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Pediatria

Como saber se algo não vai bem com os olhos do bebê

O diagnóstico precoce de doenças oculares nas crianças pode ser feito através do teste do olhinho e do acompanhamento com um oftalmologista.
Publicado em 16/05/2022
Revisado em 16/05/2022

O diagnóstico precoce de doenças oculares nas crianças pode ser feito através do teste do olhinho e do acompanhamento com um oftalmologista.

 

Olhos lacrimejando, desviados, com manchas brancas na pupila ou com reflexo vermelho desigual ao tirar uma foto… Esses são alguns dos sintomas que podem representar um problema oftalmológico nos bebês, mas que nem sempre são fáceis de identificar.  

“Nessa faixa etária, é normal que as crianças esbarrem nos móveis ou aproximem as coisas para olhar melhor. Até mesmo quando assistem à televisão, elas gostam de ficar perto, porque é mais colorido e o som é mais alto. Por isso, é difícil perceber externamente se há alguma anormalidade”, explica a dra. Bruna Ducca, oftalmopediatra da clínica EyeKids.

Enquanto os bebês não são capazes de comunicar suas queixas, são os pais que precisam se atentar a alguns cuidados, que podem começar logo na maternidade.

 

Teste do olhinho: a primeira triagem

O teste do reflexo vermelho (TRV), ou “teste do olhinho”, consiste em apagar as luzes do ambiente e apontar uma lanterna (oftalmoscópio) para os olhos do recém-nascido. Com a pupila da criança dilatada, o médico consegue analisar o reflexo vermelho. Se apresentar qualquer diferença entre os olhos ou ganhar uma nova cor, é sinal de que algo não vai bem.

Alguns dos problemas que podem ser acusados pelo teste do olhinho são catarata congênita, hemorragias, graus elevados de miopia ou hipermetropia e até retinoblastoma.

Na rede pública, o teste do olhinho é obrigatório e geralmente é realizado por um pediatra na própria maternidade. Ao perceber algo suspeito, o profissional encaminha o bebê para o oftalmologista, que dá o diagnóstico.

Veja também: Os olhos das crianças | Entrevista

 

Quais crianças precisam de atenção especial?

Bebês prematuros, que nasceram com alguma síndrome ou que têm histórico de doenças oculares na família são aqueles que devem seguir um acompanhamento oftalmológico mais frequente nos primeiros anos de vida.

“De qualquer forma, é muito raro que crianças pequenas apresentem problemas graves nos olhos. Mas, ao fazer os exames de rotina, a gente consegue descobrir cedo e tratar de forma muito mais eficaz”, destaca a dra. Bruna.

A recomendação da Academia Americana de Oftalmologia (AAO) é que toda criança seja levada para uma consulta preventiva com o oftalmologista entre seis meses e um ano de idade. Depois, a visita pode ser realizada uma vez ao ano até os 7 anos de idade, que é quando a visão está em desenvolvimento.

Em casa, os pais podem observar as estruturas oculares nos primeiros meses, a capacidade do bebê de fixar o olhar nos rostos humanos a partir de um mês, a habilidade de seguir com os olhos pessoas ou objetos a partir dos três meses e o alinhamento dos olhos a partir dos seis meses.

 

Problemas oftalmológicos mais comuns em bebês

Nos consultórios, os diagnósticos mais usuais são:

 

Obstrução do canal da lágrima

Normalmente, as lágrimas são drenadas do olho para o nariz através de um canal. Quando a criança nasce com essa passagem fechada, a lágrima acaba refluindo para o olho. Por consequência, o paciente apresenta lacrimejamento constante e secreção amarelada, além da formação de uma bolsinha próxima ao nariz. O olho também fica mais sensível e sujeito a infecções e inflamações.

Muitas vezes, essa obstrução se resolve espontaneamente, não exigindo nenhum tipo de tratamento. Mas, se for preciso, o oftalmologista pode receitar antibióticos, colírios ou cirurgia para construir uma nova via de escoamento da lágrima. 

 

Falso estrabismo

O falso estrabismo é a impressão enganosa de um desalinhamento causado por ilusão de ótica. Em geral, os pais suspeitam de estrabismo quando a dobra da pele no canto das pálpebras é maior do que o normal, diminuindo a quantidade de superfície branca em um dos olhos em comparação com o outro. Essa diferença fica ainda mais evidente quando o bebê olha para os lados ou posa para fotos.

Conforme o restante do rosto cresce, as estruturas se alinham novamente e a aparência melhora de forma natural, sem a necessidade de qualquer tratamento. No entanto, em caso de suspeita, é importante levar a criança ao oftalmologista. Sem intervenção, o verdadeiro estrabismo pode levar até à perda completa da visão.

Veja também: Deficiência visual | Entrevista

 

E o retinoblastoma?

O retinoblastoma, apesar de ser um tumor bastante raro, é uma preocupação para os pais dos bebês. A doença atinge cerca de uma a cada 20 mil crianças, em especial menores de 5 anos. É um tumor maligno que afeta as células da retina e pode comprometer a visão de um ou dos dois olhos.

“O retinoblastoma não apresenta sintomas marcantes, apenas pequenas lesões localizadas no fundo do olho”, conta a oftalmopediatra. Perceptível, só mesmo o reflexo brilhante no olho, como aquele que aparece nos gatos ao serem iluminados durante a noite. Estrabismo, dor e inchaço podem surgir, mas não são regra.

Por outro lado, quando diagnosticado precocemente, o retinoblastoma tem 90% de chance de cura. Daí a importância de realizar o teste do olhinho e os demais exames rotineiros, principalmente se já houver histórico da doença na família. 

Nos tumores pequenos, o tratamento envolve fotocoagulação, crioterapia e radioterapia. Já nos mais avançados, pode ser preciso quimioterapia ou até a retirada do olho doente.

 

Cuidados com a saúde dos olhos ao longo da infância

Conforme a criança vai crescendo e começa a se comunicar, é mais simples perceber qualquer anormalidade na visão. Quando elas já estão um pouco maiores, as queixas mais comuns estão ligadas à dificuldade de enxergar de perto ou de longe são os problemas de grau, como miopia, hipermetropia, astigmatismo e presbiopia. 

Nessa fase, além do acompanhamento médico, seguem algumas dicas.

 

Evitar o uso de telas

“Hoje em dia, os pequenos têm muito contato com telas, principalmente tablet e celular. Isso faz com que usem excessivamente a visão de perto, o que estimula o crescimento do olho e provoca a miopia cada vez mais cedo”, alerta a dra. Bruna.

Sobre os aparelhos eletrônicos, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda:

  • Para crianças menores de 2 anos: evitar completamente a exposição às telas;
  • Para crianças com idades entre 2 e 5 anos: limitar o tempo de telas a, no máximo, 1 hora por dia;
  • Para crianças com idades entre 6 e 10 anos: limitar o tempo de telas a, no máximo, 1-2 horas por dia.

Uma alternativa é levar as crianças para realizar atividades ao ar livre, que estimulam a visão de longe.

 

Tratar alergias

Especialmente nos grandes centros urbanos, é comum que as crianças desenvolvam muitas alergias por conta da poluição. Se a criança coça o olho exageradamente, pode ser um sinal de que a doença está afetando o olho.

A blefarite, por exemplo, é uma inflamação muito comum nas pálpebras, que pode ser causada por uma infecção bacteriana. “A prevenção consiste na higienização da área”, recomenda a especialista.

 

Ouvir as queixas das crianças

“As reclamações das crianças menores costumam ser muito inespecíficas, então os pais tendem a achar que elas estão falando algo fora da realidade. Mas se ela está se queixando é porque alguma coisa a está incomodando. Leve a sério e procure ajuda médica”, aconselha a dra. Bruna.

Veja também: Cresce o número de crianças com miopia

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