Hiponatremia: o que é, quais as causas e por que é perigosa?


Equipe do Portal Drauzio Varella postou em Nefrologia

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Publicado em: 4 de setembro de 2023

Revisado em: 4 de setembro de 2023

Condição é caracterizada pela queda do nível normal de sódio no sangue em relação ao volume de água.

 

O sódio é um dos principais minerais do organismo. Ele é indispensável para diversas funções, como o balanço entre a quantidade de água ingerida e perdida (equilíbrio hídrico), a transmissão entre os impulsos nervosos e a contração muscular. Alguns medicamentos e problemas de saúde, no entanto, podem gerar desequilíbrio na quantidade ideal do sódio do corpo, causando uma condição chamada hiponatremia.

Mais comum entre os idosos, a hiponatremia é caracterizada pela queda do nível de sódio no sangue – que normalmente varia entre 135 e 145 mEq/L – em relação ao volume de água. Só que esse desbalanço não está ligado ao baixo consumo de sal, que se ingerido em excesso pode acarretar problemas à saúde, mas sim ao predomínio de água no sangue sobre o estoque do mineral. 

Para entender a condição, pense em dois cenários: 4 gramas de sal (quantidade que cabe em uma colher de chá) diluídos em um copo americano com 200 mL de água e a mesma porção de sal misturada com um litro de água em uma jarra de suco. A hiponatremia é a segunda opção.

Esse distúrbio, segundo o médico nefrologista Pedro Túlio Rocha, diretor de políticas associativas da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SNB), pode levar a alterações na saúde, principalmente neurológicas no sistema nervoso central, porque o sódio é essencial para controlar a quantidade de líquido que há dentro das células. 

“Então quando baixa sódio, entra mais líquido nas células, e isso causa edema, que é o inchaço, que nos neurônios pode levar tanto a sintomas mais brandos, como dor de cabeça, sonolência e enjoo, quanto a sintomas mais graves, tais como convulsões e coma”, explicou.

 

Causas da hiponatremia

A principal causa da hiponatremia, de acordo com o dr. Rocha, é uma condição chamada síndrome de secreção inapropriada do hormônio antidiurético, o ADH. Também chamado de vasopressina, o ADH é produzido pela hipófise – uma glândula endócrina localizada na base do cérebro – e tem como função aumentar a absorção de água pelo rim.

“Em pessoas com essa síndrome, no entanto, o que ocorre é que há uma secreção indevida e inapropriada desse hormônio. Com isso, quando o corpo deveria estar excretando água livre, na verdade ele está reabsorvendo água livre, e isso promove a diluição do conteúdo total de sódio, o que leva à hiponatremia”, explicou ele.

Essa síndrome também pode ser causada por doenças, como acidente vascular cerebral (AVC) e alguns cânceres, principalmente tumores cerebrais e no pulmão. A condição pode surgir ainda em pós-operatório de neurocirurgias. Medicamentos como anticonvulsivantes, hipoglicemiantes e alguns antidepressivos também podem favorecer o surgimento do distúrbio.

        Veja também: Dúvidas sobre o sódio | Coluna #48

 

Sintomas da hiponatremia

O desequilíbrio entre sal e água apresenta diversos riscos à saúde, e a gravidade varia conforme o nível de sódio no sangue. Entre 130-135 mEq/L, a condição é considerada leve, e entre 120-129 mEq/L, é moderada. 

Nos casos leves e moderados, as pessoas com a condição normalmente apresentam náuseas frequentes, mal-estar, dor de cabeça, sonolência e enjoo.

Já quando a quantidade de sódio no sangue fica abaixo de 120 mEq/L, a hiponatremia é descrita como severa. Nesses casos, os sintomas são dor de cabeça, sonolência, depressão do nível de consciência, convulsões e até coma. 

 

Hiponatremia em idosos

De acordo com uma revisão publicada em julho de 2022 na revista científica “Jama Network”, feita por pesquisadores de universidades dos Estados Unidos, a hiponatremia afeta cerca de 5% da população adulta e 35% das pessoas hospitalizadas, com sintomas variando de leve a grave.

A condição costuma acometer mais os idosos, principalmente os hospitalizados. 

Isso porque, segundo diversos estudos, indivíduos dessa faixa etária e internados têm mais propensão ao uso rotineiro de vários medicamentos (polifarmácia) que podem favorecer o aparecimento do distúrbio.

“A condição é particularmente perigosa nos idosos também porque pode levar a quedas, com fraturas e internações hospitalares que podem ocasionar infecções secundárias”, falou o dr. Rocha.

Outros grupos de risco, segundo o livro “Distúrbios do equilíbrio hidroeletrolítico e ácido-base: diagnóstico e tratamento”, da SNB, são pessoas com hipotireoidismo (disfunção da tireoide associada à baixa produção de hormônios), com câncer e que fazem uso concomitante de quatro ou mais medicamentos

Nesses pacientes mais propensos à condição, existe aumento de “mortalidade, distúrbio de marcha, risco de queda, osteopenia/osteoporose, distúrbios cognitivos, tempo de internação (incluindo tempo de internação em unidade de terapia intensiva-UTI), custos e readmissões” em hospitais, segundo o material didático.

 

Tratamentos para hiponatremia

A presença de hiponatremia é verificada por meio de um exame que mede a concentração de sódio no sangue. A partir do resultado e da gravidade do desbalanço do sal em relação à água, o tratamento é definido.

O médico especialista também leva em consideração o tempo de instalação da hiponatremia para determinar o tratamento. O distúrbio, segundo diversos estudos, pode ser considerado agudo (quando sua duração é de menos do que 48 horas)  ou crônico (quando fica presente no organismo mais do que 48 horas).

No geral, disse o dr. Rocha, o tratamento vai de restrição de água e suplementação com sódio oral ou ureia, em casos mais leves, até a internação com administração de solução de sódio venoso, em situações mais graves. O nefrologista é o profissional mais indicado para conduzir o cuidado.

        Veja também: Como funcionam os rins | Infográfico

 

Beber muita água pode levar à hiponatremia? 

Como a hiponatremia está relacionada à elevação da água no corpo em relação ao sal, o distúrbio muitas vezes é associado ao consumo exagerado de água. No entanto, segundo o dr. Rocha, a possibilidade de uma ingesta alta do líquido levar à condição é muito baixa. “Isso porque o rim tem uma capacidade muito grande e excretar água livre.”

No entanto, falou ele, pode haver sim um desbalanço após exercícios físicos muito intensos, como o praticado por maratonistas, em que há alta transpiração. “Nesses casos, a reposição não deve ser feita exclusivamente com água, mas sim com bebidas isotônicas, que tem sódio, potássio e magnésio em sua composição.” 

De qualquer forma, falou o dr. Rocha, um consumo hídrico saudável gira em torno de 30 a 35 ml por quilo de peso. Se uma pessoa tem 60 quilos, portanto, é ideal tomar 2,2 litros a cada 24 horas. 

 

Sobre o autor: Lucas Gabriel Marins é jornalista e futuro biólogo. Tem interesse em assuntos relacionados à ciência, saúde e economia.

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