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Quando a gravidez é considerada tardia?

Quem quer engravidar precisa estar atento à quantidade de óvulos no organismo e se programar para uma futura gestação. Entenda.
Publicado em 07/10/2022
Revisado em 07/10/2022

Quem quer engravidar precisa estar atento à quantidade de óvulos no organismo e se programar para uma futura gestação. Entenda.

 

Há algumas décadas, a gravidez em mulheres com mais de 25 anos já era considerada tardia. Anos depois, esse conceito mudou para 35 anos. Hoje, devido ao aumento da expectativa de vida, só é classificada como tardia a gravidez que acontece depois dos 40 anos.

Isso porque os óvulos embrionários funcionam em uma esquema de lote: as mulheres nascem com uma quantidade geneticamente determinada de aproximadamente 1 milhão de óvulos que vai sendo utilizada ao longo da vida. Depois da primeira menstruação, boa parte desse material genético é perdido e sobram, em média, 300 mil. O estoque vai diminuindo a cada mês e, aos 40 anos, restam apenas cerca de 8 mil.

“Chega um momento em que a quantidade de óvulos é tão pequena que a mulher começa a ter ciclos menstruais irregulares até que pare de vez de menstruar: é a menopausa”, explica Klissia Pires, vice-diretora científica da Associação Mulher Ciência e Reprodução Humana do Brasil (AMCR).

 

Chances de engravidar depois dos 40 anos sem ter entrado na menopausa

De acordo com a ginecologista, a maioria das mulheres entra na menopausa entre os 45 e os 55 anos. É considerada menopausa quando a mulher fica um ano inteiro sem menstruar e começa a sentir os sintomas mais comuns da queda dos hormônios reprodutivos: ondas de calor, secura vaginal, distúrbios do sono, entre outros.

Antes da chegada da menopausa, ainda há uma chance de engravidar, porém mais baixa. O auge da fertilidade feminina ocorre entre os 20 e os 30 anos, mas começa a declinar a partir dos 35. Depois dos 40, entre as mulheres que iniciam as tentativas de engravidar, apenas metade consegue.

“Em torno dos 45 anos, a chance de gravidez com óvulos próprios é de 1% a 3% por mês. Mesmo quando a mulher recorre a tratamentos de reprodução assistida, as chances são baixas. Aos 45 anos, a chance é de 3%. Um ano depois, cai para 0,5%”, alerta a dra. Klissia.

Veja também: Menopausa: quando a reposição hormonal é indicada?

 

Chances de engravidar depois de ter entrado na menopausa

Quando a menopausa dá as caras, a situação fica ainda mais complicada. Como é nesse momento que as mulheres esgotam todos os óvulos, em tese, elas não conseguem mais engravidar.

“Eu sempre falo que na medicina não existe ‘nunca’ nem ‘sempre’. Hipoteticamente, poderia ocorrer uma gravidez nessas condições, mas seria uma extrema exceção”, pontua a dra. Klissia.

A gravidez pós-menopausa, no entanto, tem mais chance de acontecer quando a mulher entra em menopausa precoce, que ocorre com algumas  mulheres antes dos 40 anos. Em torno de 2% das pacientes nessa condição conseguem engravidar, porque o ovário retoma a sua função temporariamente.

“Eu já vi isso no consultório. Tem muito a ver com a questão dos óvulos serem de mulheres jovens, antes dos 40 anos. Mas também é uma situação atípica”, detalha a ginecologista.

 

Congelamentos de óvulos

Para contornar as limitações impostas pela idade, existem algumas opções. A principal é o congelamento de óvulos ou vitrificação, procedimento adotado para preservar a fertilidade da mulher e conseguir maiores probabilidades de engravidar no futuro.

“O momento ideal para congelar os óvulos é entre os 30 e os 35 anos, já que a qualidade desse material está relacionada à idade. São necessários em torno de 15 óvulos para ter uma chance de 80% a 85% de gestação”, destaca a dra. Klissia.

Os óvulos, no entanto, são células frágeis, que podem se perder com o processo de  congelamento e descongelamento. Por isso, o ideal é que eles não fiquem guardados por muito tempo. Além disso, é importante lembrar que o congelamento ajuda a aumentar a probabilidade de uma gestação futura, mas não dá a certeza de que a paciente conseguirá engravidar.

Veja também: Como funciona o congelamento de óvulos

 

Outras alternativas

Além da vitrificação, uma das coisas que ela pode fazer é monitorar a reserva ovariana. Existem dois exames que podem ajudar nesse acompanhamento:

  • Exame do hormônio antimulleriano: o hormônio antimulleriano é o responsável por regular o desenvolvimento e crescimento dos folículos que envolvem os óvulos. O exame, feito a partir da coleta de sangue, é capaz de oferecer uma estimativa da quantidade de óvulos que a mulher ainda tem;
  • Contagem de folículos antrais: os folículos antrais são estruturas que podem se desenvolver em óvulos, mas ainda não iniciaram o seu crescimento. O exame, portanto, avalia a sua quantidade e, consequentemente, o potencial reprodutivo da paciente através de uma ultrassonografia endovaginal.

É importante ressaltar que, mesmo se os exames mostrarem que a paciente tem reservas altas, ela ainda pode ter dificuldade de engravidar, já que o risco de infertilidade aumenta com a idade.

Nesse sentido, há ainda a ovodação, isto é, a fecundação de óvulos de uma doadora com o sêmen do parceiro ou também de um doador. Nesse procedimento, as taxas de sucesso estão entre 55% e 65%, já que apenas mulheres saudáveis entre 18 e 34 anos podem doar.

No entanto, qualquer técnica de reprodução assistida é limitada a pacientes de até 50 anos. Para mulheres acima dessa idade, o médico é quem precisará avaliar a ausência de comorbidades que possam atrapalhar a gestação e explicar todos os riscos envolvidos.

 

Prós e contras de uma gravidez tardia

Para o bebê, os riscos são prematuridade, baixo peso ao nascer e alterações cromossômicas, principalmente a síndrome de Down. Para se ter uma ideia, em uma gravidez em torno dos 20 anos, um a cada 1.500 bebês nascidos tem síndrome de Down. Aos 45, essa proporção aumenta para um a cada 30.

Já para a mãe, os perigos estão relacionados aos problemas gestacionais, como diabetes gestacional e pré-eclâmpsia. Ela ainda pode desenvolver tromboembolismo, ter um acidente vascular cerebral ou precisar de uma cesárea.

“A mulher tem que colocar todos os exames em dia e controlar todas as doenças antes mesmo de começar a tentar, além de fazer visitas mais frequentes ao especialista”, recomenda a vice-diretora científica da AMCR.

Por outro lado, nem tudo são espinhos: quando se consegue ter sucesso na gestação, a mulher madura costuma estar em uma fase mais plena da vida e vivenciar melhor a maternidade.

Veja também: Teste ajuda a diagnosticar pré-eclâmpsia precocemente

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