Entenda por que algumas pessoas têm diferentes tipos de câncer ao longo da vida

desenho de fita de DNA. Ter diferentes tipos de câncer pode ter relação com fatores genéticos

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Publicado em: 30 de março de 2023

Revisado em: 19 de maio de 2023

Muitas vezes ter diferentes tipos de câncer é causado por algum gene defeituoso que está sendo transmitido de geração para geração.

 

O câncer se tornou tão comum que não é surpresa que muitas famílias tenham um ou mais membros que já tenham tido a doença. Entretanto, existem pessoas que são acometidas por diferentes tipos de câncer ao longo da vida (não estamos falando de metástases, mas sim de tumores primários), que muitas vezes são causados por algum gene defeituoso que está sendo transmitido de geração em geração

 

Sinal de alerta

A médica geneticista Maria Isabel Achatz, membro do Comitê de Oncogenética e Oncogenômica da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), explica que o risco de uma pessoa ter câncer ao longo da vida é de 38%. Os fatores de risco modificáveis para o câncer, ou seja, que é possível prevenir são: tabagismo, consumo de álcool, sedentarismo e consumo de alimentos ultraprocessados. Por outro lado, há os fatores que não temos controle nenhum, como herança genética e envelhecimento. 

“À medida que o indivíduo vai envelhecendo, o risco aumenta, pois o organismo perde a capacidade de suprimir tumores e reparar os erros do DNA. Com o passar dos anos, isso é até esperado. Mas há pacientes que nascem com uma fragilidade maior, um risco maior de desenvolver múltiplos tumores primários, por conta de uma alteração genética, devido ao organismo não conseguir fazer essa supressão tumoral”, explica a médica. 

É o caso de pacientes que apresentam um câncer muito mais cedo do que seria esperado para a população em geral (com 25, 30 anos de idade, por exemplo) ou então de pacientes que desenvolvem um tumor com 50 anos de idade e, em seguida, têm outros tipos de câncer. 

Veja também: Metástase – Por que um câncer se espalha?

 

Testes

É importante mencionar que ter casos de câncer na família não significa que exista hereditariedade para a doença. Apenas cerca de 10% dos casos de câncer se dão por esse fator. 

Como mencionado pela médica, alguns sinais de alerta devem ser levados em consideração, como histórico familiar (se a mãe e a avó tiveram câncer de mama, por exemplo, ou se o pai teve câncer de pâncreas), idade precoce e múltiplos tumores. 

Nesses casos, podem ser indicados testes para mapeamento genético, que hoje em dia estão mais acessíveis (cerca de R$2 mil; antigamente chegavam a custar R$20 mil) e já são cobertos por muitos planos de saúde.

“O teste é feito a partir da saliva ou de uma pequena amostra de sangue do indivíduo. A partir disso, é possível avaliar e comparar o código genético da pessoa e identificar se houve alguma troca nesse DNA que pode levar a um risco aumentado de câncer no futuro”, complementa a dra. Maria Isabel. 

 

Genes

Segundo o dr. Tiago Kenji, diretor técnico da Dasa Oncologia do Hospital Santa Paula, há diversas alterações genéticas e síndromes que podem ocasionar o surgimento de múltiplas lesões tumorais ao longo da vida. Entre as mais comuns, está a mutação no gene BRCA1 e BRCA2.

“Quando há mutações nesses genes, órgãos como mama, ovário, próstata e pâncreas ficam mais expostos e com risco maior de desenvolver um câncer no futuro. Nesses casos, já é indicado um tratamento preventivo, com exames de rastreamento periódicos”, diz o dr. Tiago. 

Para o câncer de pâncreas, por exemplo, indivíduos portadores de uma síndrome de predisposição ou com aumento de risco devido à história familiar positiva, ou seja, com a presença de três ou mais parentes em primeiro ou segundo grau com a doença, precisam fazer exames frequentes de rastreamento. Isso ocorre porque, diferentemente do câncer de mama, em que é possível retirar as mamas, o pâncreas é insubstituível para o organismo. 

“Isso nos traz uma precisão muito grande, pois o câncer de pâncreas é muito difícil de ser identificado no início. Mas quando a gente já sabe que existe essa possibilidade, podemos indicar uma ressonância magnética do abdômen superior pelo menos uma vez por ano para esse paciente que estará em acompanhamento. Quando o tumor de pâncreas é identificado no início, não é necessário quimio, nem rádio. Somente cirurgia, o que muda muito o cenário da doença”, finaliza a dra. Maria Isabel.

 

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