Doenças virais altamente contagiosas, o sarampo e a catapora podem ser difíceis de distinguir. Mas ambas podem ser evitadas com a vacinação.
Uma das dúvidas mais frequentes que os pais levam aos pediatras é sobre doenças eruptivas que são percebidas na pele das crianças nos primeiros anos de vida. É o caso do sarampo e da catapora (varicela), que têm características semelhantes e muitas vezes podem ser confundidas.
Segundo a dra. Bruna Konzen, médica pela Universidade de Caxias do Sul (UCS) e pediatra pelo Hospital Santa Cruz (HSC), o sarampo é uma doença viral altamente contagiosa, causada pelo vírus do gênero Morbillivirus e que cujos sintomas mais frequentes são febre alta, tosse, coriza, conjuntivite e manchas na pele (exantema maculopapular morbiliforme) que começam no rosto e progridem em direção aos pés.
A catapora também é uma infecção viral com alta possibilidade de contágio, ocasionada pelo varicela-zóster. A doença causa febre entre 37,5° e 39,5° C, mal-estar, inapetência, dor de cabeça, cansaço e lesões na pele que provocam muita coceira.
A forma de transmissão também é bastante similar. Ambas acontecem através do contato direto com a saliva ou secreções respiratórias da pessoa infectada, por meio de gotículas eliminadas pelo espirro ou pela tosse, ou pelo contato direto com o líquido do interior das vesículas.
O período de incubação da catapora dura em média 15 dias, já o do sarampo leva cerca de 12 dias, mas a transmissão pode ocorrer antes do aparecimento dos sintomas e estender-se até o quarto dia depois que surgiram placas avermelhadas na pele.
Consideradas infecções infantis comuns, elas podem ser evitadas por meio da vacinação. Mas como diferenciá-las?
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Principais características do sarampo e catapora
Os principais sintomas do sarampo são febre, tosse, coriza e conjuntivite, como descreve a dra. Bruna:
“Após três a cinco dias [do início dos sintomas], surgem manchas na pele, começando atrás das orelhas e na linha do cabelo e, em seguida, se espalhando para o resto do corpo, braços e pernas, que não poupa região palmo-plantar”, explica a especialista.
Por outro lado, na catapora, “há o aparecimento de lesões de pele em áreas do corpo e face que se espalham para todo o corpo, incluindo mucosa da boca, genitália e região do ouvido”, esclarece.
Conforme a médica, primeiro aparecem manchas avermelhadas contendo líquido claro e, ao romperem, formam feridas com crostas que coçam. O paciente também pode apresentar febre baixa, vômitos, dor de cabeça e irritabilidade.
Resumindo, de acordo com a médica, a catapora surge com erupções principalmente na região do tronco (abdômen e tórax), enquanto as erupções do sarampo se concentram na cabeça e atrás do pescoço.
Mesmo em estágios leves, no caso da catapora, alguns pacientes evoluem de forma grave. A doença pode ser perigosa na gestação, por conta da possibilidade de malformação fetal.
Ouça: DrauzioCast #50 | Catapora
Diferenças entre sarampo e catapora
O sarampo e a catapora são doenças virais muito semelhantes, febris e eruptivas. Porém, a pediatra explica que as principais diferenças estão nas manifestações clínicas, especialmente no tipo de lesão.
A erupção da catapora começa com pápulas vermelhas, que se transformam em bolhas cheias de líquido que coçam, eventualmente se rompem e drenam, e depois cicatrizam completamente. Já a do sarampo aparece como pontos vermelhos achatados, embora às vezes possa haver protuberâncias elevadas que não contêm líquido.
A infecção por catapora geralmente dura entre 5 e 10 dias, costuma ser leve, mas pode causar complicações graves em pessoas em risco. No caso do sarampo, o paciente pode conviver com os sintomas de 2 a 3 semanas. Possíveis complicações do sarampo incluem infecções de ouvido, bronquite, pneumonia e encefalite.
A catapora é mais frequente, mas o sarampo é potencialmente mais grave.
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Tratamento
Como ambas são causadas por vírus, o tratamento consiste em aliviar os sintomas até que a infecção desapareça.
Para o sarampo, a dra. Bruna afirma que não existem estudos que confirmem a utilidade de antivirais no manejo da doença, porém salienta que “a vitamina A mostrou efeito protetor por reduzir as taxas de mortalidade e morbidade pelo sarampo em países em desenvolvimento. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda seu uso em todos os casos”.
Entretanto, há uma série de cuidados recomendados:
- Abundância de líquidos e hidratação venosa, se necessário;
- Antitérmicos para o controle da febre;
- Limpeza ocular com solução salina;
- Tratamento com antimicrobianos nos casos acompanhados de infecções secundárias (por exemplo, otite média, pneumonias e conjuntivites).
No caso da catapora, podem ser indicados medicamentos para aliviar os sintomas, como remédio para dor e febre, assim como loções calmantes para aliviar a coceira.
“É fortemente contraindicado o uso de AAS ou aspirina em crianças e adolescentes com quadros virais, em especial com quadro de varicela, por risco de síndrome de Reye (doença rara, porém grave, associada ao uso desses medicamentos)”, alerta a médica.
E quem já teve as duas doenças, não corre o risco de contraí-las novamente, porque segundo a dra Bruna, “é conferida a imunidade vitalícia contra as recorrências”.
Para finalizar, ela recomenda: “A vacinação é importante porque preserva não só a pessoa, mas todos. Isso é especialmente importante para quem não pode se vacinar, como pacientes com sistema imunológico debilitado e mulheres grávidas”, diz.
E atenção em caso de sintomas atípicos, é importante notificar o médico imediatamente, a fim de realizar o diagnóstico e a terapia subsequente o mais rápido possível.
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Sobre a autora: Angélica Weise é jornalista e colabora com o Portal Drauzio Varella. Tem interesse por assuntos relacionados à saúde mental, atividade física e saúde da mulher e criança.