Principais tipos de interação medicamentosa


Equipe do Portal Drauzio Varella postou em Medicamentos

cartelas de comprimidos de cores e tamanhos diferentes sobre a mesa. interação medicamentosa pode causar problemas de saúde graves

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Publicado em: 17 de janeiro de 2024

Revisado em: 18 de janeiro de 2024

As interações são comuns e podem até ser desejáveis para a potencializar certos tipos de medicamentos. Saiba mais sobre interação medicamentosa. 

 

Interações medicamentosas são modificações dos efeitos de um fármaco decorrentes do uso recente ou concomitante de outro fármaco, alimento, bebida ou algum agente químico ambiental. As de fármaco com fármaco são as mais recorrentes e também são as principais responsáveis pelos efeitos adversos mais graves.

“As interações medicamentosas mais comuns são as que ocorrem quando um fármaco, que é a substância ativa do medicamento, interfere na ação de outro, aumentando ou diminuindo seu efeito. Porém nem sempre essas interações são graves. Há níveis de risco definidos para as interações, sendo leves, moderadas, graves ou contraindicadas”, explica Roberta de Carvalho Rocha, coordenadora de farmácia no Hospital Regional de Cotia, em São Paulo.

“As graves e contraindicadas podem causar, por exemplo, insuficiência renal, hepática, convulsões, alterações cardíacas, de comportamento ou até agravamento do quadro clínico do paciente. Podem levar à morte. No entanto, outros tipos de interações têm também potencial de causar danos. Se um fármaco inibe a ação de outro, o paciente estará propenso a ter piora da condição clínica que o medicamento estaria tratando. Por isso que na prática farmacêutica temos sempre que consultar se os medicamentos interagem uns com os outros e qual o nível de risco dessas interações, para fornecermos orientações adequadas aos pacientes e até mesmo para intervirmos junto aos médicos, de forma a colaborar com a farmacoterapia segura e efetiva”, explica Roberta.

Edvânia Silva, farmacêutica sênior do Hospital 9 de Julho, em São Paulo, explica quais medicamentos são mais propensos a interagir com outros. “Anticonvulsivantes e/ou antiepiléticos [medicamentos para controlar crises convulsivas ou epiléticas], anti-inflamatórios, antirretrovirais [medicamentos para tratar HIV], anticoagulantes [que tratam ou previnem a formação de trombos], antidepressivos [medicamentos para depressão], ansiolíticos [medicamentos para ansiedade e para ajudar a dormir] são as principais classes envolvidas em interações.”

“Mas é bom deixar claro que as interações podem ser tanto indesejadas quanto desejadas. Isso mesmo, desejadas. É possível utilizar interações medicamentosas em benefício do paciente, principalmente para melhorar a eficácia terapêutica de um ou mais medicamentos. Já as indesejadas são aquelas que reduzem ou anulam a ação de um ou mais medicamentos ou que causam toxicidade ao usuário”, diz Edvânia seguindo a mesma linha de Roberta.

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As duas farmacêuticas também concordam que é preciso uma atenção especial à população mais suscetível aos efeitos da interação medicamentosa. “Os idosos são os que possuem risco aumentado de efeitos adversos dos medicamentos em geral, e que podem ter consequências mais graves em função de interações medicamentosas, pois seus sistemas de metabolismo e eliminação dos medicamentos podem estar mais fracos e eles podem acumular uma quantidade maior de algumas substâncias, podendo aumentar dessa maneira o risco. As crianças e gestantes também são alvo de preocupações, pois temos menos informações e estudos com medicamentos neste público”, reflete Roberta.

No entanto, o mais importante, o mais imprescindível, está na anamnese, a primeira entrevista do profissional de saúde com o paciente. “Médicos, e também dentistas, só devem receitar medicamentos após conhecerem o histórico clínico do paciente, os medicamentos em uso, hábitos alimentares, suplementos nutricionais, consumo de álcool, cigarro e demais substâncias químicas. Com essas informações e uso de base de dados científicas é possível identificar possíveis interações e avaliar a relação risco-benefício antes do início de uso dos medicamentos”, e é assim que Edvânia vai pesando prós e contras em sua rotina no Hospital 9 de Julho.

É nesse dia a dia, geração após geração, que vão sendo criadas estratégias/protocolos usados para minimizar os riscos de interação medicamentosa, ou pelo menos diminuir sua gravidade. Edvânia explica que “ferramentas de apoio à decisão clínica, base de dados científicos e, mais recentemente, inteligência artificial, associados à análise clínica dos farmacêuticos são pontos cruciais em um ambiente hospitalar para identificar, minimizar, monitorar ou evitar as interações indesejadas”. A partir daí prescreve-se o menor número de medicamentos, com as doses mais baixas e pelo menor tempo possível. Assim determinam-se os efeitos, desejáveis e indesejáveis, de todos os medicamentos ingeridos.

Em um hospital, com tudo documentado, controlado e acompanhado, fica mais fácil saber o que está acontecendo. Mas é possível ter uma ideia do quanto já se sabe sobre interação medicamentosa? Quais campos ainda são misteriosos sobre o assunto? Edvânia rapidamente responde que “as interações medicamentosas possuem mecanismos bem estabelecidos de acordo com a estrutura química, absorção, distribuição, ação, eliminação e receptores e, portanto, a maioria delas já é previsível. O que não sabemos são as interações com substâncias/drogas ilícitas, e que frequentemente aparecem com variações químicas”.

“Já para o ambiente domiciliar, é importante não utilizar medicamentos sem receita médica, a automedicação, e não fazer uso de bebidas alcoólicas enquanto estiver em tratamento medicamentoso”, diz Edvânia, preocupada com a falta de controle que pode acontecer em casa. “É que a polifarmácia – o uso de quatro ou mais medicamentos ao mesmo tempo – é atualmente a principal situação de risco, pois com o aumento da expectativa de vida de população e aumento de doenças crônicas, o uso de medicamentos pela população em geral, tem aumentado expressivamente e por consequência aumenta o número de interações medicamentosas.”

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Sobre o autor: Dafne Sampaio é jornalista e analista de mídias sociais. Interessa-se por cultura, ciências, saúde, comunicação e, acima de tudo, pessoas.

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