Mais da metade dos pacientes com síndrome do intestino irritável (SII) sofrem com ansiedade e cerca de 32% têm depressão. Esses foram os achados de uma pesquisa realizada pela Apsen e pelo Instituto Inception, em parceria com o Núcleo de Avaliação Funcional do Aparelho Digestivo (Nafad). O levantamento foi feito com 667 brasileiros de todas as regiões do país e mostra que há uma relação direta entre o intestino e a saúde mental.
Essa relação tem sido cada vez mais estudada pela ciência nas últimas décadas. O que já se sabe é que existe um eixo entre o intestino e o cérebro baseado na comunicação bidirecional. A ligação ocorre através da ação do nervo vago, do sistema imunológico e de metabólitos produzidos por bactérias intestinais. Na prática, isso quer dizer que alterações na microbiota intestinal (as disbioses) podem agir como um gatilho para os distúrbios psiquiátricos — e o contrário também.
“Imagine que o nosso intestino tenha uma antena parabólica, enviando informações o tempo todo para o sistema nervoso. A depender da emoção, do valor ou do momento de vida que cada um tenha, vai haver uma reação emocional a isso. Essa reação emocional vai mandar de novo, pelo sistema bidirecional, mais informações para o intestino. E o intestino pode ficar mais sensível. Qualquer coisa que o toque, ele vai ficar com alta sensibilidade, vigilante e hiperalerta”, ilustrou Fábio Teixeira, gastroenterologista, durante o lançamento da campanha Pode Ser SII, uma iniciativa da Apsen.
Como consequência, o paciente pode sofrer com dores abdominais, gases, diarreia e/ou prisão de ventre. No entanto, no Brasil, o diagnóstico da doença pode demorar até 14 meses, sendo que em 46% das vezes é necessário consultar mais de um especialista. Além disso, a síndrome é responsável por afastamentos no trabalho, o que influencia o humor e o estado de saúde mental do paciente.
“O valor que o paciente dá para aquele sintoma depende do grau de ansiedade, do grau de depressão, de como ele está vivendo naquele momento”, acrescentou o especialista.
Em 2021, o Estudo Nacional dos EUA, o PLOS ONE, analisou dados de mais de 5.600 adultos e observou que os pacientes com SII apresentaram taxas mais altas de transtorno de ansiedade, transtornos de humor e distúrbios do sono. Em 2023, uma pesquisa da Universidade de Missouri com mais de 1,2 milhão de internações hospitalares revelou que 38% dos pacientes com SII tinham ansiedade e 27%, depressão — taxas duas vezes maiores do que na população em geral.
Como tratar a SII junto dos transtornos psicológicos?
A síndrome do intestino irritável é um distúrbio em que não há lesões detectáveis no intestino, mas, mesmo assim, o órgão não funciona normalmente. Ela é caracterizada por dor ou desconforto abdominal recorrente, diarreia, prisão de ventre ou alternância entre os dois. As causas são multifatoriais, podendo incluir fatores genéticos, emocionais e de estilo de vida.
“A dor precisa ser atacada em toda a sua expressividade emocional. Por quê? Porque nós queremos que o paciente seja atendido de uma forma global. Só tirar a diarreia do paciente em algum momento não vai mudar a sua história natural de vida. O ideal é que ele tenha um tratamento muito mais integral, multifacetado e com equipe multidisciplinar”, destacou o dr. Fábio.
Para isso, é importante que o médico valorize e respeite as queixas do indivíduo com a síndrome, entendendo também as suas relações sociais e questões de saúde mental.
“Cada vez mais os pacientes precisam usar neuromoduladores para melhorar os sintomas. Não adianta só dar um remédio para a diarreia, se eu não controlar a dor. Não adianta eu controlar a dor, se eu não controlo o sono. Não adianta eu controlar o sono, se eu não melhorar a angústia. Não adianta eu melhorar a angústia, se eu não olhar para o pânico desse paciente. Nós temos um fenótipo clínico e um fenótipo psicológico que precisa de atenção especial”, afirmou.
O tratamento para a SII pode ainda incluir mudanças na dieta, manejo do estresse, uso de medicamentos e psicoterapia. O especialista mais indicado para identificar e tratar a doença é o gastroenterologista.
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