Forma intensa da síndrome pré-menstrual afeta a qualidade de vida e deve ser tratada.
Você já ouviu falar no transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM)? Trata-se uma forma mais grave da síndrome pré-menstrual – que anteriormente era chamada de TPM – que pode ser incapacitante e prejudicar muito a qualidade de vida das pacientes.
A lista de sintomas que podem estar presentes no transtorno é extensa e inclui sintomas físicos como inchaço, dor nas mamas, aumento do volume abdominal, dor de cabeça, cansaço; e sintomas psíquicos, como humor deprimido, ansiedade, irritabilidade, sensação de nervos à flor da pele e até ideação suicida. Também é comum ter falta de energia, diminuição do interesse pelas atividades cotidianas, aumento dos conflitos pessoais, alterações no sono (ter insônia ou dormir demais) e alterações de apetite (como comer muito ou ter vontade de alimentos específicos, normalmente mais calóricos).
“Tudo isso são sintomas que podem acontecer no transtorno, porém, eles têm uma intensidade muito elevada [em comparação com a síndrome pré-menstrual] e acabam interferindo na vida de uma forma bastante negativa. Pode atrapalhar não só as questões pessoais, mas também o trabalho”, afirma a dra. Lígia Santos, ginecologista e obstetra.
Veja também: Coisas que acontecem no corpo durante a menstruação: o que é normal?
Por que acontece?
As causas do TDPM ainda não são bem conhecidas. Segundo a médica, sabe-se que existe uma questão relacionada à flutuação hormonal (no caso, especificamente os hormônios ligados ao ovário, que são o estrogênio e a progesterona) que atuam em nível cerebral e mexem com neurotransmissores que possivelmente podem causar as alterações emocionais, principalmente.
“A comunidade científica ainda não cravou qual é o mecanismo que causa esses transtornos. A gente ainda tem muito o que estudar a respeito”, explica a médica.
De fato, é um assunto que vale o estudo, visto que a grande maioria das mulheres tem alguma alteração causada pela menstruação.
“A gente acredita que 80% das mulheres em fase reprodutiva tenha algum tipo de alteração relacionada ao ciclo menstrual, mas nem todas vão ter de uma forma muito intensa. Boa parte acaba tendo uma variação muito pequena. E cerca de 3% a 8% vão ter uma manifestação mais intensa desses sintomas.”
Veja também: Entenda as fases do ciclo menstrual
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico do transtorno disfórico pré-menstrual é clínico – sem a necessidade de realizar exames – e baseado na anamnese, que é a entrevista que o médico faz com a paciente. Para fechar o diagnóstico, segundo a dra. Lígia, os sintomas precisam estar relacionados ao período menstrual. Eles podem aparecer de 5 a 7 dias antes da menstruação e durar até 7 dias depois, no máximo.
No caso da síndrome pré-menstrual, os sintomas são de leves a moderados e o diagnóstico é feito quando a paciente tem de um a quatro sintomas. Já no transtorno disfórico pré-menstrual, os sintomas são mais graves, e é necessário ter pelo menos cinco, sendo um deles um sintoma psíquico, como humor deprimido, ansiedade intensa, sensação de forte tensão ou instabilidade afetiva.
O tratamento varia conforme a necessidade de cada paciente. “A gente pode tomar medidas não medicamentosas em casos que são mais leves, fazer mudanças de rotina no período pré-menstrual, você estudar o seu ciclo para saber quais são as fases em que você vai estar nesse período de mais sensibilidade, eventualmente evitar alguns possíveis gatilhos”, explica a médica.
Outras medidas, como psicoterapia, atividade física e mudanças na alimentação também podem ser aliadas no tratamento.
O tratamento medicamentoso pode ser feito com o uso de medicações para suspensão da menstruação, ansiolíticos ou antidepressivos. “Tudo é visto caso a caso e [vale] lembrar que se trata muitas vezes de casos que vão precisar de uma equipe multiprofissional”, completa.
Essa equipe pode contar, além do médico, com um nutricionista e um psicólogo, por exemplo. E as medidas comportamentais podem ser associadas ao uso de medicamentos para que o tratamento seja mais eficaz.
Veja também: O que a menstruação diz sobre a sua saúde
Não é normal viver com dores
Muitas pacientes “se acostumam” a ter uma série de sintomas desagradáveis porque eles são subestimados – às vezes, até por profissionais de saúde. Mas é importante destacarmos que viver com esses sintomas não é normal.
“A medicina, assim como outras parcelas da nossa sociedade, é composta por pessoas que têm influências culturais e valores, e a gente vive numa sociedade que é patriarcal, que é machista. Então, muitas vezes – eu não estou falando de homens médicos, ou de profissionais de saúde do sexo masculino, isso é geral – existe uma visão de que realmente é normal que as mulheres tenham dores”, afirma a ginecologista.
A especialista complementa: “É importante que a gente tenha mais divulgação de informação a respeito de todos esses processos que acontecem; é importante ter um treinamento mais qualificado desses profissionais através de educação permanente; e fazer com que as mulheres, as pessoas que menstruam, tenham maior grau de informação para que também levem esses questionamentos às pessoas que estão atendendo, para gerar demandas que muitas vezes vão fazer com que o profissional atue [nesse sentido]”.
Caso a pessoa se sinta desassistida de alguma forma, se achar que sua demanda não foi bem ouvida pelo profissional de saúde, é importante, se possível, buscar uma segunda opinião de outro profissional. A avaliação, de acordo com a médica, é importante para dar seguimento ao tratamento adequado, e inclusive, diferenciar o problema de outros diagnósticos – os sintomas do TDPM podem, por exemplo, ser confundidos com os sintomas de depressão. Por isso, é preciso ter uma avaliação bem conduzida.
Veja também: Fluxo menstrual: qual a quantidade normal?