Por que as pessoas ficam roucas?


Equipe do Portal Drauzio Varella postou em Otorrinolaringologia

A rouquidão é uma alteração na voz que afeta principalmente profissionais que precisam falar bastante, como professores e comunicadores.

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Publicado em: 25 de outubro de 2022

Revisado em: 18 de dezembro de 2022

A rouquidão é uma alteração na voz que afeta principalmente profissionais que precisam falar bastante, como professores e comunicadores.

 

A rouquidão, também chamada de disfonia, é um distúrbio que afeta a qualidade (timbre, intensidade e tonalidade) da voz. Na prática, é como se uma pessoa com fala normalmente aguda, como uma cantora soprano, por exemplo, começasse a ficar com a voz rouca, pesada e “áspera”.

De acordo com a literatura médica, cerca de 30% da população acaba desenvolvendo rouquidão em algum momento na vida. Ela pode afetar qualquer um independentemente da idade, mas tem certa predileção por profissionais que usam bastante a fala, como professores, cantores e comunicadores.

Para entender melhor por que as pessoas ficam roucas, a reportagem do Portal Drauzio Varella conversou com a fonoaudióloga Ligia Motta, do Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio do Sul (PUC-RS), e com o médico otorrinolaringologista Allex Ogawa, professor do curso de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR).  

 

Por que a rouquidão acontece?

A rouquidão normalmente acontece por causa do mau uso da voz – gritar em excesso e falar por mais de 10 horas seguidas, por exemplo – ou por alguma lesão na laringe, como gripe e laringite (um tipo de inflamação que acomete a laringe). 

A laringe, localizada na região da garganta, é um órgão que exerce função respiratória e fonatória. É nela que estão as pregas vocais, duas saliências horizontais que vibram com a passagem do ar vindo do pulmão, produzindo o som.

Quando a disfonia ocorre pelo uso inadequado da voz, ela recebe o nome de rouquidão funcional. Já quando surge por causa de alterações na laringe, é chamada de orgânica.

Às vezes, segundo a fonoaudióloga Ligia Motta, o mau uso também pode gerar lesões, como nódulos (uma espécie de calo), pólipos (lesões) e edema de Reinke (inchaço). Nesses casos, a rouquidão é chamada de orgânico-funcional. O nódulo vocal é o dano mais comum das cordas vocais.

“Há uma outra situação que chamamos de disfonia psicogênica. Ela ocorre quando a pessoa de repente fica muito rouca ou sem voz por causa de algum estresse emocional, como a defesa do doutorado, por exemplo”, falou Ligia Motta. Nesses casos, geralmente é preciso o apoio de um terapeuta.

A rouquidão também pode estar associada ao câncer de laringe. O cigarro é outro grande vilão da voz, pois as toxinas presentes nele irritam a laringe.

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Quais os principais sintomas da rouquidão?

O principal sintoma da disfonia é a voz rouca. No entanto, segundo o otorrinolaringologista Allex Ogawa, o paciente também pode ter fadiga vocal, dor e até perda da voz. Isso ocorre porque o indivíduo acaba usando mais força muscular do restante da laringe.

“Quando um músculo está sobrecarregado, há mais cansaço e fadiga. A pessoa fala ‘nossa, será que no final do dia eu vou ter voz?’ Já a dor acontece porque quando o paciente força demais (o restante do órgão), é como se tivesse uma cãibra muscular. E se ele fica forçando muito para falar, o músculo dá uma travada e a voz some.” 

O dr. Allex Ogawa disse também que a rouquidão muitas vezes gera perda de confiança e de autoestima, porque a pessoa não tem mais a própria voz. “Ela não sabe se vai conseguir se impor ou se vai conseguir fechar um negócio, por exemplo, por causa da forma que está se manifestando.”

A rouquidão afeta principalmente profissionais que usam constantemente a fala, como professores, locutores, radialistas, cantores e profissionais de telemarketing. Não há preferência por gênero ou idade. No entanto, segundo o dr. Allex Ogawa, o nódulo vocal, que é a lesão mais comum das cordas, ocorre com mais frequência em mulheres e crianças.

“Isso tem a ver com o tamanho da corda vocal e a concentração de ácido hialurônico (uma substância produzida pelo organismo que funciona como um travesseiro ou um colchão de proteção) nela. O homem tem uma prega vocal maior e com mais ácido hialurônico do que a mulher e a criança. Como consequência disso, esses dois últimos têm mais predisposição a ter nódulo vocal.”

 

Como é feito o diagnóstico da rouquidão?

Se a rouquidão durar duas semanas, é hora de procurar ajuda especializada. O fonoaudiólogo, explicou Ligia Motta, faz a avaliação acústica e perceptiva da voz. De acordo com ela, um pedaço da voz do paciente é gravado e avaliado. A respiração, os movimentos da língua e lábio, bem como a linguagem, também são analisados.

O otorrinolaringologista, disse o dr. Allex Ogawa, geralmente pede uma videolaringoscopia. Por meio desse exame, o profissional introduz um aparelho com uma câmera no nariz ou na boca do paciente para poder enxergar a laringe. O objetivo é verificar se há alguma lesão no órgão, como nódulos e pólipos.

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Como é o tratamento?

O tratamento da rouquidão depende de cada caso. Em algumas situações, a fonoterapia resolve; em outras, no entanto, os especialistas precisam recorrer a remédios e até cirurgias.

O nódulo vocal, que é a lesão mais comum, pode ser tratado apenas como fono. Ligia Motta falou que 12 sessões normalmente ajudam o paciente a melhorar a qualidade vocal. No caso de rouquidão psicogênica, no entanto, ela disse que pode encaminhar o paciente para a psicoterapia também.

A cirurgia, explicou o dr. Allex Ogawa, é recomendada para lesões que não melhoram com a fonoterapia. “Ela pode ser recomendada em casos de pólipos, cistos e edemas de Reinke, por exemplo”. Já os remédios, falou o dr. Allex Ogawa, são usados quando a rouquidão deriva de alguma outra doença.

 

Como prevenir a rouquidão?

De acordo com Ligia Motta, a prevenção contra a rouquidão começa com uma saúde geral equilibrada, “com alimentação saudável, boas noites de sono e exercício físico”. Além disso, é importante evitar a competição sonora (falar mais alto em ambientes barulhentos).

“Se precisar falar em locais com muito ruído, o ideal é usar algum recurso para projetar melhor a voz, articular melhor para que a projeção aconteça de forma adequada e ser mais assertivo para não precisar ficar conversando tanto no meio do barulho, sobrecarregando a musculatura”, falou.

Já o dr. Allex Ogawa disse que é ideal evitar pigarrear, tossir, gritar e falar por muito tempo seguido. “Em relação ao pigarro, às vezes uma boa hidratação já resolve. No caso da tosse, existe a possibilidade de tossir de boca fechada – é como se fosse uma ‘micro tosse’. Ela limpa a laringe e traz alívio. A inalação é outra medida interessante.”

 

Sobre o autor: Lucas Gabriel Marins é jornalista e futuro biólogo. Tem interesse em assuntos relacionados à ciência, saúde e economia.

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