Como é a reabilitação da fala após um tumor de cabeça e pescoço

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Publicado em: 2 de março de 2023

Revisado em: 2 de março de 2023

A figura do fonoaudiólogo se torna fundamental nesse processo. Entenda mais.

 

Quando falamos de tumores na região da cabeça e pescoço, assim como tumores na faringe, laringe e língua, estamos falando de um tipo de câncer que mexe com múltiplas funções do nosso organismo. 

Diferente de um tumor no pulmão, onde “somente” a capacidade de respirar fica comprometida, um tumor na região orofacial mexe com a fala do paciente, com a deglutição (o ato de mastigar e engolir fica comprometido)  e também com a respiração. 

Isso ocorre por consequência da progressão do tumor no organismo, que vai afetar a fala e outras capacidades vitais e também por conta do tratamento, que pode ser cirúrgico associado a sessões de radioterapia e quimioterapia. Infelizmente, essas sequelas são inevitáveis. Mas a boa notícia é que elas são reversíveis em grande parte dos casos. 

“A maioria dos pacientes consegue se reabilitar. Mas é preciso chamar atenção para o diagnóstico precoce desses tumores, porque 70% dos pacientes já chegam pra gente em estágios muito avançados. Quanto mais avançada a doença, maiores serão os impactos funcionais e o tempo de reabilitação daquele paciente”, explica o oncologista dr. José Guilherme Vartanian, especialista em tumores de cabeça e pescoço, no AC Camargo Cancer Center. 

 

Reabilitação

 

A reabilitação de um tumor na região orofacial se inicia muitas vezes logo após o diagnóstico e dependendo do caso, antes mesmo do paciente iniciar a radioterapia. Nessas ocasiões, as sessões de fono são uma espécie de pré reabilitação, onde o profissional fornece orientações e esclarecimentos para o paciente e familiares sobre as dificuldades de fala, voz e alimentação que podem decorrer do tratamento. 

A duração desse processo vai depender muito da localização e do grau de extensão do tumor. 

“Se for necessário tirar uma parte da língua, por exemplo, dependendo da localização, o paciente pode ficar com dificuldade de comer ou de falar. Se for um tumor na região das cordas vocais, ele perde a voz. São sequelas muito importantes. Então, o objetivo é a gente dar mais mobilidade e força para esses órgãos e o paciente conseguir ter uma boa qualidade de vida”, explica a fonoaudióloga Elisabete Carrara, do AC Camargo. 

 

Veja também: Como é a alimentação dos pacientes com câncer de cabeça e pescoço 

 

A fonoaudióloga explica que é um trabalho de formiguinha, pois é necessário reeducar o cérebro para que ele aprenda novamente a executar algumas funções vitais, que em nosso dia a dia, parecem automáticas. Isso porque a radioterapia pode causar fibrose dos músculos da mastigação, o que pode levar à incapacidade de abrir a boca tornando a alimentação mais difícil.

O ato de mastigar pode parecer simples, mas há mais de 200 músculos e nervos envolvidos nesse processo que envolve muita coordenação em cada uma das fases, que resulta no transporte do alimento até o estômago.

“Nós ensinamos algumas manobras para que ele possa ter uma qualidade de vida melhor, como, por exemplo, para não engasgar, inclinar levemente a cabeça na hora que for engolir algo, usar um canudo. Colocar o alimento mais para um lado da boca. São estratégias que podem parecer simples, mas fazem uma enorme diferença”, completa Carrara. 

 

Reaprendendo a falar

 

Muitas vezes, em um tratamento de câncer de laringe, o paciente precisa passar por um processo chamado laringectomia, que vai remover de forma parcial ou total do tumor, resultando muitas vezes na perda de voz, já que afeta a região que contém as cordas vocais. Nesses casos, o paciente, literalmente, vai precisar aprender uma nova maneira de se comunicar. 

Os indivíduos falam exalando ar de dos pulmões que vibram nas cordas vocais. Estes sons de vibração são modificados na boca pela língua, lábios e dentes para gerar sons que criam a fala. Por mais que as cordas vocais sejam removidas durante a laringectomia total, outras formas de fala podem ser criadas usando uma nova via para o ar entrar e uma outra parte da via aérea para vibrar. 

Os métodos usados para falar novamente dependem do tipo de cirurgia. Algumas pessoas podem estar limitadas a um único método, enquanto outras podem ter várias opções.

Segundo o guia do paciente laringectomizado, há três principais tipos que são: fala traqueoesofágica, fala esofágica ou fala por laringe eletrônica. 

  • Fala traqueosofágica – Por meio de cirurgia, é feito um pequeno orifício entre a traqueia e o esôfago, onde se insere uma prótese com uma válvula unidirecional. O paciente respira pela prótese e, em seguida, cobre-o com o dedo. Pela válvula, o ar é redirecionado para o esôfago, fazendo-o vibrar. A voz é então formada nos órgãos articuladores, como lábios, língua e dentes. A voz produzida soa muito natural e em cerca de duas semanas o paciente já consegue se comunicar. 
  • Fala esofágica – Na fala esofágica, as vibrações são geradas pelo ar que é expelido a partir do esôfago. Este método não requer nenhuma instrumentação, mas nem todos pacientes se acostumam ou conseguem, pois requer muita técnica. São necessários de quatro a 12 semanas de acompanhamento. 
  • Fala por laringe eletrônica – A laringe eletrônica (eletrolaringe) é um equipamento eletrônico, uma espécie de bastão, portátil e de fácil aprendizagem pelo paciente. Quando deseja falar, ele pressiona o equipamento na porção mediana do pescoço (papada) e aciona o botão para emissão do som. Essa vibração é transmitida por uma voz robótica, que forma palavras através dos órgãos articuladores como lábios, língua e dentes.

 

Pare de fumar durante o tratamento 

 

É de extrema importância que os pacientes com câncer nessa região, recebam acompanhamento para conseguirem parar de fumar. Porque quando o cigarro é mantido durante e após a radioterapia, ele pode aumentar a gravidade e a duração das reações da mucosa, agravar a boca seca (xerostomia) e comprometer o resultado do paciente, além de diminuir a eficácia do tratamento. 

 

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