A síndrome do pânico e o transtorno de ansiedade são distúrbios psiquiátricos que apresentam diferenças sutis, mas significativas, em relação à intensidade e duração dos sintomas. Saiba mais.
A síndrome do pânico, como é comumente conhecida, é um dos tipos de transtornos de ansiedade, segundo o DSM-5 – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, livro oficial que orienta a psiquiatria no mundo. O nível de intensidade de sintomas como coração acelerado, falta de ar e mãos trêmulas é o que separa a ansiedade de um ataque de pânico.
Em casos de ataques de pânico, as manifestações da ansiedade podem levar uma pessoa a paralisar e perder a capacidade de tomar decisões simples, como escolher para quem telefonar e pedir ajuda. Alguns desses sintomas são: perda de foco visual, desorientação espacial e confusão mental.
Enquanto a ansiedade generalizada é mais presente, constante e rotineira, sendo disparada por eventos concretos cotidianos, factíveis ou imaginários, ela também traz uma sensação física de incômodo constante ao exigir muito esforço da pessoa para dar conta das tarefas do dia a dia. A sensação é de um cansaço que parece não ir embora nunca.
Os ataques de pânico são mais concentrados em eventos específicos imprevisíveis, relacionados ou não a eventos traumáticos anteriores, e costumam disparar sinais corporais mais paralisantes, exigindo, muitas vezes, o suporte de outras pessoas. Por isso, é sempre importante dividir o diagnóstico com uma rede de apoio de confiança, treinada para saber acudir e acolher, além de ter a capacidade de chamar ajuda especializada e técnica quando necessário.
Como é feito o diagnóstico da síndrome do pânico e do transtorno de ansiedade?
De acordo com Ana Tomazelli, psicanalista e idealizadora do Instituto de Pesquisa de Estudos do Feminino e das Existências Múltiplas (Ipefem), o diagnóstico não é simples nem rápido e, muito menos, linear. “Isso significa dizer que, mesmo com instrumentos desenvolvidos para auxiliar na identificação e classificação do quadro geral, todo diagnóstico em saúde mental envolve consultas regulares e acompanhamento de condições físicas e emocionais do paciente, com a finalidade de captar sutilezas que podem fazer toda a diferença na hora de estabelecer um tratamento”, afirma.
O ideal para uma avaliação correta é que os profissionais de psiquiatria e psicologia atuem em conjunto, inclusive, com participação familiar em casos mais críticos. Além disso, a realização de exames clínicos para avaliar níveis hormonais e de vitaminas são essenciais. “É sempre importante lembrar que a saúde mental não é separada da saúde física: ambas existem em íntima relação de causa e consequência, não podendo ser avaliadas separadamente. O ideal é, sempre, pensar em saúde integral”, explica a psicanalista.
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Quais são as principais técnicas de tratamento utilizadas para a síndrome do pânico e o transtorno de ansiedade?
Ana Tomazelli afirma que os profissionais da área estão atualmente discutindo o exagero e o imediatismo da medicalização de pacientes, sem o acompanhamento terapêutico necessário e, principalmente, sem a mudança do estilo de vida. Entretanto, a especialista deixa claro que recursos medicamentosos, principalmente os alopáticos (os famosos “tarja preta”) são úteis em alguns casos, ajudando o paciente a ter ânimo e forças para voltar a se relacionar socialmente, por exemplo.
“O que não se pode é acreditar que apenas os remédios resolvem um quadro de patologia em saúde mental e isso vale para todas elas. Então, as principais técnicas devem se concentrar em avaliar estilo de vida, possibilidades sociais, alimentação e, sem dúvida, tratamento terapêutico de médio ou longo prazos”, infere.
É possível ter síndrome do pânico e transtorno de ansiedade ao mesmo tempo?
Como a síndrome do pânico é um tipo de transtorno ansioso, pode-se dizer que é possível ter outros tipos de transtorno de ansiedade em conjunto com ela, como: fobias específicas, transtornos de ansiedade social (fobia social), ansiedade generalizada, agorafobia, mutismo seletivo, entre outros.
A psicanalista avalia que é preciso esclarecer que, em geral, transtornos ansiosos vêm combinados não somente entre si, mas com outros tipos de transtorno, como os depressivos, por exemplo – por isso os diagnósticos são complexos e precisam de tempo. “Os sintomas, em geral, vão se manifestando ao longo das ocorrências cotidianas e nas relações com outras pessoas na vida do paciente”, conclui.
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Quais são as principais consequências a longo prazo da síndrome do pânico e do transtorno de ansiedade não tratados?
Os principais efeitos a longo prazo podem ser sentidos na falência das relações sociais e na deterioração da saúde física, entre elas limitações de autonomia, mobilidade e cognição, por exemplo. Dessa forma, as relações se tornam um desafio, pois comportamentos necessários como uma boa capacidade de se comunicar ou de manter a calma diante de um problema podem ser praticamente impossíveis.
O paciente pode se tornar uma pessoa agressiva e incapaz de sustentar atividades rotineiras de uma vida adulta funcional, inclusive, causando mais problemas para si mesmo e para quem está à sua volta. “Um exemplo prático é a distração por compulsão em jogos, comida, pornografia, redes sociais, levando ao esquecimento de pagar contas, limpar a casa, cuidar dos filhos – uma matemática que leva ao caos completo e à sensação de fracasso, retroalimentando a angústia, em um ciclo que não tem fim”, descreve a psicanalista.
Como as mudanças no estilo de vida podem ajudar no tratamento?
Mudanças no estilo de vida não apenas ajudam no tratamento da síndrome do pânico e nos transtornos de ansiedade, como são a solução para esses quadros e para a manutenção da saúde ao longo da vida. Um estilo de vida saudável garante longevidade e autonomia, tanto física quanto cognitiva.
Os sintomas da ansiedade são um desafio, principalmente para as pessoas que enfrentam obstáculos sociais, como viver em locais insalubres, depender de transporte público, entre outras condições que inviabilizam o triângulo formado por boa alimentação, bom sono e a prática de exercícios físicos. “Por essa razão, a saúde mental é um tema de saúde pública e não somente de responsabilidade individual ou micro coletiva. Deve estar na pauta de governos em todas as esferas e, também, das empresas, que contribuem – e muito – para a degradação da saúde mental de seus profissionais, a partir das condições de trabalho exigentes em dedicação e horas. Essa é uma conversa de toda a sociedade, afinal”, opina Ana.
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Os sintomas no dia a dia
Luiz Filippi Araujo, estudante de letras na Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e professor de inglês, sofre com crises de pânico desde 2021. Diagnosticado com transtorno de ansiedade generalizada alguns anos antes, ele afirma que os sintomas nunca foram tão fortes quanto na época. “A crise de pânico foi tão forte que precisei ser hospitalizado”, declara.
Portal Drauzio Varella: Quais são as estratégias que você utiliza para lidar com seus sintomas quando eles aparecem?
Luiz Filippi: Para lidar com a ansiedade, geralmente tento fazer algo que me distraia dos pensamentos ansiosos, como focar em alguma atividade diferente ou tirar um tempo para respirar. Essas estratégias simples costumam ser eficazes para controlar os sintomas mais leves. No caso de crises de pânico, as estratégias são mais metódicas e exigem mais esforço. Preciso seguir algumas etapas para evitar que a crise piore. Meu psicólogo me ensinou algumas estratégias, como usar outros sentidos para me concentrar no mundo ao meu redor e racionalizar os pensamentos de pânico. Quando a crise é muito forte, às vezes preciso recorrer a medicamentos que ajudam bastante. No entanto, como já tive muitas crises de pânico, aprendi a racionalizar mais os sintomas e a lidar melhor com eles. Antigamente, achava que estava infartando ou morrendo, mas agora sei que é só mais uma crise de pânico e tento não me entregar a esses pensamentos.
Portal Drauzio Varella: Como os sintomas da síndrome do pânico e do transtorno de ansiedade afetam sua vida cotidiana?
Luiz Filippi: No caso da ansiedade, os sintomas são mais brandos e um pouco mais racionais, não afetando tanto assim minha rotina diária. Às vezes, me deixam um pouco menos sociável e afetam a qualidade do meu sono e alimentação, mas são sintomas que consigo lidar com mais facilidade. Já os sintomas da crise de pânico são quase impossíveis de conviver, dominando completamente e exigindo muito conhecimento e prática para conseguir lidar com eles, além de ajuda profissional.
Portal Drauzio Varella: Você já procurou ajuda médica ou psicológica. Como foi a experiência?
Luiz Filippi: Comecei a fazer terapia aos 15 anos por conta do transtorno de ansiedade, e isso me ajudou bastante na época. Com o tempo, aprendi a lidar com a situação e não precisei de ajuda constante, nem de medicação. No entanto, voltei a precisar de ajuda profissional quando comecei a ter crises de pânico, que às vezes me levavam ao hospital. Precisei tomar medicação, tanto para o momento da crise quanto diariamente, e também fiz acompanhamento com o psicólogo.
Portal Drauzio Varella: Como o apoio de amigos e familiares tem sido importante no seu processo de tratamento?
Luiz Filippi: O apoio das pessoas ao meu redor é essencial para eu conseguir lidar com as crises. Já tive muitos amigos que me ajudaram em momentos de crise, inclusive indo comigo ao hospital quando os sintomas estavam muito fortes, e eles me ajudam a lidar com os sintomas também. Sem esse apoio, eu acho que não conseguiria lidar com essas situações. Então, é fundamental e eu diria que é tão importante quanto a ajuda profissional.
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Sobre o autor: Caio Coutinho é estudante de jornalismo na Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e colaborador no Portal Drauzio Varella. Além do gosto por música, também tem interesse em temas de saúde mental e saúde da criança.