Uma simples ida ao dentista pode revelar um problema mais sério: o diagnóstico de uma doença reumática. Problemas reumatológicos estão intimamente ligados a manifestações na saúde bucal, provocando quadros de cárie, gengivite, periodontite, tártaro e outros.
A doença de Sjögren é uma das que mais afetam a cavidade oral. Essa inflamação atinge as glândulas que secretam as lágrimas e a saliva, provocando a dificuldade de lacrimejamento e a secura na boca. A sensação de boca seca é chamada de xerostomia.
“A saliva é um protetor bucal muito importante, porque ela faz a proteção contra ações bacterianas. Na xerostomia, você tem a tendência ao ressecamento da boca, ardor bucal e, principalmente, inflamação e cárie. Por quê? Porque o dente deixa de ter a proteção natural que a saliva traz para os tecidos dentários”, alerta Marcio Lisboa, cirurgião-dentista.
O lúpus também costuma estar associado ao surgimento de úlceras e aftas de repetição. As úlceras aparecem ainda na doença de Behçet, tanto na boca quanto nas partes genitais.
“Outra coisa importante é que nas doenças reumáticas a gente usa muito corticoide e imunossupressor. Esses medicamentos diminuem a defesa do organismo contra bactérias e predispõem à candidíase oral, que é a presença de fungos na boca, e também à proliferação de cárie, gengivite e periodontite”, explica Eduardo Paiva Magalhães, coordenador da Comissão Multiprofissional da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR).
O contrário também acontece: problemas bucais podem agir como gatilho para doenças reumáticas. Hoje, já se sabe que a inflamação na boca chamada de periodontite pode afetar o sistema imune, desencadeando ou piorando um quadro de artrite reumatoide em pacientes com predisposição.
Quem tem doença reumática precisa ir ao dentista regularmente
É muito comum que os pacientes cheguem ao consultório do dentista com uma queixa, por exemplo, de disfunção de articulação temporomandibular, a ATM. Por meio de radiografias, vem a suspeita de que o problema seja mais amplo, como uma artrite reumatoide.
“Quando o paciente tem uma doença periodontal muito rápida, ele tem um processo de cárie muito rápido também. Então, através dessas alterações de periodontite, cárie, xerostomia, que são comuns no dia a dia do cirurgião-dentista, ele pode começar a suspeitar e fazer uma triagem rápida. Como geralmente as doenças autoimunes geram dores nas articulações, vão haver outros sintomas, outras dores, que ele pode usar para desconfiar e encaminhar ao reumatologista”, detalha o dentista.
A partir do diagnóstico fechado, o trabalho é conjunto. O controle reumatológico da doença associado ao tratamento odontológico promove melhoras mais rápidas da saúde como um todo. As evidências mostram que, após o tratamento periodontal, a dor e a quantidade de regiões dolorosas no corpo diminuem, enquanto a qualidade de vida do paciente aumenta.
“Todo mundo tem que ter um acompanhamento periódico do dentista, e mais ainda o paciente com doença autoimune. O profissional deve atuar junto ao paciente, habituando-se também às doenças reumáticas e às complicações que ele pode ter. Isso não deve ser opcional, mas parte do cuidado”, ressalta Eduardo.
No caso da osteoporose, uma das doenças reumáticas mais frequentes, o especialista destaca que os medicamentos usados no tratamento diminuem o metabolismo no osso e podem gerar alterações na mandíbula. Portanto, é recomendado que o paciente consulte um dentista e faça os procedimentos dentários necessários antes de começar a medicação ou entre os intervalos da sua aplicação.
Cuidados gerais
Toda pessoa com doença reumatológica deve manter os cuidados bucais já conhecidos, como escovar os dentes três vezes ao dia ou após as refeições com cremes fluoretados e uso de fio dental.
No caso de pacientes com alterações sistêmicas graves causadas pela doença, pode ser necessário o tratamento periodontal, isto é, aquele que inclui limpeza, raspagem, aplicação de flúor, entre outros. Esses pacientes também precisam manter as consultas odontológicas com uma frequência maior, conforme orientado pelo dentista. Já na doença de Sjögren, pode ser necessário ainda o uso de salivas artificiais.
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