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Neurologia

TDAH e demência: entenda a relação e como se proteger

Publicado em 02/07/2025
Revisado em 02/07/2025

Problemas de memória que podem levar ao Alzheimer são três vezes mais comuns em idosos com TDAH. Veja maneiras de prevenir.

Pessoas com TDAH possuem um risco três vezes maior de desenvolver Alzheimer. Segundo um estudo sueco com quase 3,6 milhões de participantes, pacientes com o transtorno têm seis vezes mais chance de apresentar problemas leves de memória e atenção durante a terceira idade. Esses problemas são chamados de comprometimento cognitivo leve e costumam ser um aviso de que o Alzheimer pode surgir nos próximos anos.

Como o TDAH age no cérebro?

“No TDAH, o problema está relacionado ao modo como o neurônio libera a dopamina. O córtex pré-frontal, por exemplo, é responsável por esse controle inibitório: controlar impulsos, impedir movimentos desnecessários, manter o foco, iniciar e concluir tarefas. E a dopamina tem um papel central nesse processo. Se o disparo de dopamina é inadequado, todas essas funções ficam comprometidas”, explicou Rodrigo Borghi, pesquisador do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (IPq/HCFMUSP), durante o Sinapsen 2025. O evento, promovido pela Apsen, é um encontro científico para especialistas em saúde mental.

A longo prazo, os efeitos do TDAH na memória afetam tanto homens quanto mulheres. No entanto, no decorrer da menopausa, a influência da queda de estrogênio e progesterona, hormônios que também participam da síntese de dopamina, faz com que a sensação de piora cognitiva seja mais acentuada.

“Por conta da menopausa, há uma tendência maior a relatar o que chamamos de declínio cognitivo subjetivo — uma percepção interna de que o funcionamento intelectual piorou, mesmo que nos testes formais essa diferença nem sempre seja tão evidente. E essa percepção pode ser o início de um processo de comprometimento cognitivo leve, e, eventualmente, da progressão para a demência”, afirmou o psiquiatra.

        Veja também: Toda desatenção é sintoma de TDAH?

Evolução do TDAH na velhice é pouco conhecida

Apesar do TDAH persistir na terceira idade, com prevalência praticamente igual à dos adultos jovens, há poucos estudos sobre os efeitos do transtorno em idosos. E menos ainda sobre o tratamento, ou seja, sobre a segurança do uso de medicamentos estimulantes e não estimulantes nesse público.

“A população idosa é mais difícil de incluir em estudos clínicos. Quando você remove, por exemplo, pacientes com comorbidades ou que fazem uso de múltiplos medicamentos — como geralmente acontece em idosos —, você acaba eliminando a maior parte dos candidatos. Então, a base de evidências é limitada”, esclareceu Rodrigo.

O especialista afirmou que, o que se sabe, é que o curso da demência pode ser mais precoce, mais rápido ou mais severo em quem tem TDAH. Um estudo americano, por exemplo, descobriu que a predisposição genética para o transtorno não apenas aumenta o risco de queda na memória e raciocínio em idosos, mas também acelera processos típicos da doença de Alzheimer, como danos e inflamações no cérebro, mesmo em quem não apresentava queixas inicialmente.

Como prevenir que o TDAH leve à demência

Se o paciente já tem o diagnóstico de TDAH, é fundamental que ele siga o tratamento para retardar uma possível progressão para a demência. Além disso, outras estratégias podem ajudar. São elas:

“Então, para pacientes com TDAH tratados, tudo isso entra como complemento. Para os não tratados, além de tudo isso, é fundamental iniciar o tratamento adequado do transtorno”, ressaltou o pesquisador.

        Veja também: Como se prevenir contra as demências?

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