Um padrão de corpo excessivamente magro aumenta o risco de dismorfia corporal.
A busca pela magreza tem se tornado uma tendência cada vez mais evidente, frequentemente reforçada pelas redes sociais. Em diferentes plataformas de vídeos, é possível encontrar pessoas associando beleza, sucesso e felicidade ao corpo excessivamente magro. No entanto, por trás desse fenômeno, que tomou um novo fôlego desde a década de 1990, é possível observar um impacto negativo considerável na saúde mental e física de mulheres e jovens, principalmente.
“A romantização da magreza extrema pode levar os indivíduos a internalizar esses padrões como verdades absolutas, gerando uma pressão para alcançar esse ideal de beleza. Isso pode aumentar o risco de desenvolvimento de transtornos alimentares, como anorexia e bulimia, e distúrbios corporais”, explica o dr. Elton Kanomata, psiquiatra do Hospital Israelita Albert Einstein (SP).
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O risco da dismorfia corporal
O desejo por um corpo magro e perfeito pode desencadear um transtorno de imagem ainda pouco conhecido pela população: a dismorfia corporal (ou transtorno dismórfico corporal). A condição, que também é conhecida popularmente como “feiura imaginária”, provoca uma insatisfação extrema com defeitos sutis, ou até mesmo, inexistentes na aparência.
Geralmente, a dismorfia corporal provoca a percepção distorcida da própria imagem gerando sentimentos negativos, como ansiedade e baixa autoestima, principalmente quando a pessoa acredita que a “imperfeição” não pode ser corrigida.
Outros sinais de alerta:
- Constrangimento e isolamento social: indivíduos podem se sentir envergonhados por suas características físicas, o que frequentemente aumenta o isolamento social. Eles evitam festas, eventos e até mesmo interações cotidianas para não serem julgados pela aparência.
- Obsessão com a imagem corporal: a dismorfia corporal gera uma obsessão pela própria imagem, levando a comportamentos compulsivos, como o uso excessivo de espelhos, comparações constantes com os outros e busca constante por validação externa.
- Procedimentos estéticos excessivos: muitas pessoas recorrem a cirurgias e procedimentos estéticos em excesso na tentativa de corrigir o que percebem como defeitos corporais.
- Desenvolvimento de transtornos alimentares: a preocupação com o corpo e o peso pode levar ao desenvolvimento de transtornos alimentares, como anorexia e bulimia.
- Consequências físicas a longo prazo: comportamentos de restrição alimentar extrema ou purgação podem causar desnutrição, desequilíbrios hormonais, problemas cardíacos e outros problemas ao corpo a longo prazo.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico da dismorfia corporal pode ser desafiador, pois muitas pessoas sentem vergonha e evitam compartilhar seus sentimentos e sintomas com amigos e familiares. No entanto, geralmente são realizados testes psicológicos detalhados, e o especialista investiga a presença de comportamentos compulsivos, como a checagem excessiva do corpo.
A dismorfia corporal tende a se tornar mais evidente após múltiplas cirurgias plásticas ou procedimentos invasivos para alterar a aparência.
O tratamento geralmente envolve psicoterapia, como a terapia cognitivo-comportamental, e, em alguns casos, o uso de medicamentos antidepressivos ou ansiolíticos para tratar os sintomas.
“Familiares e amigos desempenham um papel fundamental ao compor uma rede de apoio para ajudar no enfrentamento das dificuldades com a autoaceitação e os problemas relacionados à busca pela magreza ou corpo perfeito. É fundamental que essa rede ofereça suporte emocional, crie um ambiente acolhedor e estimule a busca por ajuda profissional”, destaca o dr. Kanomata.
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Como prevenir a idealização da magreza excessiva?
A idealização da magreza extrema desconsidera a diversidade corporal e representa um risco para o bem-estar das pessoas, principalmente entre os jovens, que estão em uma fase importante de desenvolvimento físico e emocional.
Para prevenir essa romantização, é essencial promover uma mudança na percepção social sobre o corpo humano, enfatizando que a saúde vai muito além da estética.
O dr. Kanomata reforça a importância de educar crianças e adolescentes desde cedo sobre o consumo crítico de conteúdo nas redes sociais, ajudando-os a identificar imagens editadas e a compreender que nem tudo o que é postado reflete a realidade.
“É necessário também que os pais estabeleçam limites para o tempo de tela e monitorem os conteúdos acessados. Durante a adolescência, quando as preocupações com a imagem corporal se intensificam, é um momento propício para educar sobre a relação entre imagem corporal e saúde mental nas escolas”, sugere.
Para aqueles que enfrentam dificuldades psicológicas, o especialista reforça a importância da conscientização sobre os impactos negativos da idealização da magreza, para que possam reconhecer problemas relacionados à saúde mental e buscar apoio psicológico quando necessário.
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