Infertilidade, anemia e depressão são algumas condições associadas à doença inflamatória. Veja as principais complicações da endometriose.
A cada ciclo menstrual, o endométrio, tecido que reveste a parede interna do útero, se prepara para receber o óvulo depois de fertilizado. Se não houver fecundação, boa parte dele é eliminado durante a menstruação. A endometriose é uma alteração do organismo em que as células do endométrio não são totalmente expelidas durante a menstruação mas se movimentam em sentido oposto. Elas acabam por migrar para os ovários ou a cavidade abdominal, e lá voltam a se multiplicar e a descamar.
“Devido a essas condições, a endometriose pode trazer complicações inflamatórias, dor, e dificuldade para engravidar. Em algumas situações pode acometer outros órgãos que não são os reprodutivos, como o intestino, a bexiga (até a parte dos ureteres) e em algumas mulheres, sair da pélvis e chegar até o aparelho respiratório, chegar aos pulmões” explica a dra. Márcia Mendonça Carneiro, secretária da Comissão Nacional Especializada em Endometriose da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). “Ela causa lesões profundas que se estendem atrás do útero, do intestino, bexiga, na vagina, também nos ovários, causando cistos nos ovários, uma característica bem própria”, completa a dra. Helga Marquesini, ginecologista do hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
Entenda as principais complicações associadas à endometriose:
Infertilidade
A endometriose pode alterar a fertilidade das mulheres e também o processo de gravidez, além de influenciar no tamanho do bebê, de acordo com a dra. Márcia. Um dos mecanismos que contribuem para esse quadro é a liberação de substâncias inflamatórias, com aderências que podem causar distorções na anatomia de órgãos, causando, por exemplo, obstruções nas tubas uterinas.
“E quando essas mulheres engravidam, alguns estudos apontam que elas poderiam ter um risco maior de abortamento nos primeiros três meses da gravidez e até de gravidez ectópica, fora do útero. Mas os estudos não são definitivos e a recomendação é acompanhar de perto e observar cada caso. Existem também alguns estudos que mostram que mulheres com endometriose podem ter bebês menores do que o esperado, com outras complicações após o nascimento”, afirma a dra Márcia.
Intestino
A endometriose pode estar associada a questões intestinais e a dores relacionadas ao seu funcionamento. A dra. Márcia pontua também que em alguns casos que levam à cirurgia para tratamento das lesões intestinais causadas pela doença, pode-se haver a necessidade de usar a bolsa de colostomia.
Anemia
Pessoas com endometriose podem ter um aumento de fluxo menstrual, aumentando o risco de desenvolver anemia, uma condição em que a hemoglobina no sangue está abaixo do normal.
Depressão
Muito relacionada à dor causada pela doença, à demora para o diagnóstico e a tratamentos que não dão certo, a depressão é uma condição associada à endometriose. “Eu já tive casos de pacientes que não conseguiam fazer mais nada, não conseguiam cuidar dos filhos, não conseguiam trabalhar. Essa doença chega muitas vezes em um momento em que a mulher é jovem, está tomando decisões importantes na vida pessoal, profissional. Eu atendo mulheres de cerca de 30 anos em uma situação em que às vezes a doença faz com que ela perca o controle de toda essa situação”, diz a dra. Márcia.
Outro ponto relacionado a esse contexto é a piora na vida sexual. A dra. Helga explica que a doença pode causar diversos problemas na esfera sexual, desde a dor na região até a uma contratura da região pélvica: “O que acontece muitas vezes nessa dor da endometriose que acomete o fundo da vagina, o que é muito típico, é que há nódulos relacionados à doença nessa região atrás do útero. Isso tem muita associação com dor na profundidade da relação sexual. Porque quando você toca esses pontos, eles costumam ser muito dolorosos. Além disso, muitas mulheres desenvolvem uma contratura pélvica, causando dor na penetração, ali na entrada da vagina, onde não tem lesão de endometriose, mas elas estão com uma contratura muscular que se dá como uma resposta do corpo. O organismo aprende que quando ela tiver relação e for lá no fundo, vai doer, então de maneira inconsciente ele vai tentar protegê-la disso, o que muitas vezes dificulta ou impede a penetração”.
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Tratamento e alerta
Diante de tantas complicações da endometriose e de uma doença tão complexa, especialistas dizem que é preciso ter cuidado antes de partir para tratamentos mais radicais, como cirurgias. É preciso analisar caso a caso, cada contexto, para se chegar à melhor solução, e nem sempre o tratamento cirúrgico é o mais indicado ou mesmo resolve o problema.
A indicação é que a paciente com endometriose seja acompanhada por uma equipe multidisciplinar, com profissionais como especialistas em fertilidade, em dor e em intestino, por exemplo. Em geral, o tratamento é medicamentoso, sendo feito com anti-inflamatórios e anticoncepcionais, que irão bloquear a ação hormonal e fazer com que o endométrio cresça menos, ativando menos os focos de dor.
O alerta geral é de não normalização da dor. “Dor que incomoda, que está interferindo nas atividades habituais, não é normal. Precisa de avaliação médica”, diz a dra. Márcia. Assim como da importância do autocuidado e do olhar multidisciplinar: “Muitas vezes não é só um tratamento médico, de seguir um guia médico. É cuidar de uma maneira global e integrada de todos esses aspectos da doença”, conclui a dra. Helga.
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Sobre a autora: Tarima Nistal é jornalista e especialista em comunicação digital e marketing. Interessa-se por questões relacionadas à saúde das mulheres, alimentação saudável e meio ambiente.