar que, o álcool, ele altera o nosso padrão de resposta e de comportamento. Ou seja, pessoas que bebem mais, tem uma avaliação, tem uma crítica em relação ao que que tá acontecendo naquele momento pior, e além disso elas podem se tornar mais impulsivas, mais agressivas, mais violentas. Então, essa combinação, ficar mais tempo dentro de casa e beber mais, pode ser uma combinação muito complexa, muito perigosa, quando a gente pensa em termos de violência doméstica.

Pessoal, e o que fazer, do ponto de vista prático, no caso de violência contra a mulher? É fundamental que a mulher possa denunciar, ela tem canais pra isso, o 180 é um canal importante para que a mulher possa de alguma forma denunciar essa situação de violência, e que ela possa ter suporte, amparo, das autoridades. A gente tem juizados especiais de violência contra a mulher e o juiz pode determinar medidas protetivas, medidas de segurança, para essa mulher. E é importante lembrar que a lei no Brasil fala que não é só a mulher que pode denunciar. Se um vizinho, se um parente, se uma pessoa percebe uma situação de risco, ela pode sim também denunciar esse caso pra proteção da mulher.

Importante, pessoal. Muitas vezes a mulher não denuncia porque ela tem medo. Ela tem medo do impacto que isso vai trazer pra sua vida pessoal, sua vida com os filhos, o relacionamento, a estrutura da família. Muitas vezes ela tem esse mecanismo de introjetar uma culpa. Ela se sente culpada pela violência do parceiro. Então, é muito importante que a mulher vença essas resistências internas, ela perceba o que tá acontecendo em volta dela, ela localize o risco que ela está correndo e que ela possa, sim, denunciar sempre que for preciso, sempre que for necessário. Isso é muito importante pra sua saúde física, pra sua saúde mental e até pra sua vida.

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