É possível se automedicar com segurança?

Se feita de forma responsável e apenas em casos leves, a automedicação pode trazer benefícios. Saiba como fazê-la de forma segura.

Todo e qualquer remédio deve ser administrado com responsabilidade. Veja o que é preciso saber antes de escolher o melhor medicamento para o seu caso.

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Publicado em: 27 de julho de 2022

Revisado em: 27 de julho de 2022

Todo e qualquer remédio deve ser administrado com responsabilidade. Veja o que é preciso saber antes de escolher o melhor medicamento para o seu caso.

 

Quem nunca acordou com dor de cabeça e tomou um analgésico? Ou ainda sentiu uma azia mais intensa e recorreu ao antiácido? A automedicação é um hábito comum entre os brasileiros, preconizado pela própria Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma forma de autocuidado. Mas atenção: ela exige algumas precauções importantes.

 

Automedicação x autoprescrição

Você já deve ter reparado que os medicamentos isentos de prescrição médica, os MIPs, estão disponíveis nas gôndolas e prateleiras das farmácias, diferentemente daqueles com tarja preta ou vermelha, isto é, que exigem receita e ficam atrás dos balcões.

Essa disposição não é mera coincidência: os primeiros estão mais acessíveis, porque são seguros o suficiente para serem comprados livremente pela população sem a necessidade da prescrição médica; já os segundos ficam mais isolados, pois exigem a orientação e a supervisão de um especialista para o seu uso.

Quem define se o medicamento precisará ou não de prescrição é a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Atualmente, são sete os critérios para a classificação de um MIP:

  1. tempo de comercialização;
  2. segurança;
  3. sintomas identificáveis;
  4. utilização por curto período de tempo;
  5. ser manejável pelo paciente;
  6. apresentar baixo potencial de risco;
  7. não apresentar potencial de causar dependência.

É a partir daí que é possível diferenciar os conceitos de automedicação e autoprescrição, um equívoco comum. 

“Quando eu pratico a automedicação, estou fazendo o uso de um MIP de acordo com todas as orientações presentes na bula e na rotulagem. Já quando eu pratico a autoprescrição, faço uso de um medicamento com tarja, muitas vezes por indicação de um vizinho ou de uma tia. E é aí que mora o perigo”, explica a dra. Marli Sileci, vice-presidente executiva da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para o Autocuidado em Saúde (Acessa).

Mesmo no caso dos medicamentos isentos de prescrição, o uso não pode ser feito de forma indiscriminada. Não adianta, por exemplo, usar antidiarreicos para diarreias infecciosas ou antibióticos para amidalites causadas por vírus. 

Veja também: Significado das tarjas de medicamentos | Coluna #72

 

Dicas de segurança

Para utilizar um medicamento sem prescrição de forma responsável e efetiva, existem alguns passos a serem seguidos. A dra. Marli enumera:

 

1. Identifique os sintomas

“A primeira coisa é identificar o sintoma e, só então, verificar se existe um medicamento livre para a queixa em questão. Se não for um sintoma autoidentificável, é preciso procurar um médico”, ressalta.

Em geral, os problemas que podem ser tratados com MIPs são leves e passageiros, como dor de cabeça, azia, febre, tosse, prisão de ventre, aftas, dor de garganta, assaduras, hemorroidas e congestão nasal.

Na hora de comprar, relate o sintoma para o farmacêutico, pois ele poderá te orientar quanto à melhor opção.

 

2. Verifique se há alguma contraindicação para o seu caso

“Ainda que isento de prescrição, é preciso checar se aquele medicamento é indicado para o paciente, porque pode ser que alguma outra condição de saúde o impeça de utilizá-lo”, alerta a dra. Marli.

Esse tipo de informação está presente, obrigatoriamente, na bula e no rótulo do remédio. É lá que estão outros aspectos importantes que demandam atenção, como veremos a seguir.

 

3. Respeite as orientações presentes na bula e no rótulo

Ninguém gosta de ler bula de remédio, isso é um fato. Mas não é preciso perder tempo com todas aquelas letrinhas miúdas. Localizar as informações abaixo já é o suficiente:

  • Composição do produto: é importante saber quais são os componentes do medicamento para evitar tomar uma substância ao qual é alérgico;
  • Interações: se estiver tomando outros medicamentos, é essencial entender o efeito da interação entre eles, pois a ação de um ou de ambos pode sair prejudicada;
  • Modo de uso: além disso, é fundamental seguir as orientações sobre o uso e a dosagem, já que alguns medicamentos precisam ser tomados apenas em jejum ou com o estômago cheio para atingirem a sua eficácia ideal;
  • Efeitos colaterais: outra dica é conhecer as possíveis consequências do uso da medicação, pois, muitas vezes, ela pode ser suspensa pela intensidade dos efeitos colaterais;
  • Armazenamento: não se esqueça de verificar ainda se o medicamento precisa ser conservado, por exemplo, na geladeira, a fim de não perder o seu princípio ativo.

Já no rótulo (a parte de fora da caixa), estão informações mais gerais, como o prazo de validade, a indicação do princípio ativo, a classe terapêutica do medicamento e também as contraindicações e condições de conservação.

Veja também: Interação medicamentosa em 4 perguntas | Leandro Paez

 

4. Procure um médico se os sintomas persistirem

“Sintomas que podem ser tratados com MIPs permanecem apenas por um curto período de tempo. Variam de pessoa para pessoa, mas são sempre curtos. Eu não posso, por exemplo, tomar um analgésico por dois meses. Se os sintomas persistirem, busque ajuda médica”, destaca a dra. Marli.

Outras complicações também podem indicar a hora de procurar um especialista:

  • quando os sintomas pioram;
  • quando aparecem dores agudas;
  • quando o paciente tenta um ou mais remédios sem resultados;
  • quando surgem efeitos colaterais indesejados;
  • quando o paciente acha que o quadro é grave; ou
  • quando o paciente tem transtornos psicológicos.

Gestantes, lactantes, bebês e crianças precisam de um acompanhamento mais de perto em relação à persistência dos sintomas.

 

5. Busque fontes confiáveis

Por fim, em tempos de fake news e indicações de medicamentos sem bases científicas, a recomendação é ir atrás de fontes seguras.

“A população tem que estar muito bem empoderada de informações para fugir das mensagens de WhatsApp e das fake news”, pontua a vice-presidente da Acessa.

Entre as fontes de confiança, estão órgãos oficiais, como a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Ministério da Saúde e a Anvisa. Inclusive, no site da Anvisa, está disponível a Lista de Medicamentos Isentos de Prescrição, a LMIP, com todos os MIPs comercializados no Brasil.

Veja também: Os riscos da automedicação na pandemia

 

Benefícios da automedicação responsável

O uso racional de medicamentos é comprovadamente benéfico tanto para o paciente quanto para a sociedade em geral. Um estudo publicado no Jornal Brasileiro de Economia da Saúde em 2017 mostrou que a cada R$ 1,00 investido em MIPs, há uma economia de até R$ 7,00 para o Sistema Único de Saúde (SUS).

“Vamos supor que hoje eu acordei com uma azia muito forte. Faço uso de um antiácido que custa barato. O que acontece? O meu sintoma é aliviado, eu não falto no trabalho e não preciso ir a um pronto-socorro ou a um consultório médico, sobrecarregando ainda mais as unidades de atendimento”, ilustra a dra. Marli.

Sendo assim, além de otimizar recursos, o paciente tem o conforto de tratar em casa um sintoma já conhecido e ainda expressa o seu direito de atuar sobre a própria saúde.

Por outro lado, o oposto disso – o uso irracional – pode levar a problemas de saúde e ao desperdício de recursos financeiros. Alguns dos riscos da má administração de medicamentos para o organismo são: 

  • Intoxicação;
  • Alívio dos sintomas, porém com atraso do diagnóstico correto da doença;
  • Reação alérgica;
  • Dependência;
  • Resistência aos efeitos do medicamento;
  • Efeitos colaterais fortes;
  • Agravamento do quadro.

Lembre-se: a automedicação exige responsabilidade.

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