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Neurologia

Por que bocejamos?

Se alguém bocejar perto de você, não vai demorar muito até que você sinta vontade de fazer o mesmo. Entenda como funciona o bocejo e para que ele serve.

Publicado em 30/08/2024
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Revisado em 30/08/2024

Se alguém bocejar perto de você, não vai demorar muito até que você sinta vontade de fazer o mesmo. Entenda como funciona o bocejo e para que ele serve.

 

Basta começar a sentir sono que ele aparece. O bocejo é um ato corriqueiro, incontrolável e não raramente acompanhado de uma boa espreguiçada no corpo. Na maioria das vezes, é um sinal de cansaço ou tédio. Mas, do ponto de vista científico, para que ele serve?

 

O que é o bocejo?

“Bocejar é um ato fisiológico, ou seja, é normal. Também é um ato reflexo e semi-involuntário, então é algo sobre o que a gente não tem total controle apesar de conseguir inibi-lo parcialmente. A gente consegue controlar a amplitude de abertura da boca, mas não conseguimos evitar que o movimento aconteça”, define Lúcio Huebra, neurologista e médico do sono da Associação Brasileira do Sono (ABS).

Os momentos mais comuns em que o bocejo aparece são quando há sonolência: à noite, próximo do horário de dormir; ou de manhã, logo ao despertar. Nesse último caso, é comum que venha também a vontade de se espreguiçar, alongando os músculos do corpo. Pode ainda aparecer durante atividades mais monótonas ou tediosas.

 

Para que serve o bocejo?

Em termos práticos, o bocejo permite a entrada e saída de ar com maior volume em comparação à respiração normal. Não se sabe muito bem o porquê, mas há teorias para isso desde antes de Cristo.

Hipócrates, o filósofo grego considerado o “pai da Medicina”, relacionava os fluidos corporais (os “humores”) com os quatro elementos da natureza: fogo, ar, água e terra. O bocejo, nesse contexto, seria uma forma de eliminar o ar excedente dentro do corpo e retomar o equilíbrio. Por muito tempo, acreditou-se ainda que o ato tinha função respiratória, promovendo maior oxigenação no cérebro.

“Depois, essa teoria foi caindo. Hoje, a gente sabe que o bocejo está relacionado à área cerebral do hipotálamo, que regula, por exemplo, o sono e a fome. Ainda existem dúvidas, mas as teorias dizem que ele envia esse ato reflexo nos períodos de mais sonolência para promover um leve aumento da vigília”, explica o neurologista.

Portanto, em um momento de cansaço, o bocejo serviria para nos deixar mais acordados. Outra teoria recente diz que ele está ligado à mudança da temperatura corporal e cerebral. Próximo do momento de dormir, a diminuição da temperatura do corpo seria um gatilho para o bocejo. Ao acordar, aconteceria o contrário, como um mecanismo de controle termorregulatório.

“Mas ainda são teorias, a gente não sabe exatamente por que ele acontece. A gente sabe um pouco mais de onde começa, onde é a via, mas não todas as suas funções”, destaca o dr. Lúcio.

Veja também: Todo mundo sonha? Entenda o que acontece no cérebro durante o sono

 

Por que dá vontade de bocejar ao ver outra pessoa bocejando?

Mas se o bocejo só acontece próximo da hora do sono, por que sentimos vontade de bocejar quando alguém faz o mesmo perto de nós?

O especialista explica que existem dois tipos de bocejo: o espontâneo, que é esse causado pela sonolência; e o contagioso, que acontece em resposta ao pensar, falar ou ver um bocejo.

“Talvez seja uma forma de comunicação da espécie humana. Os primatas e os humanos têm essa capacidade de bocejar em repetição a alguém que bocejou. Teria sido uma forma primitiva de comunicação em um momento em que, nas tribos, as pessoas estavam sonolentas e precisavam passar essa informação, já que ficavam mais frágeis para qualquer perigo. Então alguém bocejava, outra pessoa bocejava e essa informação se disseminava rápido para avisar que a vigília estava menor”, diz o médico do sono.

Existem ainda evidências de que o bocejo está relacionado ao fenômeno dos neurônios- espelho, responsáveis por copiar o comportamento do outro animal só de vê-lo fazendo. Essas estruturas permitem o aprendizado por imitação e outras características importantes, como a empatia.  

 

O bocejo pode estar relacionado a algum problema de saúde?

A frequência com a qual uma pessoa boceja é individual. Dependendo da fase da vida, ela também pode mudar: começa ainda no período fetal, aumenta um pouco na infância, atinge o pico entre os adolescentes e adultos jovens e diminui na terceira idade. Segundo o dr. Lúcio, um adulto boceja, em média, de sete a oito vezes a cada 24 horas. Mas esse número pode ser maior ou menor, porque varia de pessoa para pessoa.

Por outro lado, existem doenças que aumentam o bocejo de forma anormal, geralmente condições que também geram fadiga e sonolência excessiva. É o caso dos distúrbios do sono (apneia do sono, insônia e narcolepsia, por exemplo), alterações hormonais (como hipotireoidismo, diabetes e anemia grave) e algumas doenças respiratórias que deixam o metabolismo deficiente. 

Em casos mais raros, o aumento anormal do bocejo pode ser causado por lesões cerebrais nas regiões responsáveis por esse ato reflexo.

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